Estudo mostra modificações no estilo de vida na pandemia
Foto: Jefferson Coppola/VEJA
Um levantamento semanal realizado pelo Grupo Consumoteca, especialista em transformações culturais e comportamento brasileiro, vem descobrindo as novas tendências de consumo e quais os medos da população em relação ao trabalho e ao futuro durante a pandemia do novo coronavírus.
O “Mood da semana”, com o grupo chama o estudo, ouviu 2.000 pessoas de todas as classes sociais e idades em todo o território nacional nas últimas seis semanas. O último período analisado culminou no Dia das Mães do último domingo 9 e registrou recordes em relação a saudade das pessoas queridas. Lidar com a distância de familiares foi a principal preocupação da semana para 46% dos entrevistados.
Uma preocupação dos pesquisadores é com o fato de as pessoas estarem se acostumando com a situação de quarentena e o medo da Covid-19 e os cuidados para não contrair a doença estão apresentando uma queda. Para o antropólogo Michel Arcoforado, o coordenador do estudo, a falta de alinhamento no discurso do presidente e dos governadores estaduais atrapalha no combate.
“71% das pessoas dizem que é importante ficar em isolamento, e 77% só saem de casa para o essencial. Só que há uma falha de comunicação das autoridades brasileiras tanto de saúde quando política. O que é o isolamento? Cada um tem feito do seu jeito. As pessoas estão indo duas vezes ao dia para mercado e farmácia, porque virou forma de se socializar. O que atrapalha é a confusão é clara entre as várias instancias do governo. Todo mundo acha que está se protegendo, mas ninguém está”, afirma Arcoforado.
A pesquisa buscou descobrir quais as principais preocupações dos brasileiros em relação à carreira e ao futuro e identificou quais são os novos hábitos de consumo. Os resultados foram divididos em três gerações: X, Y e Z. A primeira representa os idosos, a segunda os adultos e a terceira é composta pelos jovens e adolescentes.
O isolamento social teve como efeito colateral a demissão de muitas pessoas e as dúvidas sobre o plano de carreira e futuro se tornaram um dos principais problemas. “A ideia de projeto de vida balizou nosso comportamento até agora de maneira mais clara. A pandemia reforça que o futuro ficou suspenso. A ideia de carreira se esfacela. O futuro fica suspenso e o presente com uma interrogação”, diz Michel.
As três gerações afirmaram em maioria que estão vivendo um dia de cada vez e fazendo o melhor que podem agora. Mesmo assim, ainda há uma grande parcela que pensa no que vai fazer logo que passar o isolamento: 40% da geração Z, 30% da geração Y e 27% da geração X.
Os hábitos de consumo talvez representem a maior mudança. “Mesmo que tenhamos a retomada normal da economia, o consumo não vai voltar no mesmo ritmo. Tínhamos prioridades que foram para o ralo da noite para o dia”, pondera Michel Arcoforado.
O estudo concluiu uma percepção muito debatida durante a quarentena: estamos colocando o pé no freio nos gastos pela incerteza sobre o futuro, a perda de renda e a instabilidade do momento. A exceção é a geração Z. Com menos preocupações econômicas por ainda não sustentarem a casa, os jovens afirmaram ter alguns gastos desnecessários: 67% disse ter comprado algo na última semana para se mimar, se agradar. “Esse grupo apresenta mais ansiedade por ficar trancado dentro de casa e faz compras pela internet para se dar um presente por ficar isolado”, conta o antropólogo.