Carla Zambelli reconhece que Centrão é corrupto
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Próxima ao presidente Jair Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) diz não ter ficado feliz com a entrada do centrão no governo, mas afirma que o Planalto tentou formar uma base ‘no amor’. Ela defende que a democracia não está em risco e que não vê as Forças Armadas realizando uma intervenção. Investigada no inquérito das fake news, ela acredita que, com a votação nos próximos dias, ele será derrubado ou divido e diz que “esse inquérito é todo dividido”.
O presidente faz algo que ele e seus apoiadores, a senhora incluída, falaram que ele nunca faria, um pacto com o centrão. Como avalia a aproximação?
Não questionei, até porque não cabe a mim. Os cargos de primeiro escalão não foram loteados, continuam técnicos. Não gostaria de dar nenhum cargo de primeiro escalão e estatal para o centrão. Fico feliz que pessoas do centrão possam compor o governo? Não. Mas fico em paz quando sei que temos um CGU muito ativo e uma Polícia Federal livre para fazer o que quiser. E precisamos aprovar certas coisas no Congresso. Tentamos formar a base no amor, conversando, mas eventualmente os cargos precisam ser distribuídos. Se esses caras começarem a roubar, vai aparecer.
Um aliado do presidente hoje é Arthur Lira (PP), que deseja presidir a Casa e foi acusado de corrupção passiva. Votaria nele?
Não, não voto no Arthur Lira. Para o Rodrigo Maia anunciei o voto, porque achei que nos ajudaria, mas a relação acabou ficando difícil. Não voto no Arthur Lira porque precisaria escutar muito bem as linhas que ele seguiria na presidência. Não tenho nada contra ele pessoalmente, todos têm direito à defesa, mas teria que ouvi-lo para saber se é um conservador.
Eduardo Bolsonaro falou que uma ruptura institucional é questão de “quando”. Haverá uma ruptura democrática?
Não. A democracia não está em risco. Mas, se algumas pessoas de alguns poderes continuarem agindo como agem, com certo abuso de autoridade, cada vez mais vamos ter um público preocupado com isso, e essas pessoas terão dificuldade de sair à rua.
Vê as Forças Armadas fazendo um golpe?
Não vejo. Não vejo os generais da ativa dispostos a entrar em intervenção e não vejo o presidente com vontade de fazer isso. De vez em quando ele dá um grito, que é o que todo mundo que passa por o que ele passa faria. Hoje, não vejo. Conheço o (jurista) Ives Gandra Martins, foi meu professor, meu orientador. Em 2015, eu o procurei, falei: “Vou virar intervencionista, o Nas Ruas (movimento então liderado por Zambelli) vai pedir intervenção”. Ele falou: “Você não vai fazer isso, vamos derrubar ela (Dilma Rousseff) de forma democrática”. Esse mesmo professor foi falar sobre as coisas que o STF tem feito para avançar sobre o Executivo e falou em artigo 142. Ninguém fala em derrubar o STF, mas eventualmente as Forças Armadas atuarem como poder moderador. Como invasão de poder, as Forças Armadas são garantidoras da Constituição e quando se tem o poder Executivo sendo invadido, pode pedir 142. Mas não vejo o presidente disposto a fazer isso agora. Vejo disposto a baixar a temperatura, dialogar.
Qual sua expectativa sobre a votação no STF sobre o inquérito das fake news?
Ou que vai ser derrubado ou dividido, que é um dos posicionamentos do Aras. Segundo ele, 98% não guardam relação com o que é discutido no inquérito.
Contexto: Não existe previsão legal para intervenção militar
O artigo 142 da Constituição é usado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro para justificar uma suposta previsão legal de que as Forças Armadas podem interferir em outros Poderes. Na semana passada, ministros do STF, a OAB e o procurador-geral da República, Augusto Aras, se manifestaram publicamente para desfazer essa interpretação, que, segundo eles, é equivocada. A Constituição não confere poder de moderação às Forças Armadas. Como não há hierarquia entre Poderes (cada um deve fazer autocontenção), uma intervenção representaria o desrespeito do princípio da separação dos Poderes.