Novo partido de Bolsonaro organizou ato golpista
Foto: Reprodução
Os organizadores do ato antidemocrático realizado no domingo, 3, em Brasília, contaram com o apoio de integrante da cúpula do Aliança Pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro pretende viabilizar para sua próxima candidatura.
O Estado apurou que a manifestação de domingo, que concentrou seus protestos em pedidos da destituição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e no afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), teve ajuda do segundo vice-presidente do Aliança, o empresário Luís Felipe Belmonte.
O auxílio para que organização do evento mobilizasse apoiadores de Bolsonaro em todo o País teve início duas semanas antes. O Aliança pelo Brasil foi a ponte, o contato entre as lideranças de grupos e movimentos de direita, que se organizaram para mobilizar os bolsonaristas em todo o País para participarem da manifestação.
A informação foi confirmada ao Estado pelo próprio Belmonte, que é o terceiro na escala de comando do Aliança pelo Brasil e atua como operador do partido. O Aliança é presidido por Jair Bolsonaro e tem seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), como primeiro vice-presidente. Belmonte é segundo vice-presidente do Aliança.
Questionado diretamente se colaborou com a organização do evento, Belmonte respondeu que ajudou “com essa movimentação que eu fiz das pessoas”. “Eu botei as pessoas em contato. Tinha pessoal de um tipo de movimento, outro tipo de movimento. Eu botei eles em contato e falei ‘vocês combinem e vocês façam a organização disso aí’. Foi isso aí que eu fiz.”
Belmonte disse que não colocou nenhum centavo no evento, que prestou ajuda apenas como cidadão, e não como representante do partido. “Zero. Eu já tenho despesa demais. Não tenho mais porque ficar fazendo isso, não”, disse.
Homem de confiança de Bolsonaro, com papel central no recolhimento de assinaturas para formação do partido de Bolsonaro, Bolmonte disse que fez alguns alertas sobre o que deveria ter a mobilização. “Eu coloquei eles em contato, chamei um, chamei outro. Fiz a questão de dizer que precisaria ter dois tipos de procedimento. Primeiro, que se limitasse a apoio ao presidente Bolsonaro e que se ativesse a questões de competência de cada Poder, e não fora Maia ou fora Congresso.”
Ele chegou a ir pessoalmente no ato de domingo, quando Bolsonaro já tinha deixado a rampa do Palácio do Planalto. Conversou com as lideranças dos movimentos e declarou que era preciso reafirmar o apoio a Bolsonaro, mas sem ruptura de Poderes.
Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), também tem relação estreita com os organizadores do ato. Sua presença estava confirmada em um dos carros de som usados na manifestação que, em diversos momentos, anunciou que Eduardo estava a caminho para falar com os manifestantes. “Daqui a 15 minutos nós vamos descer, o presidente Bolsonaro vai esperar a gente. O Eduardo Bolsonaro está vindo para cá, é coisa de cinco minutos, se juntem aqui. Vamos aguardar Eduardo Bolsonaro”, dizia o organizador no microfone, pedindo que as pessoas mantivessem a aglomeração em frente ao Congresso Nacional, para depois seguirem caminhando até o Palácio do Planalto.
Eduardo Bolsonaro acabou não aparecendo. A reportagem fez contato com a assessoria do deputado, que não se manifestou. Durante a manifestação, um dos líderes do ato, o psicólogo Wagner Cunha, chegou a dizer a um interlocutor que o filho de Bolsonaro tinha ficado receoso de aparecer “por causa do movimento”. “Não pode ficar associado”, comentou.
A ideia de fazer a mobilização deste domingo é reivindicada por Winston Lima, militar reformado ligado aos movimentos conservadores. Ele costuma transmitir diariamente falas do presidente em frente ao Palácio da Alvorada em seu canal no YouTube, o Cafezinho com Pimenta. Ao Estado, Lima confirmou que teve a ideia de mobilizar bolsonaristas duas semanas antes do ato. Ele nega qualquer tipo de apoio financeiro de partidos políticos, diz que tudo ocorreu por meio de vaquinha de apoiadores e que ele próprio doou R$ 600 para a mobilização.
Questionado por que Eduardo Bolsonaro foi anunciado várias vezes, mas não apareceu, Lima disse que não sabia. O filho do presidente participou do ato mais tarde, quando esteve ao lado do pai na rampa do Palácio do Planalto.
As ações da manifestação, segundo o militar reformado, foram centralizadas pela Organização Nacional dos Movimentos (ONM), que tem integrado grupos de direita. Os organizadores prometem uma nova mobilização para o próximo sábado, 9. “Era um ato para o presidente, para a família do presidente, que está sendo muito atacada”, disse Lima. “Foi um ato espontâneo, não existe uma organização.”
Depois que a notícia foi publicada, Belmonte entrou em contato com a reportagem para dizer que ele foi procurado pelos líderes dos movimentos de direita e que, a partir daí, colocou essas pessoas em contato. “Eles que me procuraram, não fui eu. Eu só ajudei com os contatos porque me procuraram”, afirmou.
Sobre sua atuação no Aliança, disse que continua a ser vice-presidente do partido “apenas formalmente”, mas que não tem desempenhado funções na legenda desde março.
No domingo, o nome de Belmonte foi citado várias vezes pelos organizadores do ato. “Eu queria que todos soubessem que o futuro segundo vice-presidente do Aliança Pelo Brasil, partido de Bolsonaro – é o terceiro no comando, primeiro é o Bolsonaro, segundo é o Flavio Bolsonaro, terceiro é o Luís Felipe Bolmonte – ele estaria aqui, mas não pôde, mas está de coração”, disse o líder Winston Lima, quando Belmonte ainda não tinha chegado à manifestação. “Trouxe alguns representantes pessoais dele, da família. Então, eu queria agradecer à pessoa do Luís Belmonte por tudo que tem feito, e no recolhimento das fichas para criação do futuro partido Aliança pelo Brasil”, afirmou Lima.
Os agradecimentos ao dirigente do Aliança também partiram de outro líder do movimento, Wagner Cunha. “Eu queria agradecer pessoalmente. Esse é um agradecimento de coração para o doutor Luís Felipe Belmonte, que não está aqui presente, mas muito nos honra, a nossa amizade, o nosso carinho, a nossa consideração e o nosso respeito. O Brasil inteiro te agradece. Vamos juntos. É pelo Brasil”, disse. Wagner Cunha encontraria Belmonte pouco tempo depois dessa declaração, durante a manifestação.
Belmonte nega que tenha enviado assessores ou familiares ao evento, como disse Winston Lima. E frisou que só foi até a manifestação, “como cidadão”, porque algumas lideranças queriam conhecê-lo.