Europa proíbe brasileiros de entrar na região
Foto: Pascal Rossignol/Reuters
Brasileiros poderão ficar impedidos de entrar na Europa até que haja um sinal claro de que o surto está sendo controlado no país. A informação foi revelada por fontes diplomáticas europeias que, nesta quinta-feira, estiveram na sede da OMS para anunciar seu apoio à organização. Cada caso individual dos países afetados será alvo de uma avaliação própria.
O Brasil, porém, chama a atenção pelo rápido crescimento de casos nas últimas duas semanas e pela falta de uma resposta do governo à altura da crise. Hoje, os dados europeus indicam que o país registra o maior número de casos no mundo nas últimas duas semanas.
De acordo com negociadores consultados pela coluna, uma das propostas sobre a mesa prevê que a interrupção de vôos com o Brasil duraria até que o governo demonstre que a doença está caminhando a uma situação de controle. O país já não faz parte da primeira lista de países que poderão retornar a viajar para o bloco, a partir de julho. Mas, nos bastidores, determinados governos insistem em que a barreira seja mantida por um período mais prolongado.
“Dependeria do Brasil, não de nós”, explicou uma fonte no alto escalão do bloco.
Não tem ajudado, porém, a imagem negativa de Bolsonaro entre os principais governos europeus. Emmanuel Macron, presidente da França, foi um dos líderes que demonstrou irritação com a postura do brasileiro em diferentes assuntos. A crise se aprofundou quando Bolsonaro ironizou a aparência da esposa do presidente francês.
Uma outra ala da UE, porém, estima que medidas intermediárias poderiam ser adotadas, aceitando a volta de turistas do Brasil nos próximos meses, sempre que haja algum tipo de garantia ou pelo menos queda nas taxas de infecção. A economia brasileira é o maior destino de investimentos europeus e a manutenção de uma ligação com o país é considerado como “fundamental”.
Segundo revelam os diplomatas, o debate está ocorrendo atualmente em Bruxelas sobre como será realizada a reabertura do continente.
França e Alemanha realizaram nesta quinta-feira a primeira visita física à sede da OMS. No total, os dois países colocarão à disposição da agência mais de US$ 650 milhões, em parte para suprir o buraco deixado pela decisão do governo de Donald Trump de se retirar da OMS. Mas, em troca, querem garantias de que haverá uma reforma da entidade.
O gesto é interpretado como um sinal claro da Europa de que vai lutar pela manutenção do organismo, alvo de ataques por parte dos EUA e do Brasil.
Sem citar países específicos, o ministro de Saúde da França, Olivier Veran, comentou a decisão que será tomada pela Europa nos próximos dias sobre a abertura de suas fronteiras. Ele explicou que a prioridade é “proteger a saúde” do povo francês e europeu, indicando que a restrição a terceiros países vai de fato ocorrer.
Segundo ele, o objetivo do bloco é para que as regras sobre a livre circulação e reabertura das economias sejam “coerentes” dentro da UE e fora. Mas também explicou que cada país será alvo de um debate caso a caso.
“As regras que colocamos sobre nossa própria população sejam coerentes com as regras que colocados às populações de países onde o vírus circula, talvez, de uma maneira mais importante”, disse,
“Não há vontade de criar um ostracismo de nenhum país. A França e a Europa são terras de acolhida”, disse. “Mas existem medidas de precaução que são importantes. Abrimos as fronteiras internas na Europa. Logo, haverá aberturas de fronteiras para fora. Mas precisamos proteger a segurança e saúde dos europeus. Por isso que vamos olhar situação por situação em função do avanço do vírus, das medidas que são colocadas por países para frear a circulação do vírus”, explicou.
Em declarações à coluna e outro meio de comunicação da França, o chefe da pasta apontou que a pandemia “não chegou ainda ao seu pico no mundo” e afirmou que “tem dificuldade” para explicar a nova fase de intensa transmissão na América do Sul.
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, voltou a alertar que a pandemia continua a avançar pelo mundo e alerta que a comunidade internacional vive um “momento crítico”. “A pandemia, que ocorre a cada 100 anos, mostrou que o mundo não estava tão preparado como pensava”, disse.
Jens Spahn, ministro da Saúde da Alemanha, que assume a presidência da UE em 1 de julho, evitou antecipar a lista de países excluídos. “Isso está sendo negociado”, afirmou.
Uma primeira lista dos países que poderão voltar a ter voos diretos para as capitais europeias deixou o Brasil de fora. O motivo: a explosão de casos nos últimos 14 dias. No total, o país somou 390 mil novas infecções nesse período, o que demonstra a dificuldade para o controle da doença. No período avaliado pela UE, um de cada cinco casos de transmissão do vírus no mundo ocorreu no Brasil.
A lista está sob debate entre os 27 países da UE que, no início da próxima semana, terão de bater o martelo. O objetivo do bloco é de reabrir as fronteiras externas da Europa a partir do dia 1 de julho. Mas apenas para um grupo seleto de países.
A Grécia, por exemplo, já deu o passo inicial e, em sua lista, incluiu a China e outros asiáticos. Mas deixou o Brasil de fora.
Pequim, pelo menos por enquanto, está na nova lista do bloco europeu. Mas os recentes casos em Pequim reabriram o debate sobre as conexões aéreas entre a China e o resto do mundo. Em Bruxelas, porém, fontes ouvidas pela coluna indicaram que os governos europeus ficaram satisfeitos com as medidas de contenção que as autoridades de Pequim adotaram diante do novo surto, o que reforçou a confiança de que uma reabertura poderia ocorrer.
No caso da UE, critérios foram estabelecidos para determinar quem entra e quem não entra na lista. Um dos principais se refere ao número de casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. O período é considerado como fundamental pois se trata do tempo de incubação do vírus.
Na Europa, a taxa atual de infecção é de cerca de 15 para cada 100 mil e o objetivo é de que a reabertura ocorra para países com taxas similares. No caso do Brasil, porém, a taxa é mais de dez vezes o número registrado na UE. Os EUA também ficariam de fora da primeira lista, por esse critério, além de Rússia e outros países latino-americanos duramente afetados.