Advogado de Flávio orientou mãe de miliciano morto
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O Ministério Público do Rio descobriu que em dezembro de 2019, Fabrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), sua mulher, Márcia Oliveira de Aguiar – foragida da Justiça – e o advogado Luiz Gustavo Botto Maia, também ligado ao filho mais velho do presidente, Jair Bolsonaro, teriam orientado a mãe do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, a ficar “escondida”.
“Foi possível verificar que Raimunda Veras Magalhães foi orientada por Fabrício José Carlos de Queiroz a permanecer escondida, temendo a retomada da investigação”, informa os autos da Operação Anjo, deflagrada nesta quinta-feira, 18, que prendeu Queiroz. Capitão Adriano foi morto pela polícia, em fevereiro, na Bahia, após reagir à prisão. Desde janeiro de 2019, ele tinha prisão decretada na Operação Intocáveis – contra a milícia de Rio das Pedras.
Flávio Bolsonaro é investigado por desvios na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O ex-chefe de gabinete, Fabrício Queiroz, foi preso em uma casa em Atibaia (SP), que pertence ao advogado Frederick Wassef, homem de confiança do presidente.
A ex-mulher do Capitão Adriano, Danielle Mendonça da Nóbrega, e a mãe do miliciano eram empregadas no gabinete do filho mais velho do presidente. Juntas as duas receberam R$ 1 milhão em salários da Alerj e devolveram pelo menos R$ 202 mil em transferências identificadas para conta de Queiroz e outros R$ 200 mil ainda não identificados.
O Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) aponta que Queiroz era um “operador financeiro” de Flávio. Homem de confiança da família Bolsonaro, Queiroz admitiu responsabilidade sobre a captação de parte dos salários dos assessores do gabinete, sem conhecimento do ex-chefe. O valor seria para subcontratar outros assessores, mas nunca foi identificada tais contratações.
Ao todo, foram R$ 2 milhões identificados em 483 depósitos de outros assessores na conta de Queiróz. No mesmo período, ele sacou R$ 2,9 milhões em espécie. Para a Promotoria, a movimentação em dinheiro vivo serviu para ocultar a origem e o destino dos valores. Quase R$ 1 milhão, seguem sem identificação.
Na decisão que decretou a prisão de Fabrício e da mulher, o juiz Flávio Nicolau, da 27ª Vara Criminal da Capital, destacou o suposto envolvimento do ex-assessor do senador com milicianos do Rio de Janeiro. O juiz cia informações obtidas pelo Ministério Público do Rio, responsável pelas investigações, que apontam que o miliciano teria repassado mais de R$400 mil para as contas de Queiroz.
Na decisão, o juiz aponta outros indícios de uma suposta ‘influência’ de Queiroz sobre as milícias do Estado. Em mensagens trocadas com mulher, Márcia Aguiar, o ex-assessor parlamentar se compromete a ‘interceder pessoalmente’ junto a milicianos em favor de um homem que pede sua ajuda após receber ameaças de paramilitares no Itanhangá.
Os promotores tentaram localizar Raimunda Magalhães em 2018 e 2019, mas nunca conseguiram entregar a intimação para que ela fosse prestar depoimento. As apurações mostraram que ela estaria em Minas Gerais. Queiroz e a mulher – que não foi localizada nas buscas – tiveram prisão decretada por tentativa de obstrução de Justiça.
Na decisão, o magistrado destaca um trecho da conversar em que sugere que o advogado Gustavo Botto, que foi defensor de Flávio no caso e também atuou como advogado do partido, teria contato com Wassef, identificado como “anjo”, antes da reunião com familiares do miliciano. O apelido do defensor da família Bolsonaro foi a origem do nome da operação desta quinta. Botto teria se deslocado no final de 2019 para acompanhar conversa com a mulher do miliciano.
O nome do ex-chefe de gabinete de Flávio na Alerj caiu no radar das autoridades em 2018. Relatório de inteligência financeira, do antigo Coaf (atual Unidade de Inteligência Financeira), listou centenas de operações financeiras suspeitas de políticos, assessores parlamentares, servidores e ex-servidores, relacionadas a 22 núcleos de gabinetes.
São apurados crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro, no suposto esquema de “rachadinha” (apropriação de salários de assessores) no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Alerj. Flávio ocupou cadeira na Assembleia de 2003 a 2018.
Foram identificados seis núcleos no suposto esquema, envolvendo Fabrício Queiroz, suas duas filhas, o atual chefe de gabinete de Flávio no Senado, Miguel Ângelo Braga Grillo, o próprio senador, sua mulher, seu sócio, a família da ex-madrasta, Ana Cristina Siqueira Valle, e familiares do Capitão Adriano.
Preso em Atibaia, Fabrício Queiroz estava sem advogado desde dezembro do ano passado, quando Paulo Klein deixou sua defesa. Neste mês, contratou Paulo Emílio Catta Preta, defensor de Brasília, que atuou para o Capitão Adriano.