Igrejas evangélicas realizam cultos lotados em plena pandemia

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Foto: Egberto Nogueira/Ímãfotogaleria/VEJA

Líderes religiosos de três das principais denominações neopentecostais – Universal, Mundial e Renascer – estão de portas abertas para receber fiéis e dízimos durante a quarentena. VEJA esteve em cultos na sede dessas três igrejas. Embora respeitem a regra de ocupar 30% da capacidade dos lugares, elas colocam sob um mesmo teto 3.000 pessoas. Afinal, o show da fé e da arrecadação não pode ser parado por um vírus. Do púlpito de sua igreja instalada no bairro do Brás, em São Paulo, Valdemiro Santiago define a Covid-19 como “Exu Corona” e afirma que o número de mortos no Brasil é fake news. “Isso é coisa do maligno: simular que alguém morra para aterrorizar as pessoas”, praguejou. Valdemiro se referia a uma notícia falsa, propagada pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), de que caixões vazios estariam sendo enterrados no Ceará. Algumas pessoas dão testemunho de cura do coronavírus. “Quem cura é Deus não a ciência”, diz Valdemiro.

Ele reclama de que vários donos de imóveis locados pela Mundial estão entrando com ação de despejo por falta de pagamento. Ocorre que a Mundial de Valdemiro tem dezenas de processos, anteriores à pandemia, por não honrar com os aluguéis. Mas, evidentemente, os atrasos ficaram maiores. “Entrei com um processo porque ele não paga o aluguel do imóvel locado em Monte Mor, interior de São Paulo, há vários meses”, diz o advogado Diego Toloto. “Na verdade, a Mundial deu um calção inicial. Depois de poucos meses de locação, deixou de honrar com o aluguel.”

Para reverter os tempos de vacas magras, um retorno às suas raízes rurais: Valdemiro oferece semente de feijão por 1.000 reais para manter a prosperidade e livrar o fiel do coronavírus. “Vou plantar em cada um para meus filhos, netos… façam o mesmo”, recomendou ele em um culto acompanhado pela reportagem de VEJA no último domingo, 3. Com vestido longo de crepe de seda digno de festa, a bispa Sonia Hernandes comandava a cerimônia na sede da Renascer no mesmo dia. Segundo ela, a pandemia e a crise econômica não podem ser argumentos para interromper a ida ao templo, tampouco o pagamento do dízimo. “Quem não entregar, o devorador vai pegar”, pregou ela. Caso a pessoa esteja sem dinheiro, a bispa tem uma saída, repetida ao menos cinco vezes durante o culto: “pega emprestado porque vai multiplicar”. Dois obreiros da Renascer ficaram responsáveis por lembrar os fiéis a usarem máscaras.

Na entrada, é necessário que se assine um termo de compromisso dizendo estar ciente sobre a pandemia e da necessidade de se manter dois metros de distância. Uma bombeira média a temperatura de todos que entravam, mas o termômetro estava com problemas: chegou a registrar 28 graus — temperatura de um corpo morto há algumas horas. Há poucas semanas, diversos pastores da Renascer foram diagnosticados com Covid-19. Procurada por VEJA, a Renascer diz que a contaminação foi fora dos templos.

No Templo de Salomão, sede da Universal, de Edir Macedo, há um controle sanitário maior na entrada: funcionários lavam as mãos e aplicam álcool em gel nos fiéis. Macedo tem feito mais cultos e a preocupação com a queda de arrecadação no momento é evidente. “Dar dízimo é cumprir o dever com Deus”, disse ele no último dia 30, pregando que quem não doa corre risco de ficar desempregado. O Templo de Salomão tem recebido entre 2 000 e 3 000 pessoas por cultos aos fins de semana. Na transmissão das reuniões por redes sociais, Edir Macedo mandou colocar um QR Code no canto da tela para facilitar as doações. Confrontadas com a quantidade de fiéis presente aos seus cultos, tanto a Mundial quanto a Renascer disseram respeitar a norma de abrir com 30% da capacidade. Há, de fato, faixas que impedem que as pessoas sentem em cadeiras coladas. “Mas não importa, zelar pela vida implica evitar aglomeração”, critica o padre Michelino Roberto, responsável pela paróquia Nossa Senhora do Brasil, uma das mais importantes de São Paulo.

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