Carreira política de Weintraub tem mesmos choramingos da acadêmica
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Abraham Weintraub comprou várias brigas dentro e fora do governo e se queixava de só levar “bordoada” nos 14 meses em que foi ministro da Educação. Weintraub foi contra, por exemplo, entregar a presidência e diretorias do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento de R$ 29,4 bilhões, a partidos do Centrão, grupo conhecido no Congresso pelo “toma lá, cá cá”. Bateu o pé enquanto pôde, obrigando o presidente Jair Bolsonaro a lhe dar um ultimato: ou aceitava ou tinha de sair. À época, ele cedeu.
Na reunião ministerial de 22 de abril, Weintraub não apenas afirmou que, por ele, despacharia “vagabundos” do Supremo Tribunal Federal (STF) para a cadeia como mencionou várias vezes que o governo não estava sendo duro contra os privilégios. Além disso, reclamou de “intrigas palacianas” e disse que, em Brasília, o jogo já era jogado. “Mas eu não vim pra jogar o jogo. Eu vim aqui pra lutar. E eu luto e me ferro”, protestou, ao lembrar que respondia a processos na Comissão de Ética da Presidência.
“Fico escutando esse monte de gente defendendo privilégio, teta (…) Negócio. Empréstimos. A gente veio aqui para acabar com tudo isso, não para manter essa estrutura”, criticou. Cinquenta e sete dias depois dessa reunião, Weintraub caiu.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu a cabeça de Weintraub. Ministros do Supremo, também. Não é de hoje, porém, que Weintraub vinha escancarando suas divergências com os rumos do governo. Em fevereiro, por exemplo, ele expôs o descontentamento com a decisão de Bolsonaro de levar o general Walter Braga Netto para a chefia da Casa Civil, deslocando Onyx Lorenzoni para a Cidadania.
A mais de um interlocutor, Weintraub disse que os militares sempre quiseram ocupar cargos estratégicos no Executivo para tutelar Bolsonaro. A ideia seria transformá-lo em uma espécie de rainha da Inglaterra, que reina, mas não governa. Em conversas reservadas, mostrou receio de que esse “reforço” das Forças Armadas pudesse se voltar contra o próprio presidente mais adiante.
Weintraub e Onyx chegaram a discutir estratégias para se contrapor à ofensiva dos militares. Não conseguiram. A ala ideológica do governo está cada vez mais preocupada com o avanço dos generais sobre o primeiro escalão, inclusive no Ministério da Saúde.
Economista, Weintraub assumiu o MEC em abril do ano passado, após a demissão de Ricardo Vélez Rodriguez, que ficou apenas três meses no cargo. À época, ele era secretário-executivo da Casa Civil, então ocupada por Onyx. Naquele mesmo mês, Weintraub ameaçou cortar recursos de universidades que estivessem promovendo “balbúrdia” em seus câmpus, em vez de melhorar o desempenho acadêmico, como mostrou o Estadão.
De lá para cá, o ministro protagonizou uma sucessão de polêmicas. Em maio de 2019, por exemplo, ele chegou até mesmo a divulgar vídeo nas redes sociais no qual aparecia girando um guarda chuva aberto. O fundo musical era o clássico “Cantando na chuva”, de 1952. Tudo para dizer que choviam fake news contra o MEC por parte de pessoas “de mal com a vida”.
Em abril deste ano, Weintraub postou uma publicação irônica contra a China, insinuando que o país asiático sairia “fortalecido” da crise causada pelo coronavírus. Não foi só: afirmou que a China segurou informações sobre a pandemia para vender respiradores e máscaras a preço de leilão.
O então ministro também fez piada com o sotaque dos chineses, comparando-o ao do personagem “Cebolinha”, criado por Maurício de Sousa. Usou a imagem dos personagens da Turma da Mônica na Muralha da China e quase provocou uma crise diplomática. Por causa desse episódio, Weintraub é alvo de inquérito no Supremo que apura prática de racismo. Além disso, as afirmações de que botaria “esses vagabundos todos na cadeia, começando pelo STF” estão na mira da investigação sobre fake news, em curso naquela Corte.