Centenas de grávidas contraíram covid19 no país
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Os planos do casal Emerson Rebelo e Daise Cardoso Rebelo, ambos de 34 anos, para a chegada da filha Ester Daise foram interrompidos pela Covid-19 quando faltavam apenas dois meses para a criança nascer. Daise foi infectada pelo novo coronavírus com 34 semanas de gestação, fragilizada pela doença, a bebê precisou ser retirada para salvar a vida de mãe e filha.
A menina morreu cinco dias depois e a mãe também não resistiu e faleceu no domingo passado (24), vinte dias depois da filha. Um levantamento da CNN junto ao Ministério da Saúde e Secretarias estaduais mostra que o novo coronavírus infectou 484 grávidas no Brasil, desde o início da pandemia e 36 morreram em decorrência da doença.
Para Emerson, a saúde da esposa e da bebê se agravou porque houve demora no atendimento médico e negligência nas maternidades e em postos de saúde de Manaus, por onde a mulher passou. Ele conta que quando a esposa apresentou os primeiros sintomas da Covid-19, procurou dois postos de saúde e em nenhum ela foi encaminhada para um hospital e nem foram feitos exames específicos para detecção da doença.
“Depois que fomos aos dois postos médicos e eles só deram remédios para ela tomar. E como ela só piorava, fomos à maternidade Nazira Daou, onde fizeram o exame de Covid-19 nela e deu positivo e a internaram”, disse.
Emerson alega que houve negligência na maternidade e que mesmo o quadro de saúde da esposa se agravar, ela foi transferida para outra maternidade.
“Os dias que ficou na primeira maternidade ela só teve visita de médico uma única vez e a maternidade só tinha leitos infantis. Resolveram mandar ela para maternidade Ana Braga, a entubaram e depois tiraram a criança”, conta.
A criança morreu no dia 5 de maio e a mãe vinte dias depois sem ter visto a filha. Ela também não soube que a criança faleceu. “Demoraram muito para tirar a bebê e a menina nasceu muito ruinzinha, muito doente. Minha esposa lutou muito para sobreviver, mas não conseguiu. Trabalhava na saúde, como farmacêutica, ajudou muita gente e quando precisou de socorro, não teve”, lamenta Emerson.
Emerson ficou sozinho para cuidar dos outros dois filhos do casal, de 4 e 5 anos de idade. “Agora sou eu para tudo. Tenho que cuidar das crianças que ficaram sem a mãe, não estou trabalhando, porque eu sou motorista e tive que deixar o trabalho da cuidar da minha esposa e agora resta cuidar de nossos filhos que só tem a mim”, comentou.
Em nota à CNN, a secretaria estadual de saúde do Amazonas a maternidade Ana Braga tomou medidas necessárias salvar mãe e filha.
“Com o agravamento do quadro clínico, foi necessária a realização do parto com 35 semanas de gestação. Devido a prematuridade associada a pneumonia e desconforto respiratório, o recém-nascido veio a óbito após quatro dias de vida. A direção da Maternidade Ana Braga ressalta que todas as medidas foram realizadas para a manutenção da vida e a pronta recuperação da paciente e que solidariza com a dor da família”, diz a nota.
De Tocantins, distante 870 quilômetros de Manaus, a dona de casa Relnice Mafra viajou com a filha, a técnica de enfermagem Regivane Mafra, 28, em busca de socorro médico. Regivane, estava gravida de sete meses e após apresentar sintomas da doença, a família procurou hospitais da cidade e só depois foi levada para uma maternidade de Manaus, após conseguir uma vaga em uma uti área que tinha ido buscar outro paciente no município.
Em Manaus, a família alega que a grávida passou por um hospital de campanha e duas matérias e no dia 20 deste mês, faleceu. O bebê também não sobreviveu.
“Levamos ao hospital três vezes, mas cada vez mais piorava o quadro dela. Ai quando já estava no décimo dia a levei de novo para o Hospital e só aí então internaram ela para fazer o tratamento. Depois conseguimos uma vaga em uma uti aérea que tinha ido lá na nossa cidade buscar outra paciente e viemos para Manaus”, conta a mãe da gravida, Relnice Mafra.
“Foi muito triste porque ao respirar ela fazia muita força e com isso houve una ruptura ou descolamento de placenta, só então levaram ela pra maternidades Ana Braga aqui em Manaus e depois ela ainda foi levada para outra maternidade, onde morreu e a criança também já tinha morrido ainda na barriga dela. O nome dele era Gael”, lembra Relnice.
A secretaria também respondeu à CNN que desde o início da pandemia foram registradas 4 mortes de grávidas com suspeita de infecção pelo novo coronavírus e que o os casos estão sob investigação. Não há informação sobre o número de mulheres infectadas pela Covid-19.
Na cidade de Fundão, no Espírito Santo, a Covid-19 também interrompeu os planos do casal Antônio Carlos Bruno da Silva e Daiane Galvão, de 25 anos. Ela estava gravida de sete meses de Ághata Letícia e, após ser infectada pelo novo coronavírus, foi submetida a uma cesárea às pressas para salvar a vida de mãe e filha. Daiane não resistiu. Aghata, nasceu prematura e está internada.
“A bebê está internada para ganhar peso e está indo bem. Agora é preciso ser forte para criar minha filha e passar por essa situação e poder dizer para ela que sua mãezinha foi morar no céu e que ela ficou aqui, que é uma guerreira por ter sobrevivido no momento difícil como esse”.
Segundo o Ministério da Saúde, o número de mulheres gestantes infectadas pela doença representa 0,9% do número de contaminados pelo novo coronavírus até o último dia 24.
Em São Paulo, a Secretaria Municipal de Saúde disse há 15 casos confirmados de Covid -19 e que há 22 em investigação nos hospitais da rede que dispõe de maternidade na capital do estado. Segundo a secretaria, não há registro de mortes na rede municipal.
“Quando as mães recebem alta das maternidades são orientadas sobre os cuidados com o novo coronavírus, principalmente, sobre a higienização e a necessidade do isolamento social. Todas são encaminhadas para o atendimento pós puérpera e pediátrico em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua casa”, diz em nota.
A Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) diz que as implicações da infecção sobre a gestação ainda não são totalmente conhecidas. E aponta que a interrupção por Covid-19 pode ser necessária em casos graves para melhorar a oxigenação materna.
“Até o momento, não há dados que sugiram que a infecção seja causa de aborto, de malformação fetal ou de outras complicações obstétricas. O momento da interrupção deve seguir as mesmas recomendações da gestante não infectada. Sempre que possível o nascimento do bebê deve ser adiado caso a gestante apresente queixas respiratórias”, explicam os médicos ginecologistas Alberto Trapani e Sheila Koettker Silveira.