Guedes acha “normal” Bolsonaro ameaçar STF
Foto: Agência O Globo
No dia em que o PIB do país teve queda de 1,5%, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu cooperação e colaboração de todos para que o país consiga enfrentar a atual crise gerada pela pandemia do coronavírus.
— Precisamos de cooperação, colaboração, compreensão e solidariedade. É natural que nessa ansiedade, cada um a seu estilo, um pisa no pé do outro. E quem foi pisado dá um empurrão de volta. Agora, acabou. Quando chegar na margem, começa a brigar de novo. Pode brigar a vontade na margem. Se brigar a bordo do barco, o barco naufraga — afirmou o ministro.
Guedes participou nesta manhã de um seminário virtual sobre energia realizada pelo BNDES.
Ele também fez referência às brigas entre os poderes. Atualmente, a relação entre o Executivo e o Legislativo passa por um momento delicado após a revelação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, quando o ministro da Educação, Abraham Weintraub, sugeriu prender os ministros do Superior Tribunal Federal (STF). O
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro criticou a ação do STF contra empresários, políticos e blogueiros acusados de financiar a divulgação de fake news.
— Quando um poder pisa no pé do outro, o outro dá um empurrão de volta. Isso é natural. Não é para dizer que o Brasil vai acabar por causa disso, que o Brasil vai parar e que nunca mais vai funcionar, que é uma destruição do capital institucional que temos, que é um golpe. Não tem nada disso. É natural. É natural. É da própria crise. Alguém acha que a Asa Esquerda é mais importante? O outro acha que é a Asa Direita? O pássaro não voa sem as duas asas — disse Guedes, em referência à cidade de Brasília.
Guedes também aproveitou o seminário para comentar o resultado do PIB. Exaltou o desempenho das exportações no primeiro trimestre, dizendo que ” que é a maldição acabou virando uma benção”. E disse que o processo de retomada vai ocorrer em formato de “V”, tido como o cenário mais otimista.
— Eu digo que caímos rápido e a volta depende de nós mesmos. Eu falo em V, pois os sinais vitais da economia estão mantidos. Mas, evidentemente, dependendo de nossa reação pode ser um U ou pode ser até um L, de cair e virar uma depressão. Só depende de nós. Só depende de nós. Pela terceira vez. Só depende de nós. Prefiro ainda trabalhar ainda com o V. Pode ser um V meio torto, pode. Poder ser um V da Nike? Pode, que que caiu rápido, mas pode subir um pouco mais devagar. Mas ainda é um V — disse Guedes.
Economistas costumam recorrer ao alfabeto para traçar planos de recuperação da economia em momentos de crise como a atual. A letra “V” indica uma redução forte no PIB e uma recuperação acelerada, diferente da letra “U”, que representa uma retomada mais lenta.
— Continuamos resilientes e inabaláveis, determinados em furar as duas ondas. Primeiro a da saúde, que estamos furando e lutando. Depois, a economia — destacou Guedes.
Guedes informou também que o governo já trabalha em um programa para permitir a retomada da atividade econômica, com a criação de protocolos.
Segundo o ministro, na quinta-feira houve uma reunião com a Casa Civil, o ministério da Saúde e Economia. O objetivo foi examinar os protocolos em todo o mundo.
— Agora, temos que começar a pensar em sair da letargia econômica em dois estágios. O primeiro é retorno seguro ao trabalho. Estamos analisando. Imagino que o retorno ao trabalho será segmentado, não vai ser todo mundo ao mesmo tempo. Será por unidades geográficas. Há regiões onde o risco de contágio é menor. Em regiões com maior densidade demográfico, o risco de contagio é maior. Tudo isso vai ser examinado. Todo mundo já esta examinando e adotando os protocolos para um retorno seguro ao trabalho quando a saúde permitir e der o sinal de que está na hora de avançar.
Durante a abertura do evento, Guedes destacou as iniciativas feitas pelo governo no ano passado, como a reforma da previdência e a distribuição de quase R$ 12 bilhões para estados e municípios, valor, segundo ele, três vezes maior do que prefeitos e governadores esperavam.
Ele citou que agora já estava tudo “encaminhado” para aprovar o novo pacto federativo.
— O Brasil tem uma democracia barulhenta, vibrante, mas que está entregando. Entregou a reforma de previdência no ano passado. O inicio da transformação do Estado Brasileiro está acontecendo. Esse ano estávamos preparados para fazer o pacto federativo, com a transferência de R$ 450 bilhões para estados e municípios. A crise só confirma que estávamos indo na direção certa. Se esses recursos já estivessem lá, quando chegasse a crise, em vez de termos estádios de futebol, teríamos hospitais — disse ele, em alusão às iniciativas para o combate ao coronavírus, como a construção de hospitais de campanha.
Assim, Guedes falou da importância da descentralização de recursos do Governo Federal para estados e municípios:
— Quando a decisão é centralizada, o governo decide fazer porto em Cuba, obras na Venezuela. Se o dinheiro é descentralizado, nenhum estado ou prefeitura iria mandar recurso para fazer obra lá fora. Ia fazer escola, hospital e saneamento.
Embora não tenha citado nominalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Guedes também fez referência à uma declaração feita pelo político à revista “Carta Capital”, de que que o coronavírus teria sido algo positivo para mostrar a importância do poder do Estado.
Guedes classificou a afirmação como “erro intelectual”.
— Numa hora como essa dizer que é bom ter o vírus para mostrar que é bom ter o Estado. É um erro intelectual . É uma completa falta de solidariedade com a população brasileira. E justamente a nação que mais lançou recursos para proteger a população é a mais rica e tem o menor Estado. Não podemos voltar para o passado. Temos que ir em direção a um futuro diferente — afirmou Guedes, fazendo referência ao pacote bilionário lançado pelos Estados Unidos.