Bolsonaro buscará popularidade com programas de renda
Foto: Alan Santos/PR / Agência O Globo
Pressionado pelo avanço de investigações contra aliados e o caso Queiroz, e em busca de melhorar a imagem do seu governo e virar a página do conflito com outros Poderes, o presidente Jair Bolsonaro prepara uma nova rodada de agendas públicas para o segundo semestre deste ano. A ideia é trocar o gabinete presidencial e o cercadinho de apoiadores na porta do Palácio da Alvorada por viagens ao redor do Brasil inaugurando obras concluídas na sua gestão, assim como fez na última sexta-feira com a transposição do Rio São Francisco, no Ceará.
Outra frente gestada no Planalto para garantir ao presidente o piso de ao menos 30% de apoio popular, como mostram as últimas pesquisas, é tentar transformar o futuro programa “Renda Brasil” numa marca do governo, de olho no eleitorado de renda mais baixa, ao qual o atual auxílio emergencial contra a pandemia representou um aceno.
Para a série de inaugurações, os ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Tereza Cristina (Agricultura) estão preparando itinerários de entregas para o presidente. Freitas pretende anunciar na quinta-feira o calendário com mais de 30 obras a serem inauguradas até o fim do ano. Serão entregues trechos concluídos de rodovias, novos viadutos, pavimentação de estradas, restauração e pontes.
Já a “reembalagem” de benefícios como o Bolsa Família, o abono salarial e o seguro-defeso em torno do “Renda Brasil”, para transformá-lo numa marca do governo, tem sido debatida com aliados políticos, como deputados de partidos de centrão que se aproximaram do governo.
— Eu disse que o governo precisaria ter uma marca, como a Dilma teve o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o Lula teve o Bolsa Família. E o presidente disse que algumas coisas no governo estão indo bem, como as estatais, a agricultura, e que a marca vai ser o Renda Brasil — diz o deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP), presente a uma reunião na última quarta-feira com Bolsonaro no Planalto.
Reportagem publicada pelo GLOBO no último sábado mostrou que o auxílio emergencial de R$ 600 pago pelo governo federal para mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus atingiu o coração do principal bastião petista desde 2002 — o interior das regiões Norte e Nordeste do país. Um cruzamento feito a partir das bases de dados do Ministério da Cidadania, que executa o benefício, e do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV), que organiza e disponibiliza dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aponta que as cidades onde Bolsonaro registrou suas menores votações no segundo turno contra Fernando Haddad (PT), em 2018, são aquelas onde o benefício atinge a maior parcela da população.
Embora moradores dessas regiões admitam que o auxílio fez balançar a alta fidelidade petista, especialistas lembram que a curta duração do benefício torna incerto o ganho político pelo presidente. O governo federal anunciou que pagará mais três parcelas do auxílio, nos valores de R$ 500, R$ 400 e R$ 300.
Na mesma reunião em que comunicou a vontade de rodar o país, Bolsonaro demostrou preocupação em visitar alguns estados cujo governadores são de partidos da oposição. Na semana passada, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), se recusou a participar do evento no rio São Francisco.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) diz ter enfatizado ao presidente que mostrar as ações apenas nas redes sociais não tem sido suficiente para divulgar o governo.
— Eu disse: “o senhor está vendo que suas redes sociais não estão sendo suficientes. O senhor precisa ampliar a sua base de comunicação. O governo está fazendo, mas falta chegar na boca do povo” — lembrou Otoni de Paula, endossado na ocasião pelo senador Zequinha Marinho (PSC-PA).
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), disse que a atual gestão já passou por muita briga ideológica e aparições no “cercadinho” nos últimos meses, e que agora é hora de mostrar o que foi feito e entregue nos estados. Gomes lembra, ainda, que o presidente perdeu a oportunidade de comparecer à entrega de equipamentos rurais no Amapá, em junho, agenda em que esteve o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
— O governo está terminando as obras inacabadas, as obras seguem o percurso sem os escândalos de praxe e Bolsonaro percebeu que (viajar) é o caminho que ele tem que fazer, mas ele tem que ver qual a capacidade de rodar com as restrições de saúde impostas pela pandemia — diz.
Além da negação da gravidade da pandemia, a gestão Bolsonaro ainda enfrenta desgaste por entregar postos-chave do Executivo ao centrão, grupo político atacado no passado pelo presidente. Segundo o colunista Lauro Jardim, o Republicanos vai conquistar mais um cargo: a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura.