Trump perde popularidade e não deve se reeleger

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Foto: Ivan Alvarado/Reuters

A Covid-19 desatou uma enxurrada de notícias, e a eleição americana, daqui a cinco meses, acabou submersa páginas adentro dos jornais. Em condições normais, disputas presidenciais nos EUA já têm amplas implicações para o planeta. Desta vez, o voto sobre a reeleição de Donald Trump, em meio a uma pandemia e à pior recessão global em décadas, será uma encruzilhada na história.

A novidade é o cenário mais favorável a Joe Biden e aos democratas. Em março, enquanto os números da Covid-19 explodiam, a popularidade de Trump subiu a patamares inéditos desde o primeiro mês de seu governo (quase 46%). Parecia que, como em outras crises, americanos se uniriam em torno do presidente para enfrentar o desafio comum. Pensava-se que Trump poderia virar um “war president”, com aprovação em alta –como, por exemplo, Bush pai e filho haviam sido na Guerra do Golfo e no pós-11 de Setembro.

Já está claro que isso não ocorrerá. Em vez do discurso da união, Trump dobrou a aposta na guerra contra os democratas, sobretudo governadores. Fora das hostes trumpistas, quase ninguém se entusiasmou com um presidente que sugeria injetar desinfetante para tratar o vírus. Sua popularidade está em queda desde o início de abril, e o “efeito Covid-19”, superado.

Segundo uma pesquisa da insuspeita Fox News, o número de americanos que dizem aprovar a atuação de Trump desceu dez pontos, desde o início da pandemia. Foi, porém, uma queda altamente desigual. Entre mulheres, a cifra baixou 25 pontos. Entre eleitores independentes, 26 pontos. Entre homens, o oposto: uma subida de 8 pontos.

A intenção de voto da população também mudou. Em abril, Biden e Trump empatavam em 42%; agora, o democrata lidera com 48% contra 40%.

Claro, a eleição presidencial nos EUA passa pelo colégio eleitoral, numa corrida para “virar” alguns poucos estados. Hillary Clinton teve quase 3 milhões de votos a mais do que Trump em 2016, mas Michigan, Pensilvânia e Wisconsin custaram sua eleição.

Nos estados, porém, a situação de Biden também parece melhor. As pesquisas mais recentes o colocam à frente nos seis principais “swing states” (estados-pêndulo). Em Michigan, onde Trump derrotou Hillary por uma margem de 0,2 pontos, o democrata abriu uma vantagem de 5 pontos. Na Pensilvânia, onde a diferença foi de 0,7 pontos em 2016, Biden lidera com 9 pontos.

Além da disputa presidencial, a chance de democratas retomarem o Senado subiu. Para isso, eles teriam de ampliar em três cadeiras sua base atual, se levarem a Casa Branca (um assento é reservado ao vice-presidente). A rejeição a Trump está contaminando candidaturas em vários estados, do Arizona ao Maine. Outra desvantagem: das vagas em disputa no Senado, o dobro atualmente está sob controle republicano. Democratas terão o benefício da ofensiva.

Há, certamente, enormes pedras no seu caminho. Na era da Covid-19, cinco meses são uma eternidade. Trump pode reverter desvantagens, sobretudo se a economia dos EUA começar a reabrir com sucesso. Biden está em quarentena no porão de sua casa, enquanto o presidente é uma presença permanente no noticiário. Outro ponto crucial será o comparecimento às urnas. Democratas dependem de altas taxas de votantes, algo ainda mais difícil na pandemia.

Ainda assim, o cenário de uma presidência Biden, incluindo com controle sobre o Congresso, nunca pareceu tão provável. ​​

Folha