Novo diretor da PF teve carreira apagada até ontem
Foto: Isac Nóbrega
Nas últimas quatro trocas de diretor-geral da Polícia Federal, o nome de Rolando de Souza jamais apareceu entre aqueles que estariam prontos para a empreitada. Nomeado nesta segunda-feira (4), o delegado de classe especial estava fora inclusive da lista de agora, mas entrou aos 45 minutos do segundo tempo, graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal.
Discreto, trabalhador, organizado, sério e de vez em quando estourado são algumas de suas características, segundo descrevem colegas, que devem acompanhá-lo na principal missão que terá à frente da PF: tentar afastar as desconfianças que pairam pela conjuntura de sua escolha.
De poucos amigos e sem ser de grupo, de acordo com os relatos colhidos pela Folha, Rolando estava no lugar e na hora certa.
Após pouco mais de um ano e meio na chefia da PF em Alagoas, o delegado aceitou uma nova missão, a de secretário de Planejamento e Gestão da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), a convite de Alexandre Ramagem.
Foi essa decisão que lhe garantiu um dos postos mais desejados da carreira de um policial federal, o de diretor-geral.
Após ter sua nomeação suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, Ramagem passou a defender o nome do colega para o posto —o que também fez aumentar a desconfiança com que começa o novo trabalho.
Amigo da família Bolsonaro, Ramagem foi citado por Sergio Moro no pronunciamento de despedida, como o delegado que o presidente gostaria de colocar no comando da PF para ter controle e acesso a investigações.
Não há relatos, no entanto, de proximidade de Rolando com Bolsonaro.
Rolando não carrega no currículo investigações de peso contra políticos. Trabalhou, no entanto, por anos à frente do Serviço de Repressão de Desvios de Recursos Públicos, setor considerado importantíssimo no combate à corrupção.
Em entrevistas, chegou a dizer que os corruptos são mais perigosos que traficantes de esquina.
Colegas atribuem a ele o mérito do desenvolvimento de um banco de dados da Polícia Federal, que reúne informações de várias fontes em um só lugar.
Filho de militar, o novo diretor-geral também fez parte da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), mas não chegou a terminar, por um problema que teve em uma de suas pernas.
Nesta segunda, o policial passou parte do dia na sede do órgão, em Brasília. Fez reuniões com os ainda integrantes da diretoria, que aguardavam a nomeação para se desligarem.
Nas conversas, traçou parte dos seus planos, falou na manutenção dos princípios da gestão anterior e de mudanças que deve fazer na nova administração.
Entre colegas, a piada mais feita é que há uma certeza com Rolando: ele será o maior diretor-geral da história da PF, status garantido pelos seus dois metros de altura.
Em março de 2019, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, anunciou a abertura de um inquérito para investigar a existência de fake news que atingem membros da corte.
Paralelamente, em setembro do mesmo ano, a CPMI das Fake News foi instaurada no Congresso.
Desde então, a família Bolsonaro tem se colocado contrária ao funcionamento da comissão, que investiga perfis que fazem parte do arco de apoio do presidente da República.
No final de abril, a Folha revelou que a PF identificou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.
Dentro da Polícia Federal, não há dúvidas de que Bolsonaro quis exonerar o ex-diretor da PF Maurício Valeixo, homem de confiança de Sergio Moro, porque tinha ciência de que a corporação havia chegado ao seu filho.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou a abertura de inquérito para investigar os atos do dia 19 de março.
O pedido foi feito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. O objetivo é apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional por “atos contra o regime da democracia brasileira”.
A investigação mira empresários e ao menos dois deputados federais bolsonaristas, Daniel da Silveira (PSL-RJ) e Cabo Junio Amaral (PSL-MG), por, possivelmente, terem organizado e financiado os eventos.
Na mira da PF também estão youtubers bolsonaristas que chamaram público para os atos. Bolsonaro, que participou dos protestos em Brasília, não será investigado, segundo interlocutores do procurador-geral.
Eles alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios de que o chefe do Executivo ajudou a organizá-los, ele pode vir a ser alvo.
Em agosto de 2019, Bolsonaro anunciou que trocaria o então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, por questões de gestão e produtividade.
A corporação passava por momento delicado, após vir à tona o caso Fabrício Queiroz, policial aposentado e ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia do Rio.
Ele é o pivô da investigação do Ministério Público que atingiu o primogênito do presidente. Relatório federal apontou a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz, de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.
A suspeita é de que o dinheiro seja de um esquema de “rachadinha” —quando funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários aos deputados.
Nomeado nesta segunda-feira (4) pelo presidente Bolsonaro, o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, decidiu trocar a chefia da corporação no Rio