Zambelli soube antes de operação da PF contra governadores

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Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Um dia antes da Polícia Federal (PF) deflagrar nesta terça-feira a Operação Placebo e cumprir mandandos de busca de apreensão na residência oficial e endereços ligados ao governador do Rio, Wilson Wiztel (PSC), e sua mulher, Helena Witzel, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), apoiadora do presidente Jair Bolsonaro, afirmou em entrevista à “Rádio Gaúcha” que, após a saída do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, do governo teríamos nos próximos meses operações para apurar a conduta de “alguns” governadores em investigações sobre suspeitas de irregularidades na área da Saúde.

“Justamente na semana em que o ex-juiz Sergio Moro saiu do Ministério da Justiça e a gente colocou – a gente que eu digo governo -, o presidente Jair Bolsonaro colocou um delegado da Polícia Federal… a gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam na agulha para sair, mas não saiam. A gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar, talvez, de “Covidão” ou de… não sei qual vai ser o nome que eles vão dar… mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”, afirmou a deputada.

Após sair do governo, Moro – que foi padrinho de casamento de Zambelli – divulgou uma conversa em que a deputada pede para ele aceitar a demissão do então diretor-geral da PF Maurício Valeixo, pessoa de sua confiança, em troca de uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal. Zambelli afirmou no depoimento que a proposta foi para “incentivar” Moro a permanecer no Ministério da Justiça.

“ Por favor ministro, aceite o Ramagen, e vá em setembro para o STF. Eu me comprometo a ajudar a fazer JB (Jair Bolsonaro) prometer”, diz Carla.

Em resposta, Moro afirma: “Prezada, não estou à venda”.

Na manhã desta terça-feira, a PF cumpriu mandados no Palácio Laranjeiras, na casa onde Witzel morava antes de ser eleito, no Grajaú, e no escritório de advocacia do governador, que é ex-juiz federal. A operação Placebo apura suspeitas de desvios na Saúde do Rio para ações na pandemia do novo coronavírus. Witzel e a esposa, Helena, são alvos da operação, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Investigações iniciadas no Rio pela Polícia Civil, pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal apontam para a existência de um esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do estado.

Bolsonaro atribuiu a Witzel o vazamento à imprensa das investigações sobre o crime que citaram uma suposta conexão entre ele e o caso. A tentativa de associar Bolsonaro ao assassinato de Marielle despertou a ira dos bolsonaristas. O governador nega as acusações. Witzel disse que “jamais vazou” qualquer tipo de informação e que as primeiras declarações fortes de Bolsonaro.

As trocas de farpas são frequentes e xingamentos também. O último deles aconteceu em uma reunião ministerial no dia 22 de abril, quando o presidente chamou o governador do Rio de Janeiro de “estrume”. O vídeo da reunião oficial, feita dentro da sede do governo, foi divulgado há pouco por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), dentro de uma investigação para verificar denúncia de que o presidente tentou interferir na Polícia Federal.

“O que esse bosta do governador de São Paulo e o estrume do Rio de Janeiro estão fazendo com o vírus!”, diz Bolsonaro exaltado à mesa com os ministros. “Os governadores querem levar o terror para o Brasil”.

O Globo