Bolsonaro se expõe nas ruas em busca de apoio
Foto: Pedro Ladeira – 12.mai.20/Folhapress
Em busca de apoio popular diante das crises política e sanitária, o presidente Jair Bolsonaro aumentou sua exposição ao público, o que obrigou o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) a reforçar a proteção pessoal do chefe do Executivo e a elevar a rigidez no cumprimento de protocolos de segurança.
Além de aumentar o controle no acesso ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, a equipe tem testado a utilização de drones e feito modificações nos procedimentos adotados no Palácio do Planalto, que passou a ser usado como camarote do presidente.
Apesar dos riscos de contaminação pelo novo coronavírus, Bolsonaro tem feito questão de se aproximar de aglomerações, adotou como novo hábito aparições na rampa do Planalto e tem feito caminhadas na residência oficial, quando se aproxima da área de visitantes.
A maior exposição tem preocupado os integrantes da estrutura responsável pela segurança presidencial.
Além do comportamento intempestivo de Bolsonaro, a equipe do presidente identificou o aumento do clima de animosidade ao governo nas redes sociais e de manifestações pontuais contra a atual gestão na frente tanto do Planalto como do Alvorada.
Durante a semana, Bolsonaro criou uma rotina de, no meio do expediente, ir ao topo da rampa do Planalto para acenar a apoiadores que se concentram na Praça dos Três Poderes. Questionado em uma destas ocasiões, respondeu que estava apenas tomando um ar, embora estivesse cercado por cinegrafista e fotógrafo oficiais.
Nos finais de semana, Bolsonaro aparece no local para estimular a militância que grita palavras de apoio a ele, mas contra o Legislativo, o STF (Supremo Tribunal Federal) e governadores.
Nestes momentos, a uma altura de 4 metros do chão, Bolsonaro tem se superexposto diante da praça que mede 120 metros por 220 metros. Para protegê-lo no novo cenário, a segurança presidencial tem se dividido em três grupos.
O primeiro permanece próximo ao presidente, inclusive com uma pasta que, em caso de necessidade, pode ser usada como escudo. O segundo fica um pouco mais afastado, nas imediações. E, por fim, um terceiro costuma se infiltrar entre os manifestantes. Não é raro Bolsonaro descer a rampa e se aproximar da grade de contenção para cumprimentar o público.
Em conversas reservadas, integrantes do GSI não escondem a preocupação com a segurança do presidente em suas exposições na rampa porque têm a informação de que, entre os manifestantes, há pessoas armadas.
Há pelo menos três acampamentos de apoiadores nas imediações do Planalto. Menor, o Acampamento Patriótico está instalado na Praça dos Três Poderes.
No estacionamento do Ministério da Justiça está o 300 do Brasil. A líder Sara Winter admitiu, em entrevista à Folha, que há pessoas armadas, mas afirmou que as armas servem apenas para proteção do acampamento, que conta com a presença constante de uma viatura da Polícia Militar. Um pouco mais distante, na frente do Ministério da Agricultura, há um terceiro grupo.
Na quarta-feira (20), a Praça dos Três Poderes recebeu um grupo de manifestantes contrários a Bolsonaro, que pediam a saída do presidente. Apesar do amplo espaço diante do Planalto, o prédio alto mais próximo fica a pouco mais de 100 metros de distância, o que dificulta —mas não impede—a ação de atiradores.
Diante do clima de ânimos acirrados, desde a semana passada, um drone tem acompanhado a comitiva do presidente. A sua utilização ainda está em fase de testes.
Segundo relato feito à Folha por assessores do presidente, ele repassa, em tempo real, imagens do trajeto para uma equipe de segurança, que pode atuar com rapidez em caso de incidente.
Até o governo Michel Temer (MDB), a rampa era usada pontualmente, em cerimônias de posse ou na recepção de autoridades estrangeiras.
Poucos são os episódios que fugiram desse costume, como o dia em que a então presidente Dilma Rousseff (PT), em meio ao desgaste do processo de impeachment, desceu a rampa para falar com apoiadores, em 2016.
Outro momento marcante em que a rampa foi usada fora do roteiro foi em 2002, quando o jogador da seleção brasileira Vampeta, campeão da Copa do Mundo daquele ano, deu cambalhotas diante do presidente à época, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Em um passado não tão distante, a rampa era mais utilizada. Em artigo publicado no site Os Divergentes, o fotógrafo Orlando Brito, que faz a cobertura jornalística da Presidência desde os primeiros anos da ditadura militar, escreveu que a rampa era habitualmente utilizada pelos generais que comandaram o país.
Ele lembra, por exemplo, que o presidente Ernesto Geisel subia a rampa às terças e a descia às sextas. O hábito era acompanhado por servidores do alto e baixo escalões de seu governo.
Com o restabelecimento da democracia, lembra Brito, quem costumava utilizar a rampa era o hoje senador Fernando Collor (PROS-AL).
A preocupação com a segurança de Bolsonaro também se estende ao Alvorada, onde o presidente costuma parar no começo da manhã e no final da tarde para falar com apoiadores e repórteres.
Desde o primeiro ano do governo, simpatizantes e jornalistas precisam ser fichados pela segurança e passar por detector de metais antes de seguirem para a área da qual o presidente se aproxima.
Nos últimos dias, as normas ficaram mais rígidas. Carros credenciados também passaram a ser revistados antes de terem o acesso liberado, e a entrada após a passagem do presidente tem sido bloqueada por um período maior.
Além disso, os agentes do GSI que controlam o acesso ao Alvorada têm uma relação com fotos e nomes de apoiadores que estão proibidos de ingressar na área próxima ao presidente. Os motivos para o veto não foram informados pelo GSI.
Um dos vetados é o haitiano Jean Makeson, que em março, no início da pandemia do coronavírus, disse a Bolsonaro que ele não era mais o presidente do Brasil e que seu governo havia acabado, situação que constrangeu o chefe do Executivo, acostumado a ouvir, até então, apenas palavras de apoio na porta de casa.
A Folha questionou o GSI sobre as alterações na segurança do presidente, sobre a lista de apoiadores barrados no Alvorada e sobre medidas tomadas diante das ameaças aos jornalistas.
O gabinete, comandado pelo general Augusto Heleno, informou que não comenta detalhes operacionais envolvendo a segurança do presidente da República. Em nota, afirmou que o sistema de segurança presidencial passa por constante processo de avaliação e evolução, em busca de maior efetividade.