Governo recua de poderes extraordinários a Weintraub

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Foto: Marcelo Camargo / Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro revogou, nesta sexta-feira (12), a medida provisória que alterava a forma de escolha de reitores de universidades e institutos federais durante a pandemia do novo coronavírus.

A decisão foi tomada horas depois de o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), ter devolvido o texto ao Executivo para evitar que a MP tramitasse no Legislativo.

A medida editada na quarta-feira (10) ampliava o poder do ministro Abraham Weintraub (Educação). Ele indicaria, sem consulta à comunidade acadêmica, reitores para substituir dirigentes em fim de mandato.

A mudança na forma de escolha de reitores levou a críticas no Congresso. Já na quarta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmara que a MP era inconstitucional.

Antes de devolver o texto ao Executivo, Alcolumbre, que também preside o Senado, conversou nesta quinta-feira (11) com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), segundo relatos de aliados.

Moraes é relator de uma ação na corte que questionava a MP de Bolsonaro e Weintraub.

Pelo menos oito partidos com representação no Congresso —PSB, PCdoB, PDT, Rede, PT, PV, PSOL e Cidadania— já haviam apresentado pedido para que Alcolumbre devolvesse a medida ao Executivo. São essas siglas que ingressaram com a ação contra o texto no STF.

Moraes já havia dado sinais de que poderia derrubar a MP por meio de uma liminar (decisão provisória). Alcolumbre avisou então o ministro que devolveria o texto, de acordo com relatos de aliados.

Segundo pessoas próximas ao senador, Bolsonaro foi informado de que Alcolumbre faria a devolução na noite desta quinta.

O presidente do Senado já havia avisado Bolsonaro que dificilmente a proposta seria aprovada pelo Congresso. Alcolumbre estava sendo pressionado por senadores a rejeitá-la.

Ao anunciar que devolveria o texto, Alcolumbre também afirmou que a medida violava a Constituição.

“Cabe a mim, como presidente do Congresso Nacional, não deixar tramitar proposições que violem a Constituição Federal. O Parlamento permanece vigilante na defesa das instituições e no avanço da ciência”, escreveu em redes sociais.

Alcolumbre havia recebido dois pareceres da área jurídica do Senado, que diziam que a medida era inconstitucional. Bolsonaro ensaiou recuar na MP, mas desistiu.

Alcolumbre avaliou, junto a integrantes do Planalto e do Judiciário, que devolver a medida seria uma derrota menos acachapante para Bolsonaro do que uma votação com maioria folgada tanto na Câmara quanto no Senado.

Em outra frente, se Moraes anulasse a MP, o ato daria combustível aos partidos de oposição que capitalizariam uma decisão judicial como vitória dos congressistas anti-Bolsonaro.

Além disso, uma decisão do ministro poderia gerar mais um atrito entre Bolsonaro e o STF.

Depois da devolução da MP, o ministro Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência) avisou o senador que revogaria a MP para que não houvesse dúvidas sobre a vigência ou não da proposta.

No Senado, o gesto de Bolsonaro foi lido como uma forma de ele ter a palavra final sobre a medida. Isso porque, na avaliação de técnicos, com a mera devolução, o dispositivo já não valia mais.

A devolução de uma MP para o Executivo é um gesto pouco comum.

Desde a Constituição de 1988, esta é a quarta vez que um presidente do Congresso rejeita uma MP ao Executivo. A última vez havia sido em em 2015, quando Renan Calheiros (MDB-AL) devolveu a MP 669.

Aquele texto reduzia a desoneração da folha de pagamentos das empresas, política adotada em 2011 pelo governo Dilma Rousseff (PT).

O então presidente do Senado, Garibaldi Alves (MDB-RN), rejeitou em 2008 uma MP do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que visava mudar regras para a concessão de certificados de entidades beneficentes de assistência social.

Antes disso, em 1989, o então presidente José Sarney (MDB) também teve uma MP devolvida pelo Congresso.

Esta é a primeira MP de Bolsonaro devolvida integralmente pelo Congresso ao Executivo. Em junho do ano passado, Alcolumbre tinha devolvido uma parte da MP 886 que tentava transferir a demarcação de terras indígenas da Funai (Fundação Nacional do Índio) para o Ministério da Agricultura.

A MP rejeitada por Alcolumbre determinava que o presidente nomearia reitores e vice-reitores temporários para as instituições de ensino nos casos de término de mandato dos atuais dirigentes durante a pandemia.

A MP também determinava que as instituições não poderiam fazer a consulta acadêmica durante o período de emergência sanitária, excluindo a possibilidade de consultas online ou remotas.

Por se tratar de uma MP, a determinação tinha efeito imediato. O texto perderia a validade apenas se não fosse votada ou fosse rejeitada pelo Poder Legislativo.

Uma MP tem validade de 60 dias e pode ser prorrogada pela mesmo período.

Na prática, Weintraub poderia interferir no comando das universidades e institutos federais. Com a pandemia, as atividades nas unidades de educação estão suspensas.

Folha