Bolsonaro já instila pânico no mercado financeiro

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Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O mercado financeiro acusou o golpe de mais uma saída de ministro do governo Bolsonaro em pleno ápice da crise causada pela pandemia do coronavírus no Brasil. O dólar, que havia fechado em queda na véspera, voltou a subir nesta sexta-feira, 15, e bateu nos 5,86 reais. A bolsa de valores brasileira chegou a cair 2%. O pedido de demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich, que sofria pressão do presidente da República para apoiar o uso da cloroquina em pacientes com sintomas leves de Covid-19, elevou o risco de se investir no país, devido à instabilidade política.

Todo esse agravamento do risco-Brasil já fez o dólar acumular alta de 45% neste ano, levando o real a ter a maior desvalorização entre as principais moedas do mundo. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, tem perda acumulada de 32% em 2020. Além do ambiente de incerteza global, que sugere a busca de mercados mais seguros para investir, e da queda de juros no Brasil, pesa sobre o país a insegurança política.

Na visão dos investidores, o Brasil está sendo comandado por um presidente que quer impor as suas convicções, sem embasamento científico, como um governo ditatorial, e em uma situação de completa desgovernança. “Essa atitude do governo sugere um voo completamente cego, sem piloto, e provoca uma insegurança gigantesca. Vamos seguir num movimento de aversão ao risco por muito tempo aqui no Brasil. Vai ser difícil o câmbio voltar a ser negociado num patamar mais baixo, e a bolsa, num mais alto, porque o risco do país está muito elevado”, explica Fernanda Consorte, economista-chefe e estrategista de câmbio do banco Ourinvest. Já Rodrigo Moliterno, economista e sócio da Veedha Investimentos, vai além: “As atitudes de Bolsonaro demonstram imposição de suas vontades, sem ouvir as opiniões de especialistas e técnicos de seu governo. Do jeito que ele atua, está sendo autoritário, levando ao extremo, como um ditador. E essa imposição, para o mercado, é risco político”.

A aversão a risco traz graves consequências futuras para a continuidade da agenda estrutural do país. Quando voltar a se falar em privatizações, os investidores estrangeiros de longo prazo, que investem capital nos projetos de infraestrutura e na indústria, tendem a postergar, podendo até cancelar, os aportes em países com risco político elevado, preferindo mercados emergentes com ambientes mais seguros. O que é ruim para o Brasil que depende de capital externo para financiar a economia. A insegurança institucional, além de afugentar investidores, impede um retorno mais rápido do investimento e atrasa ainda mais a retomada da economia brasileira pós-Covid-19.

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