Deputado do Centrão já age como líder do governo
Foto: Reprodução
O aprofundamento da relação do governo com centrão poderá ter um novo capítulo nos próximos dias. O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse a líderes de partidos que pretende tirar Major Vitor Hugo (PSL-GO), fiel aliado de Jair Bolsonaro, da função. Mesmo nas piores derrotas do governo na Câmara, no entanto, Bolsonaro bancou o nome de Vitor Hugo como principal interlocutor na Casa. Enquanto o ministro costura a solução, o líder do PP, Arthur Lira (AL), passou a ser o parlamentar da Câmara mais empenhado na defesa do Palácio do Planalto. A atuação de Lira nas últimas votações superou até a do atual ocupante do cargo.
Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, os mais cotados para a função são os deputados Hugo Motta (Republicanos-PB), Ricardo Barros (PP-PR) e João Roma (Republicanos-BA).
Na Câmara, qualquer decisão que contrarie os interesses de Bolsonaro é prontamente questionada por Arthur Lira. Na semana passada, quando deputados desistiram de votar a Medida Provisória que regularizava terras na Amazônia, Lira foi ao microfone para mostrar sua insatisfação, enquanto Vitor Hugo só ouvia.
O deputado do PP persistiu por dez minutos pressionando Maia para que desistisse do adiamento da votação. Resistiu à sugestão do líder do MDB, Baleia Rossi (SP), de tratar o assunto por projeto de lei, e criticou a postura dos deputados em plenário.
— O que eu quero deixar aqui bem pontuado é: a proposta do líder Baleia Rossi não foi discutida nem no grupo de líderes de que fazemos parte, e, portanto, pegou-nos a todos de surpresa — discursou Lira.
Incisivo, Lira insistiu na votação da matéria. Após a defesa enfática, Vitor Hugo pediu a palavra por breve momento apenas para concordar com o deputado do PP. Dois dias depois, em uma videoconferência com empresários, Bolsonaro falou sobre o assunto. Considerou um “absurdo” o adiamento da votação, que resultou na extinção da Medida Provisória, e ainda acusou Maia de “tirar proveito político lá na frente” e de querer “ferrar o governo”.
O episódio no plenário da Câmara gerou discussão e bate-boca, pelo Whatsapp, entre Baleia e Lira, dois líderes de legendas do centrão. O deputado do MDB, que acumula o cargo de representante da legenda na Casa e presidente nacional da sigla, resiste ao assédio do Planalto para fazer parte da base do governo.
Segundo um líder de outro partido do centrão ouvido pelo GLOBO, Lira é o parlamentar escalado pelo Planalto para cuidar “da estratégia do governo”. Por isso, desempenha um papel que o coloca em evidência. Enquanto isso, os caminhos apontados por Vitor Hugo são “confusos” e não levam a um resultado prático favorável ao governo.
Outro episódio esclarece o novo papel de Lira. Na terça-feira, Maia anunciou que votaria a urgência para uma proposta que suspende a realização do Enem durante o estado de calamidade pública. O procedimento serve para acelerar a deliberação do projeto e abre caminho para a análise do mérito no mesmo dia. A ideia do presidente da Câmara era votar o texto caso o presidente Jair Bolsonaro não se pronunciasse sobre o assunto. Lira, então, usou o microfone para fazer uma objeção. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, já havia anunciado que o exame não seria aplicado na data prevista.
Maia retrucou atacando Weintraub:
— O ministro (Weintraub), desculpa, não posso acreditar nesse ministro — disse Maia.
Lira rebateu:
— Vossa excelência tem todo o direito de esperar o presidente da República. Mas se o ministro já publicou a portaria comunicando que vai ser atrasado, do ponto de vista da produtividade, perde o objeto da votação, porque vai votar uma coisa que já está resolvida — argumentou.
Por trás da nova postura do parlamentar está a possível indicação do partido para o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A legenda já encaminhou um nome para a presidência do órgão, que tem orçamento de R$ 54 bilhões. Na terça-feira, inclusive, Lira esteve com o indicado, Marcelo Lopes, em audiência com Weintraub.