Ex-procurador da Lava Jato diz que Bolsonaro enganou Moro
Foto: Reprodução/Migalhas
O advogado Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-procurador regional da República e ex-integrante da força-tarefa da Lava Jato, afirmou à CNN, nesta segunda-feira (25), que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “nunca apoiou a Lava Jato” e enganou o ex-ministro Sergio Moro.
“Jair Bolsonaro nunca apoiou a Operação Lava Jato. Onde ele estava quando começou a Lava Jato? Devia estar dormindo no plenário do Congresso. Ele apareceu como um outsider que se aproveitou disso”, avaliou o ex-procurador. “Lei e ordem é sempre um fator importante em qualquer eleição e ele aproveitou, mas desde o começo não mostrou nenhuma intenção [de combater a corrupção], mesmo porque logo no começo surgiu no esquema das ‘rachadinhas'”, acrescentou.
Para ele, o começo de mandato em meio à explosão do caso de Fabrício Queiroz fez o presidente se movimentar para se defender em vez de criar ações de combate ao crime. “Isso desagregou qualquer intenção de ele de ter um Coaf efetivo, não apoiou as medidas de combate à corrupção e foi paulatinamente desautorizando Moro em diversas circunstâncias”, defendeu. E concluiu: “Bolsonaro nunca teve nenhum compromisso efetivamente com isso e infelizmente enganou Moro, que saiu de uma carreira brilhante para o Ministério da Justiça”.
Questionado se o ex-juiz federal já não poderia ter notado que o combate à corrupção não fazia, de fato, parte da agenda prática de governo de Bolsonaro, o ex-procurador defendeu que não, pois, para ele, “os exemplos mais graves a respeito de Bolsonaro surgiram depois das eleições, quando já estava montado o ministério”.
“Tínhamos pautas que eram absolutamente reacionárias, como o próprio armamento da população e essa guerra cultural de direita que os bolsonaristas gostam de manter, entretanto Moro acreditou no combate à corrupção e ao crime organizado. Me parece que, num primeiro momento, era crível que Bolsonaro tinha essa prioridade, mas infelizmente não era verdade e logo desmoronou essa crença que havia ainda que ele poderia fazer alguma coisa positiva”, completou.
Lima ainda classificou que o suposto interesse de Bolsonaro na Polícia Federal do Rio de Janeiro seria para “ter acesso a informações no reduto dos filhos”. “Minha experiência em investigações diz que um político se aproxima da polícia para conseguir informações para usá-las politicamente, para defender a si mesmo e aos seus, o que Bolsonaro explicitamente admite na reunião, ou para perseguir políticos”, disse.
Em relação ao vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, que foi divulgado praticamente na íntegra pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), na sexta-feira (22), o ex-procurador afirmou ver as declarações de Bolsonaro sobre armar a população como o ponto mais preocupante.
“Me parece que o mais grave dessa reunião é a impressão de que estamos vivendo um programa de governo chavista. Esta talvez seja a questão política mais importante, pois fala de um sistema paralelo de informações, em dominar órgãos como Exército e Polícia Federal, além de armar a população especialmente dirigida contra governadores e prefeitos. Estamos caminhando para o chavismo”, considerou.
Para o ex-procurador, armar a população seria grave no contexto citado pelo presidente, que extrapola a defesa pessoal para o campo político. “É uma tentativa de usar isso para fazer prevalecer a vontade de Bolsonaro”, avaliou. “Vai contra o próprio governo federal. Teríamos o estado de direito totalmente subvertido se cada grupo pudesse fazer prevalecer os seus interesses com base em armas de fogo”.