PF cobrará independência de chefe indicado por Bolsonaro
Foto: Isac Nóbrega/PR
Após a nomeação do braço direito de Alexandre Ramagem, o delegado Rolando Alexandre de Souza, para a diretoria-geral da Polícia Federal, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais afirmou que cobrará do novo chefe da corporação o comprometimento para com uma gestão técnica e livre de ingerências políticas. Em nota, o presidente da entidade Marcos Camargo indica ainda que a APCF zelará para que a corporação siga trabalhando com independência investigativa.
A Federação Nacional dos Policiais Federais também se manifestou se dizendo vigilante em relação à autonomia das operações e dos trabalhos investigativos da PF. “A Federação Nacional dos Policiais Federais não se furtará à defesa intransigente dos trabalhos de investigação da Polícia Federal e de todos os policiais federais, buscando sempre a melhoria e independência das investigações criminais em nosso país”, afirmou a entidade em nota.
A nomeação de Rolando foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União nesta segunda-feira, 4. Logo em seguida, o presidente Jair Bolsonaro deu posse ao novo chefe da PF em seu gabinete entre as 10h e 10h20.
Rolando é considerado homem de confiança de Alexandre Ramagem, primeira escolha de Bolsonaro que foi barrada foi liminar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A sua indicação é uma forma do Planalto ‘driblar’ a decisão. O número 2 da Abin foi superintendente regional da PF em Alagoas, chefe do Serviço de Repressão a Desvios de Recursos Públicos em Brasília. Ele está nos quadros da corporação há 15 anos.
Como mostrou o Estado no sábado, a nomeação de Rolando é vista como uma alternativa do presidente para manter a influência de Ramagem, que é próximo à família Bolsonaro, na Polícia Federal. Segundo interlocutores do presidente, o diretor-geral da Abin participou diretamente das decisões sobre o futuro do comando da PF, uma atribuição do ministro da Justiça, André Luiz Mendonça.
Segundo apurado pelo Estado, o presidente está preocupado com algumas investigações, entre elas a que mira ‘fatos em tese delituosos’ envolvendo a organização de atos antidemocráticos. Outras apreensões do presidente são a apuração sobre o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) que trata de um esquema de ‘rachadinha’ na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e o avanço do inquérito das ‘Fake News’, que poderia atingir seus filhos e até mesmo servidores que atuam no chamado ‘gabinete do ódio.
Rolando estava na Superintendência da Polícia Federal em Alagoas até setembro do ano passado, quando assumiu a secretaria de Planejamento e Gestão da Abin a convite de Ramagem. Antes de ser vetado no comando da PF, o chefe da agência de inteligência já montava sua equipe na cúpula da instituição e levaria Rolando com ele.
O novo diretor-geral da PF entrou na corporação em 2001, como agente. Cinco anos depois passou no concurso para delegado e atuou por anos na região norte do País. Ganhou destaque dentro da instituição quando coordenou o grupo que criou o sistema Atlas, uma rede de unifica cerca de 70 bases de dados e que passou a ser usado em investigações sobre crimes financeiros.
A diretoria-geral da PF foi pilar da crise que culminou da demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ao deixar o cargo disse que o presidente queria fazer interferência política na Polícia Federal e ter acesso a relatórios de inteligência. No último sábado, o ex-juiz prestou depoimento na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR) no qual reforçou as acusações ao presidente. Moro citou ministros como testemunhas e entregou seu celular para perícia das mensagens trocadas com Bolsonaro.