Bolsonaro diz a apoiador que não pode “passar por cima” do STF
Foto: Gabriela Biló / Estadão
Um dia após ameaçar descumprir ordens do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro adotou um tom mais cauteloso nesta sexta-feira, 29, ao tratar das decisões da Corte. Ao ser abordado por um apoiador que reclamou de estar “sofrendo” por causa do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), Bolsonaro respondeu com outra pergunta: “Se coloque no meu lugar. Passa por cima do Supremo?”, em uma referência ao entendimento do tribunal de que Estados e municípios têm autonomia para decretar medidas de isolamento social.
A declaração, em frente ao Palácio do Alvorada, ocorre após Bolsonaro desafiar a Corte ao dizer que não toleraria mais decisões monocráticas de ministros. A ameaça foi uma reação à operação da PF que fechou o cerco contra o chamado “gabinete do ódio”, grupo de assessores, comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), suspeito de disseminar fake news e ataques a autoridades públicas. A ação foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Um dos alvos da operação de quarta, Winston Lima, conhecido como Comandante Winston, esteve entre os apoiadores que encontraram Bolsonaro na manhã de hoje. Ele agradeceu as declarações do presidente na véspera, contra o Supremo e em favor dos investigados. Bolsonaro, no entanto, apenas o ouviu e não fez qualquer comentário.
Após a declaração de Bolsonaro sobre o Supremo, o mesmo apoiador que reclamava de Helder, adversário político do presidente, afirmou que queria uma “atenção da Polícia Federal” para retirar o “governador de lá”. “A PF está sempre pronta para dar uma força, para quem estiver aí, suspeito”, respondeu Bolsonaro.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) já pediu autorização ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para investigar se houve irresponsabilidades em compra feita pelo governo do Pará de 400 respiradores. Os produtos chegaram da China ao Estado com problemas e não foram usados. Helder nega irregularidades.
Na terça-feira, 26, Bolsonaro parabenizou a Polícia Federal por operação de busca e apreensão em endereços ligados ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. A ação apura indícios de desvio de recursos em compras para enfrentamento da covid-19.
Uma entrevista da deputada federal Carla Zambelli, que atua como espécie de auxiliar informal do governo, levantou suspeitas de que ela possa ter obtido informações privilegiadas sobre investigações contra governadores. No dia anterior a ação em endereços de Witzel, ela afirmou, à Rádio Gaúcha, que a PF estava prestes a deflagrar operações para apurar irregularidades cometidas por governadores durante a pandemia.
A pedido da PGR, e baseado em declarações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, o Supremo abriu inquérito para investigar, entre outros pontos, se Bolsonaro tentou interferir na PF.
Vídeo divulgado após decisão do ministro Celso de Mello, relator do inquérito, mostra Bolsonaro cobrando mudanças no governo e fazendo pressão sobre Moro e os demais auxiliares sob a alegação de que não vai esperar “foder a minha família toda”. Bolsonaro nega que tentava interferir na corporação e alega que pedia mudanças na equipe que cuida da sua segurança pessoal, área sob o guarda-chuva do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).