Deputados que invadiram hospital em SP violaram norma sanitária

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Foto: TIAGO QUEIROZ/Estadão Conteúdo

Um grupo de cinco deputados estaduais de São Paulo invadiu na tarde desta quinta-feira, 5, o Hospital de Campanha do Anhembi, na zona norte da cidade, sob o argumento de fazer uma vistoria no local, que recebe pacientes de baixa e média complexidade infectados pelo coronavírus. Em nota, a Prefeitura informou que “reitera total repúdio a atitudes violentas e ações deliberadas para tentar enganar a opinião pública”.

As supostas irregularidades que o grupo iria denunciar estavam ligadas à subutilização do espaço, que tem capacidade para até 1.800 pacientes e atende, no momento, 407 pessoas. A entrada do grupo feita mediante empurrões e gritos entre os parlamentares, seus assessores e funcionários do hospital. Os deputados postaram essas cenas em suas redes sociais.

Para a Prefeitura, o deputados agiram “de maneira desrespeitosa, agredindo pacientes e funcionários verbal e moralmente, colocando em risco a própria saúde porque inicialmente não estavam usando EPI e a própria vida dos cidadãos que estão internados e em tratamento na unidade.”

Ao Estadão, um dos deputados, o Coronel Telhada (PP), questionou o fato de que havia leitos ociosos. “Como eles estão falando que vão ter de transferir pacientes para o interior, se tem leitos aqui?”

Telhada, na pergunta, confundia leitos de enfermaria, como os que existem no hospital, com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que são mais escassos porque precisam de equipamentos mais complexos, como respiradores e máquinas para hemodiálise. O hospital de campanha não tem leitos de UTI, mas possui alguns desses equipamentos para a estabilização de pacientes caso apresentem piora de saúde. Questionado sobre a isso, respondeu: “É só montar a UTI ali.”

Com informações imprecisas como esta, os deputados que invadiram o hospital fizeram lives em suas redes sociais, filmando a si mesmos enquanto caminhavam pelo local.

Telhada nega que tenha invadido o espaço. “Liguei para secretário (da Saúde) Edson Aparecido”, disse. Segundo Telhada, funcionários e o próprio secretário tentaram pedir para os deputados agendarem um horário, mas o deputado disse que não queria esperar.

O acesso ao hospital só é feito mediante o uso de uma série de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), para evitar que pessoas de fora possam se infectar também. Além do risco à própria saúde, as pessoas de fora, caso contaminadas, podem transmitir o vírus para outras pessoas, inclusive para gente do grupo de risco, que pode morrer.

Telhada citou ainda os valores pagos com seguranças e para a hospedagem de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos que trabalham no local, que superaria R$ 18 milhões, porém sem afirmar que o valor é irregular. Também citou que uma das empresas que administra o hospital, o Iabas, está envolvida em irregularidades no Rio de Janeiro, sem também apontar nenhuma suspeita concreta sobre o contrato com a Prefeitura.

O deputado, entretanto, reconheceu que os pacientes relataram que estão sendo bem tratados pela equipe do hospital. “Preciso ser justo, também”, disse.

Os políticos que promoveram a invasão são: Adriana Borgo (Pros), Marcio Nakashima (PDT), Leticia Aguiar (PSL) e Sargento Neri (Avante), além de Telhada. Eles formaram um grupo na Assembleia Legislativa chamado “PDO”, de Parlamentares em Defesa do Orçamento, com o argumento de verificar gastos públicos durante a pandemia. O grupo faz oposição ao governador João Doria (PSDB).

Violência. “Além da invasão e das atitudes violentas, os parlamentares filmaram as alas do Hospital Municipal de Campanha do Anhembi que ainda não foram ativadas, mas que estão prontas para serem colocadas em funcionamento caso seja necessário”, disse a Prefeitura, por nota. “E também gravaram pacientes sem autorização prévia, muitos dos quais estavam sendo higienizados em seus leitos.”

A Prefeitura afirma que mais de 2.800 pacientes já foram atendidos no local. A gestão Bruno Covas (PSDB) publica relatório diário da ocupação dos hospitais, e já permitiu o acesso do local à imprensa. O Estadão esteve lá no fim de abril.

“A Prefeitura de São Paulo reitera total repúdio a atitudes violentas e ações deliberadas para tentar enganar a opinião pública”, finaliza a nota.

Estadão