Irmã de Marielle teme federalização do caso
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No dia em que a Polícia Federal deflagrou uma operação contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), inimigo político do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a irmã da vereadora assassinada Marielle Franco, a professor Anielle Franco, reforçou a sua posição contra a federalização das investigações sobre o atentado contra a então vereadora por medo de “interferências políticas”.
O julgamento que pode levar o caso Marielle para a esfera federal será realizado nesta quarta-feira (27/05) pelo Superior Tribuna de Justiça (STF), oito meses após a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge entrar com o pedido.
Em entrevista ao Metrópoles, Anielle disse vislumbrar riscos na condução do processo caso ele seja tocado pelas instituições ligadas ao governo federal. Ela embasa as suas críticas nas falas do ex-ministro Sergio Moro que, ao pedir demissão do governo, denunciou tentativas de interferência do presidente na PF. Para ela, o ideal é que as investigações permaneçam na esfera estadual.
“A saída do Moro mexe, mas é algo que a gente já previa. Independentemente de ele ficar no cargo ou não, a gente não queria que o crime fosse investigado pela PF. Hoje a gente vive um momento muito delicado. É um momento de muita interferência e de provas que as interferências estão acontecendo e vão continuar. Então, a gente entende que o melhor não é a federalização”, afirmou.
Marielle foi morta há dois anos e dois meses com tiros de fuzil em um atentado que ocorreu na região central da capital fluminense. O crime ocorreu em 14 de março de 2018. Apesar da polícia já ter chegado nos possíveis executores do crime, que também vitimou o motorista Anderson Gomes, ainda não foram identificados os mandantes nem quais os motivos do assassinato.
A relatora do Incidente de Deslocamento de Competência (IDC, nome técnico da federalização), ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), decidiu que não há motivo para adiar o pleito, apesar de duas entidades de direitos humanos terem pedido a suspensão do julgamento.
Dodge apresentou o pedido em seu último dia no cargo. Ela alegou a existência de “inércia” na investigação dos homicídios por parte da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Ao contrário do que alegou Dodge, Anielle argumentou que não haveria motivo técnico para se deslocar a competência para a esfera federal.
“Não é que a gente queira colocar o trabalho de ninguém a frente do outro. Falando em provas técnicas, por exemplo, não há motivos para sair do Rio. E também, com o momento atual do Brasil, politicamente falando, a gente teme por uma interferência sim, que talvez não acontecesse aqui. Por isso a gente prefere que ele fique no âmbito estadual mesmo”, argumentou a professora.
Na sequência, ela destacou também que o ambiente político influencia na preferência. “O nosso motivo para preferir que as investigações continuem no âmbito estadual é também pela bagunça que está acontecendo agora na esfera federal, principalmente com as diversas e imensas intervenções na Polícia Federal”, enfatizou.
Anielle disse que não perde as esperanças de que o crime seja desvendado. “Esperança a gente sempre teve. A gente não sabe se vai alcançar, mas a gente não pode perder a esperança de que esse crime seja desvendado e, em algum momento, a gente possa descobrir quem são os mandantes”, disse Anielle.