Comércio começa a fechar após abrir muito cedo
Foto: Eduardo Frazão/EXAME
O isolamento social despencou em 13 de 24 cidades do interior paulista que tinham definido medidas de reabertura do comércio em meio à pandemia do novo coronavírus.
É o que apontam dados do Simi (Sistema de Monitoramento Inteligente) quando comparadas as situações no dia que antecedeu a abertura, ainda que parcial, de atividades econômicas, e o cenário nesta quarta-feira (29). Mas, mesmo onde o índice cresceu, ele é baixo e criticado pelas autoridades de saúde.
Como a Folha mostrou na última semana, em ao menos 24 municípios do interior e do litoral paulista prefeitos decretaram a flexiblização da quarentena imposta pelo governo do estado. Essas 13 localidades se referem a esse grupo de cidades. Estão nessa situação Sorocaba, Indaiatuba, São José do Rio Preto, Jaboticabal, Sertãozinho, São Vicente, Guarujá, Barretos, Jundiaí, Campinas, Guaratinguetá, Araçatuba e Amparo. A exceção é Franca.
Dessas cidades, só São Vicente, Guarujá, Guaratinguetá e Amparo tiveram nesta quarta-feira índices acima de 50%.
Na quarta, o governador João Doria (PSDB) afirmou que, na atual situação, será impossível fazer o relaxamento previsto a partir de maio. “Numa taxa de isolamento de 48% [no estado], não há a menor condição de flexibilização de isolamento, com os riscos de colapso no atendimento público nos hospitais”, disse.
A maior diferença percentual entre a véspera do início da flexibilização e esta quarta-feira foi registrada em Jaboticabal, que passou de 58% para 45%. A cidade abriu boa parte de seu comércio, exceto shopping e academias. Também não permitiu o funcionamento de templos religiosos.
Em publicação no site da prefeitura, o prefeito José Carlos Hori (PPS) afirmou que, com o baixo número de suspeitos nos últimos dias, muitas pessoas “acharam que o perigo já havia passado e voltaram a sair nas ruas, o que não é verdade”. “Devemos manter 70% da população dentro de casa. Aqui temos apenas cerca de 50%. As pessoas precisam se conscientizar e ficar em casa. A prefeitura está fazendo a sua parte, mas precisamos da ajuda da população para vencer essa guerra”, disse ele no comunicado.
Em Araçatuba, o índice de isolamento caiu 12 pontos, passando de 52% para 40%. Em Campinas, foram 11 pontos (de 56% para 45%), assim como em Sorocaba (de 55% para 44%). Já em Jundiaí, recuou de 55% para 45%.
Em algumas dessas localidades o comércio voltou a fechar após decisões judiciais ou depois de as prefeituras atenderem pedido do Ministério Público Estadual ou do governo paulista. Foi o que ocorreu em Sorocaba, cidade do interior com mais mortes confirmadas (21) e que tem 154 casos da Covid-19. A prefeitura abriu o comércio, mas a Justiça decidiu pela suspensão das medidas de afrouxamento. Na decisão, o juiz Leonardo Guilherme Widman veda a adoção de medidas menos restritivas na cidade, que estejam em desacordo com as normas estaduais.
Outra cidade que viu o comércio fechar após ter flexibilizado a quarentena foi Araçatuba. O TJ (Tribunal de Justiça) concedeu liminar suspendendo um artigo do decreto e a prefeitura informou que acatará a determinação. A cidade tem 63 casos da Covid-19, com duas mortes.
Em Sertãozinho, a decisão contra a flexibilização aplicada pela prefeitura ocorreu após pedido da Promotoria à Justiça, que concedeu liminar determinando o fechamento de atividades não essenciais.
A única das cidades a ver o índice crescer entre o dia em que anunciou a reabertura de atividades e esta quarta-feira foi Franca. Mas, mesmo nela, os índices são muito baixos. Passou de 41% de isolamento, em 22 de abril, para 44%.
E o total de casos na cidade cresce. De 11, com uma morte, agora tem 36 confirmações, com dois óbitos.
“Como aumentou o total de casos nesta semana, a população assustou um pouco. Acho que isso fez com que fosse mantido o isolamento nesses níveis, mas ele está baixíssimo”, afirmou o secretário da Saúde, José Conrado Dias Netto.
Segundo ele, o que a cidade fez foi permitir a operação das indústrias —o setor calçadista é um dos pilares da economia local— a partir do último dia 13, com regras definidas para evitar contato entre os empregados.
“As pessoas deveriam se conscientizar mais, chegamos a ter índice perto de 60% [58%, domingo, 26], mas caiu. Precisam assumir um pouco de responsabilidade e ficar em casa. Se tiver de sair, saia uma pessoa da família, e de máscara”, afirmou.