Bolsonaro já foi criticado pelos 25 maiores órgãos da mídia estrangeira
Foto: Sérgio Lima/Poder360
Segundo monitoramento realizado pelo instituto de pesquisas Morning Consult, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro registrou queda de 17 pontos percentuais desde 17 de março, fechando o ciclo de 2 meses de pandemia com 41% de apoio popular, na 3ª feira passada (19.mai.2020). No mesmo período, os índices de aprovação do presidente Donald Trump (43%) permaneceram estáveis, com alta de 1 ponto percentual. Eis a íntegra.
Esses números matizam 1 sentimento que a mídia internacional já ecoava, mesmo antes de a OMS (Organização Mundial da Saúde) ter declarado a pandemia do novo coronavírus, em 11 de março.
De lá para cá, pelo menos 25 veículos estrangeiros criticaram a atuação de Bolsonaro por meio de artigos de opinião, editoriais e reportagens. E, nessa onda de repercussões negativas, o posicionamento de especialistas em saúde e de jornalistas sobre a gestão do Planalto ante a crise tem se mantido praticamente uníssono até aqui: falta maior comprometimento do mandatário brasileiro com a ciência.
Contudo, Bolsonaro segue minimizando a crescente impopularidade de seu governo. “A imprensa mundial é de esquerda”, disparou na 2ª feira (25.mai.2020). O Poder360 fez uma lista sobre o que os principais jornais, revistas, agências de notícias e emissoras de TV do mundo têm comentado sobre o estado atual da pandemia no Brasil. Procurada, a Presidência da República disse que não vai se manifestar.
O New York Times, maior jornal impresso norte-americano, citou líderes femininas, como Angela Merkel (Alemanha) e Jacinda Ardern (Nova Zelândia), como exemplos de enfrentamento à pandemia. “Homens como Boris Johnson, Donald Trump e Jair Bolsonaro têm uma forma passiva, fraca ou ausente de comandar”, diz o texto.
Em março, o jornal havia publicado (em português, para assinantes) artigo em que Gaspard Estrada, diretor executivo do Observatório Político da América Latina e Caribe da universidade SciencesPo, diz que Jair Bolsonaro representa 1 risco para a democracia brasileira.
Em 9 de maio, a prestigiosa revista médica britânica The Lancet publicou editorial chamando Bolsonaro de “a maior ameaça” à saúde pública no Brasil e concluindo que “ele precisa mudar drasticamente o curso ou deve ser o próximo” a deixar o cargo. No ano passado, a mesma publicação havia dito que as politicas de Bolsonaro colocavam em risco a vida da população indígena do país.
Em Portugal, o jornal Público deu destaque ao vídeo repleto de palavrões, divulgado na última 6ª feira (22.mai) depois de decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello. Em seu texto, a publicação portuguesa observou que o governo brasileiro tem sido “tomado por rivalidades e paranóias”.
Em editorial, o periódico espanhol El País classificou a administração de Bolsonaro como a pior entre todos os líderes sul-americanos. “E os riscos são gigantescos. As declarações oficiais –mais ou menos forçadas– de que possui recursos suficientes para combater o tsunami são difíceis de acreditar”, afirma o artigo.
O principal jornal impresso da França publicou editorial, em 20 de maio, em que chama a atenção para o número de mortos pela covid-19 no Brasil e critica a condução do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia.
O embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, enviou uma carta ao jornal acusando o texto de ser “profundamente ofensivo”. Bolsonaro “nunca negou a existência da covid-19”, diz o embaixador. “Tentou evitar que a histeria e o pânico tomassem conta da população e defendeu a aplicação do isolamento vertical” no país. Leia a carta.
Antes, a publicação mensal Le Monde diplomatique havia lançado uma capa em que o presidente aparece montado sobre a cepa do novo coronavírus, como se estivesse num rodeio.
Ainda na França, o jornal Le Parisien publicou artigo em que acusa o presidente Bolsonaro de ser 1 “ditador incompetente”. “No centro de uma investigação por interferência, Jair Bolsonaro estimula aglomerações de seus apoiadores”, diz o texto da publicação.
O jornal britânico Financial Times, alinhado ao liberalismo econômico, publicou artigo em que o colunista Gideon Rachman culpa o presidente pela escalada de casos de covid-19 no Brasil. “O novo coronavírus atingiu o país relativamente tarde. Mas o Brasil tem a 2ª maior taxa de infecção do mundo”, escreveu Rachman. O artigo ganhou mais de 20.000 menções no Twitter na 2ª feira (25.mai), tornando-se 1 dos assuntos mais comentados na rede social.
A revista britânica publicou texto em que afirma que o presidente Jair Bolsonaro teria “ciúmes da popularidade” do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. O artigo sugere, ainda, que Bolsonaro decidiu “se isolar de maneira errada”, ignorando as ameaças do novo coronavírus ao sistema de saúde. Leia reportagem do Poder360 sobre a publicação.
O Telegraph, jornal britânico de viés conservador, disse que Bolsonaro tem potencial para se tornar conhecido como “o homem que quebrou o Brasil”. “A estratégia de Bolsonaro para enfrentar a pandemia não tem precedentes. Enquanto outros líderes minimizavam a gravidade, o brasileiro dobrava sua aposta numa mensagem de negação à pandemia, mesmo quando Trump começou a apoiar medidas de confinamento.”
Para o neoliberal Guardian, Bolsonaro é 1 “perigo para os brasileiros”. “Curso imprudente do presidente pode fazer a diferença entre dezenas ou centenas de milhares de mortes.”
Em 22 de maio, a publicação disse que o Brasil “não parece mais atraente para investidores: uma resposta desastrada à pandemia transformou o país no foco do vírus que cresce de forma mais acelerada no mundo”, afirma o texto.
Antes, a publicação havia reportado sobre a alta taxa de mortalidade entre profissionais de saúde no país. “Quase 40% do total de enfermeiros infectados no mundo são brasileiros”, informou.
A revista norte-americana Time publicou artigo em que afirma que a resposta tardia de Bolsonaro à crise causa surpresa, mesmo em relação a outros governantes que também menosprezam o impacto da pandemia. Cita como exemplo o passeio de jet ski do presidente no dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 10.000 mortes.
A revista alemã Der Spiegel acusou Bolsonaro de ter perdido a noção da realidade. “Não é coincidência que EUA, Rússia, Reino Unido e Brasil sejam os países com o maior número de infecções por coronavírus. Todos eles são governados por homens que vêem a realidade como opcional”, diz o texto (em alemão, para assinantes).
A também alemã estação pública de rádio Deutsche Welle afirmou que o Brasil está a caminho de uma catástrofe: “O presidente Jair Bolsonaro se recusou a levar a pandemia de coronavírus a sério, apesar de mais de 17.500 brasileiros já terem morrido com o vírus. E o número de casos continua a crescer exponencialmente”.
Reportagem da revista norte-americana destacou que a demora de Bolsonaro para adotar medidas de contenção à pandemia fez o número de casos de covid-19 quadruplicar no Brasil.
“O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está promovendo o uso da hidroxicloroquina, 1 remédio contra a malária, para tratar o coronavírus, apesar do alerta da comunidade médica de que poderia causar sérios efeitos colaterais”, disse a repórter Lucia Newman, da emissora AlJazeera, a maior emissora de televisão jornalística do Catar e a mais importante rede de televisão do mundo árabe. Assista.
“Cético sobre a seriedade da covid-19, Bolsonaro encheu seu Ministério da Saúde com oficiais militares depois da renúncia de 2 ministros. O Brasil tem o 3º maior número de infecções no mundo e seus hospitais estão lutando para lidar com isso.”
A reação do presidente brasileiro à pandemia reflete o manual de Trump: ambos minimizam manifestações com pessoas aglomeradas e promovem remédios cuja eficácia contra a covid-19 não foi comprovada. É o que publicou o Business Insider, site de notícias sobre negócios e tecnologia, em 20 de maio.
Mesmo crítico às medidas de distanciamento social adotadas por alguns governadores, o jornal conservador Wall Street Journal disse em 4 de maio que a escassez de testes rápidos para diagnosticar a covid-19 e o “descaso do presidente” Jair Bolsonaro podem “devastar o país”.
“Com o Brasil emergindo como 1 dos países mais infectados do mundo, o presidente Jair Bolsonaro está desviando toda a responsabilidade pela crise do coronavírus, culpando prefeitos, governadores, 1 ministro da Saúde e a mídia”, escreveu a agência de notícias Associated Press, nesta 3ª feira (26.mai).
Ao reportar declaração em que o presidente afirma que atletas têm menores chances de sofrer com a doença, a revista canadense Vice observou que os comentários de Bolsonaro fazem parte de uma série de respostas “desconcertantes e imprudentes” à crise do novo coronavírus.
“Ele já minimizou a covid-19 como ‘uma gripezinha’ e, no mês passado, demitiu Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde que defendia medidas de distanciamento social”, publicou.
Em reportagem sobre a divulgação de vídeo em que Bolsonaro aparece xingando governadores, o periódico espanhol El Mundo diz o seguinte: “O presidente também é citado em investigação sobre o assassinato de Marielle Franco. Um dos porteiros do condomínio em que mora Bolsonaro já chegou a dizer à polícia que 1 dos acusados de matar a ex-vereadora pediu para visitar a casa do presidente no mesmo dia do crime. A PF abriu inquérito para ouvir a testemunha, que acabou voltando atrás em seu depoimento inicial”.
O jornal China Daily, controlado pelo Partido Comunista chinês, comentou sobre a decisão de Washington para barrar a entrada de voos do Brasil nos EUA. “A proibição de viagens foi 1 golpe para o presidente Jair Bolsonaro, que tem seguido o exemplo do presidente dos EUA, Donald Trump, ao abordar a pandemia, criticando medidas de distanciamento social e divulgando drogas sem resultados comprovados para o tratamento e a prevenção da covid-19.”
O site de extrema-direita Breitbart, outrora comandado por Steve Bannon, também publicou artigo crítico à condução da crise por Jair Bolsonaro.
“Bolsonaro é talvez o único grande líder mundial aparentemente despreocupado com o vírus, parecendo-se muito mais preocupado com o impacto econômico do que com o número de vítimas fatais, que não para de crescer”, diz o texto da publicação.
A emissora norte-americana CNN categorizou as recomendações de tratamento para covid-19, proferidas por Bolsonaro, como “contraditórias” e “perigosas”.
“Drogas antimaláricas como cloroquina e hidroxicloroquina não têm benefício comprovado contra o coronavírus –na verdade, alguns especialistas dizem que elas podem até te fazer mau”, alertou o correspondente Nick Walsh.