Empresa ligada a ministro do Turismo recebeu R$ 270 mil
Foto: Jake Spring – 16.jan.19/Reuters
Implicada no escândalo das candidaturas laranjas em Minas Gerais, uma empresa ligada a um ex-assessor do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, está entre as que mais receberam dinheiro público do PSL em 2020.
De janeiro a abril, ela aparece sete vezes contratada para a realização de pesquisas e testes de opinião pública, ao preço de R$ 267,2 mil. Alvo de busca e apreensão no ano passado, a I9 Minas e Assessoria foi apontada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como parte do esquema de desvio de recursos de candidatas de fachada na eleição de 2018.
A empresa é de Reginaldo Donizete Soares, irmão de Robertinho Soares, que foi auxiliar parlamentar de Álvaro Antônio por três anos e seu coordenador de campanha no Vale do Aço, em Minas. Robertinho chegou a ser preso na investigação dos laranjas.
Reginaldo diz que prestou os serviços para os quais foi contratado, mas afirma não saber por que o pagamento foi feito pela executiva nacional do PSL.
O presidente Jair Bolsonaro se elegeu pelo partido, mas acabou se desfiliando no final de 2019.
De acordo com inquérito da PF sobre as suspeitas de desvios em 2018, a I9 recebeu, também a título de pesquisas de votos, R$ 38,1 mil de duas candidatas ligadas ao ministro do Turismo.
Na apuração, no entanto, a polícia não encontrou nenhum indício de que as entrevistas eleitorais tivessem sido de fato realizadas para as duas mulheres.
Na busca feita na empresa, a PF achou documentos de pesquisas para dois candidatos, Álvaro Antônio e Professor Irineu, ambos do PSL. “Nenhum dos dois declararam na prestação de contas ter contratado a empresa”, escreveu a PF no relatório de análise do material apreendido nos endereços de alvos.
A conclusão da investigação foi que os candidatos homens foram beneficiados pelas candidaturas de mulheres, tendo recebido recursos do fundo partidário repassados pela cota de gênero. Em outubro do ano passado a Polícia Federal indiciou o ministro do Turismo.
No mesmo dia o Ministério Público denunciou Álvaro Antônio e mais nove pessoas, entre elas Reginaldo Donizete Soares. Todos eles negam participação em irregularidades.
Reginaldo Donizete afirmou à Folha, nesta semana, que realizou 13.250 entrevistas residenciais em 36 municípios no leste de Minas, com uma equipe contratada de 16 a 20 pessoas, entre entrevistadores e a parte operacional. O objetivo, diz o empresário, era testar a viabilidade eleitoral de nomes do PSL ou em vias de filiação ao partido para as eleições a prefeito e vereador, marcadas para outubro.
A pedido da reportagem, ele enviou o relatório das pesquisas produzidas, com cerca de 50 páginas cada uma. Reginaldo disse ainda que não sabe por que o pagamento foi feito pelo PSL nacional e não pelo estadual e que sua contratação se deu por meio do deputado federal Charlles Evangelista, atual presidente do partido em Minas.
Sobre a denúncia do Ministério Público relativa ao caso das laranjas, ele nega irregularidade.
“Eu tenho um problema sério de falar sobre essa situação ainda, mas acho que está sendo resolvida. Não foi detectada nenhuma prova de que houve desvio de recursos público. A parte da Justiça deixo com a Justiça, a Justiça vai cuidar. Os advogados estão cuidando da melhor forma. E a gente continua fazendo nosso trabalho. Esse ano é eleição de prefeito e é o ano que eu trabalho mais, e eu preciso do meu trabalho. Eu vivo de pesquisa. Quem quiser acompanhar um dia de serviço nosso, numa cidade que tem zona rural, vai ver o quão difícil é nosso trabalho.”
Após oito meses do oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, a Justiça ainda não decidiu se aceita a acusação contra Álvaro Antônio. A denúncia foi feita em 4 de outubro de 2019. O processo foi remetido para o Supremo Tribunal Federal em fevereiro deste ano. Os tribunais não informam o motivo do deslocamento porque o caso está sob sigilo.
Em fevereiro de 2019, o caso já tinha passado pelo STF, quando Luiz Fux decidiu manter a investigação na primeira instância. Marcelo Álvaro é acusado de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa.
O advogado do ministro, Willer Tomaz, também não informou o motivo da denúncia ter ido para o Supremo e disse que não comentaria.
As investigações começaram após a Folha revelar em fevereiro de 2019 que o hoje ministro comandou um esquema de candidatas laranjas em Minas durante as eleições, quando presidia o partido no estado.