Empresário complica Bolsonaro no STF

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

O depoimento do empresário Paulo Marinho (PSDB), outrora aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus filhos, estabeleceu novos contornos à investigação que corre no STF (Supremo Tribunal Federal) e apura se o capitão reformado agiu para interferir na superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro.

Marinho afirmou hoje, em entrevista à Folha, que Flávio Bolsonaro, de quem é suplente no Senado Federal, o procurou após o segundo turno das eleições presidenciais em 2018, e afirmou que teve conhecimento prévio sobre a Operação Furna da Onça, da Polícia Federal. A operação citada investigava a prática de “rachadinha” (quando funcionários do gabinete devolvem parte de seus salários) entre deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), incluindo Flávio, então deputado estadual no RJ.

O empresário teve relação íntima com a família Bolsonaro durante a campanha presidencial, chegando a ceder sua residência para uma espécie de ‘quartel-general’ de apoio ao então candidato. Em seu relato, Marinho afirma que Flávio disse que a PF segurou a deflagração da operação para depois das eleições, para não prejudicar a candidatura de Bolsonaro à presidência e dele ao Senado.

O filho do presidente teria afirmado também que foi informado que a investigação atingiria Fabrício Queiroz, funcionário de seu gabinete e que também trabalhou para o gabinete de Jair Bolsonaro quando este era deputado federal.

As falas de Marinho abrem um novo rol de informações no inquérito aberto no Supremo. Até então, o foco no lastro das acusações estava concentrado no ex-ministro Sergio Moro, que deixou o governo atacando o presidente. Moro, que também é investigado no mesmo inquérito aberto no STF, já prestou depoimento e chegou a afirmar que Bolsonaro teria dito, em uma reunião ministerial, que queria apenas uma das 27 superintendências da PF — que seria a do Rio.

As declarações de Marinho, após a repercussão de sua entrevista, podem endossar ou não o depoimento de Moro, e a Procuradoria-Geral da República já estuda convocar o empresário para prestar esclarecimentos.

 

Pelo Twitter, o empresário respondeu a uma publicação do ex-ministro. “Espero que os fatos revelados, com coragem, pelo Sr. Paulo Marinho sejam totalmente esclarecidos”. Marinho respondeu duas horas depois: “Com certeza serão”.

Após a revelação do suposto vazamento da Operação Furna da Onça a Flávio Bolsonaro antes das eleições de 2018, a Polícia Federal informou que vai investigar o caso. “Todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje, a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados” afirma a PF em nota.

“Esclarece-se, ainda, que notícia anterior, sobre suposto vazamento de informações na operação ‘Furna da Onça’, foi regularmente investigada pela PF através do Inquérito Policial n° 01/2019, que encontra-se relatado”, diz o texto da corporação.

A PF afirma que a operação foi deflagrada no Rio de Janeiro em 08 de novembro de 2018, e que os respectivos mandados judiciais foram expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2° Região, no dia 31 de outubro de 2018, portanto, depois do segundo das eleições presidenciais.

As declarações de Marinho também fizeram com que deputados federais de oposição, em sua maioria do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), entrassem com uma representação no Supremo para que Flávio e Marinho sejam ouvidos no inquérito aberto na corte suprema para investigar uma tentativa de intervenção na Polícia Federal por parte do presidente Jair Bolsonaro.

Na petição, 11 deputados pedem que o ministro Celso de Mello, responsável pelo acompanhamento das investigações, solicitem o depoimento do senador e de seu suplente.

Além disso, os parlamentares pedem a busca e apreensão de provas relacionadas ao caso, em especial do telefone celular do ex-ministro Gustavo Bebianno, citado por Marinho em suas revelações e morto no início deste ano.

Oposição e ex-aliados de Bolsonaro se unem nas críticas
A oposição também se movimentou com pedidos de investigação, impeachment e até cassação da chapa que elegeu o presidente e seu vice, Hamilton Mourão, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) caso as denúncias do empresário sejam comprovadas. Ex-aliados do presidente e parlamentares de direita também se manifestaram.

“Se comprovadas as denúncias, o TSE pode anular as eleições de 2018 ele pode cassar a chapa Jair Bolsonaro e Mourão para que tenha novas eleições ainda em 2020”, afirma em vídeo publicado nas redes sociais o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), do MBL (Movimento Brasil Livre). “As denúncias são gravíssimas.”

 

Fernando Haddad (PT), que enfrentou Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais, afirmou nas suas redes sociais que houve fraude no pleito. “Conforme suspeita, suplente de Flavio Bolsonaro confirma que PF alertou-o, entre o 1° é o 2° turno, de que Queiroz seria alvo de operação, que foi postergada para evitar desgaste ao clã durante as eleições. Isso se chama FRAUDE!”

 

A deputada federal Joice Hasselmann, que apoiou Bolsonaro nas eleições e, posteriormente, rompeu com o presidente e seus filhos, cobrou investigações do caso. “Avisou o criminoso e seu bando. Antecipou as informações para três pessoas, debaixo de uma marquise em frente à delegacia no RJ…que tal câmeras de segurança do local??? Só não descobre quem não quer”, escreveu ela no Twitter.

Uol