Lockdown em SP já é quase certo
Foto: wsfurlan/iStock
Com a elevação do contágio por covid-19, crescente demanda por leitos de UTI e distanciamento social abaixo de 50%, a região metropolitana de São Paulo pode sofrer um ‘lockdown’ ou trancamento – isolamento social compulsório em que as pessoas não podem sair de casa durante período estabelecido por órgãos de governo, exceto para compra de alimentos, medicamentos ou em situações de emergência médica. O propósito de medida dessa natureza é garantir o achatamento da curva de crescimento de uma epidemia.
Os números divulgados ontem durante a entrevista coletiva diária do governo do Estado evidenciam que a saúde pública paulista está cada vez mais pressionada pelo novo coronavírus, apesar dos esforços para viabilizar leitos hospitalares. A taxa de ocupação de leitos de UTI na Grande São Paulo já é de 87,2% e de 68,3% em todo o Estado. São 9,6 mil pacientes internados em São Paulo, dos quais 3.702 em UTI e 5.950 em enfermaria, conforme dados oficiais.
Com 51.097 casos registrados até a tarde de ontem, o Estado de São Paulo já tem mais de 4.118 mortes por coronavírus e o número de vítimas da doença dobrou nas últimas duas semanas. No dia 28 de abril eram 2.049 óbitos.
Ontem, o isolamento social foi de apenas 47% nas 104 cidades com mais de 70 mil habitantes rastreadas pelo Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI), que capta dados de telefonia móvel e indica tendências de deslocamento.
De acordo com o coordenador do comitê da saúde e diretor do instituto Butantan, Dimas Covas, as variáveis que determinam a adoção do lockdown são a taxa de transmissão da doença e o índice de ocupação de leitos de UTI.
“Existem critérios internacionais. O primeiro é a taxa de ocupação de leitos de UTI, que quando ultrapassa os 90%, liga-se a luz amarela. Chegando a 100%, a capacidade máxima, o sistema de saúde começa a entrar em crise. A segunda varável é a taxa de transmissão, a capacidade de um indivíduo transmitir para outros. Quando essa taxa é superior a 1, a pandemia vai progredir. A associação desses dois fatores determina ou não a necessidade de adoção do chamado ‘tranca-rua’, o lockdown”.
Covas disse que o lockdown será necessário se a ocupação de leitos continuar aumentando e o isolamento permanecer abaixo de 50%.
“Nós estamos próximos de 90% de ocupação de leitos e a taxa de transmissão é superior a 1. Então, em princípio estamos reunindo critérios da região metropolitana, principalmente, para começar a considerar essa possibilidade, ela tem de ser considerada sim se não ocorrer uma inflexão tanto na taxa de isolamento como no aumento da ocupação de leitos”, afirmou.
‘Se a população entender que isso [a taxa de isolamento social] é importante, nós podemos ter um reflexo daqui a 15 ou 20 dias e aí afasta-se de vez a possibilidade do tranca-rua”, concluiu Covas.
“Não está descartado o lockdown, mas não há essa expectativa de imediato”, disse o governador João Doria (PSDB). Pressionado por setores empresariais, no dia 22 de abril Doria cogitou flexibilizar a quarentena ainda em maio. Na ocasião o isolamento social chegava perto dos 60%. Mas a perspectiva de relaxamento da quarentena despreocupou parte da população, que voltou a circular, conforme avaliam integrantes da própria equipe de saúde do governo ouvidos reservadamente. Agora, o trancamento parece ser questão de tempo.
Ontem, o Chile decidiu implantar o lockdown em Santiago e em cidades-satélites da capital a partir do dia 15 de maio.