General da Saúde mente e omite em reunião da OMS
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Eduardo Pazuello, ministro interino que lidera a pasta da Saúde, garantiu à comunidade internacional que o governo de Jair Bolsonaro atua em “diálogo” com o restante das esferas de poder. Em seu discurso diante da Assembleia Geral da Saúde, organizada pela OMS nesta segunda-feira, o novo chefe do Ministério da Saúde não citou uma só vez a própria OMS.
Mergulhado em conflitos e tensões com os estados, com o Congresso e o STF, uma das grandes dificuldades do governo Bolsonaro tem sido a de coordenar posições. O Planalto tem ainda liderado ataques contra governadores estaduais, ameaçado o Congresso e pressionando o Judiciário.
Nada disso, porém, fazia parte do discurso de Pazuello. Por vídeo-conferência, ele se apresentava diante de uma foto do presidente e da bandeira do Brasil.
Suas explicações não situaram o salto no número de casos no país e nem a recusa do governo em aceitar as recomendações da OMS.
“Como sabemos, o Brasil tem dimensões continentais e diferenças regionais importantes que exigem uma estratégia apropriada para cada um deles”, disse. Segundo o novo ministro, o governo atua “por por meio do diálogo com os três níveis de governança”.
“O governo federal diariamente acesso a situação de risco, apoia estados e cidades com os recursos necessários para mitigar os efeitos da pandemia”, garantiu o general.
Pazuello ainda indicou que sua pasta tem “ajustado seus protocolos, baseado em evidências e nas necessidades dos mais afetados”. Uma mudança de protocolos forçada por Bolsonaro para incluir a cloroquina foi um dos motivos que levou à queda de seu segundo ministro da Saúde.
No discurso, o general não citou uma só vez o termo “OMS” e nem seu diretor-geral, Tedros Ghebreyesus, uma prática comum em falas na Assembleia Geral.
Pazuello, porém, indicou que “reforça o compromisso em apoiar a participar em iniciativas internacionais”. Uma delas seria o Solidarity Trial, uma pesquisa mundial conduzida pela OMS com pacientes em todo o mundo. Segundo o general, são eventos como esse que “reforçam a cooperação internacional”.
Ele também insistiu que o Brasil que buscar acesso universal a diagnósticos, tratamentos e vacinas. A coluna revelou na semana passada que o governo Bolsonaro não foi convidado para fazer parte de uma iniciativa da OMS para o desenvolvimento de uma vacina, ao lado de europeus e mais de 40 países.
A participação do país no evento, porém, ocorre em um momento em que o Brasil é alvo de duras críticas internacionais. O Brasil ainda se vê afastado de uma aliança internacional que busca acelerar os trabalhos para o desenvolvimento de uma vacina.
Até sexta-feira, seria Nelson Teich quem acompanharia os debates na OMS e faria o discurso em nome do governo de Jair Bolsonaro.
Mas com sua saída do Ministério da Saúde, abriu-se uma incerteza sobre quem representaria o Brasil. A OMS chegou a buscar esclarecimentos sobre quem falaria em nome do país, inclusive para estabelecer sua lista com base no protocolo diplomático.
No fim de semana, Brasília indicou que o discurso do país na OMS deveria ser realizado por Eduardo Pazuello, militar que ocupa de forma interina o cargo vago de Teich. O general, que afirmou ser “leigo” em questões médicas, tem coordenado a operação de compras de equipamentos e máscaras.
Em Genebra, chamou a atenção o fato de o Brasil indicar a participação de um militar, principalmente diante do número elevado de especialistas reconhecidos e nomes de alto gabarito do país na Saúde. A regra, porém, estipula que um país deve ser representado no evento pelo chefe-de-governo ou por um ministro.