Demitido da PF insinua demissão política

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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

O ex-superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, delegado Ricardo Saadi, afirmou que sua saída do comando da corporação fluminense foi antecipada em agosto do ano passado a pedido e sem justificativa clara. Em depoimento, Saadi negou ter recebido solicitações do Planalto por informações de investigações, mas até hoje não foi informado sobre as razões para sua exoneração.

A saída de Saadi provocou atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o então ministro Sérgio Moro em agosto de 2019, e foi a primeira ocasião em que, segundo o ex-juiz, o presidente teria insistido em emplacar um nome de seu gosto no comando da PF Rio – o superintendente no Amazonas Alexandre Saraiva.

Em depoimento, Ricardo Saadi afirma que assumiu a superintendência regional do Rio em 2018 com a perspectiva de deixar o cargo no mesmo ano. Com a mudança de governo, o novo diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, informou que ‘as coisas estavam fluindo bem’ na PF-RJ, motivo pelo qual pediu a Saadi que permanecesse na chefia da corporação até o final de 2019 e, em 2020, seria transferido para Brasília.

O superintendente alega que planejava a transferência por razões familiares, por ter parentes em São Paulo e na capital federal.

Em 15 de agosto do ano passado, contudo, Saadi afirmou que recebeu ligação de Valeixo afirmando que havia decidido ‘adiantar os planos de troca’ da superintendência do Rio e que iria levá-lo para Brasília, ‘não revelando eventuais razões para tanto’. Saadi teria recebido a informação momento depois de que Bolsonaro havia anunciado a troca de comando da PF Rio.

No mesmo dia, o então superintendente da PF no Rio afirma que voltou a falar com Valeixo, que ‘lhe afirmou que teria havido um pedido de troca de superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro’. Saadi, que já havia manifestado interesse em se mudar para a Brasília ou São Paulo, concordo com a mudança, mas alega que ‘não ficou esclarecido’ a ‘origem nem outros detalhes’ envolvendo tal ‘pedido’ de substituição no comando da superintendência fluminense.

“Questionado especificamente se credita sua dispensa a alguma interferência política, afirma que os motivos não lhe foram apresentados para antecipar sua saída em agosto de 2019”, apontou o depoimento.

Saadi também informou à PF que ‘não recebeu pedido formal ou oral de início de investigações ou de arquivamento’ nem para ‘interferência em eventuais investigações relacionadas ao Presidente Jair Bolsonaro, familiares seus, ou pessoas ligadas a ele’.

“O depoente jamais recebeu pedido formal ou informal de inteligência da Presidência ou de órgão do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), que formal ou materialmente se traduziria em tentativa de obtenção de informações de polícia judiciária”, anotou.

Estadão