Núcleo duro do bolsonarismo segue encolhendo
Foto: Marcos Correa/PR
Ainda que tenha apoio de quase 30% dos brasileiros, o presidente Bolsonaro assiste a uma erosão contínua e crescente de simpatizantes. Antes favoráveis à gestão do presidente, esses cidadãos passaram a questionar — e muito — a forma de ele governar.
Enquanto nas redes sociais parte de seus eleitores dizem estar arrependidos, no mundo político os aliados começam a se afastar. Apoiadores históricos de Bolsonaro, sobretudo no Congresso Nacional, passaram a ver com apreensão as ações do chefe do Palácio do Planalto e acreditam que, mantido o atual estilo, a situação vai acabar mal para o Brasil. “Enquanto o país já bateu a marca de 40 mil mortos, temos um presidente que brinca com a vida das pessoas e que cria o caos. Temos um governo extremamente divulgador de cortinas de fumaça e que, em vez de administrar o país, escolheu polemizar”, critica o deputado Delegado Waldir (PSL-GO).
Ex-líder na Câmara do partido que elegeu Bolsonaro ao Palácio do Planalto, o parlamentar diz que a resposta das ruas contra o presidente é um indicativo de que a população tem receio de um retrocesso político. “Eu já pedi desculpa para o meu eleitor por tê-lo induzido ao erro e escolhido um presidente incapaz de governar. Bolsonaro é um estrategista, mas hoje, as estratégias dele estão destruindo tudo o que foi construído no Brasil ao longo dos últimos 30 anos. Não há como defendê-lo diante desse cenário”, comenta Waldir.
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“O maior adversário político do governo Bolsonaro chama-se Jair Bolsonaro. Todo dia ele tem que dizer uma bravata ou uma besteira diferente. O que isso vai gerar ou qual será a consequência, eu vejo com muita preocupação. Estamos em meio a crises na saúde pública e na economia, e ainda teremos uma crise de desemprego. Com o governo mais fragilizado, a tendência é de mais turbulência social”, observa o senador Major Olímpio (PSL-SP).
Para o congressista, a recente aliança de Bolsonaro com os partidos do Centrão, que na última semana motivou a recriação do Ministério das Comunicações e a entrega da pasta ao deputado Fábio Faria (PSD-RN), aumentou a insatisfação do grupo que sempre o apoiou. “Bolsonaro está tendo o mesmo pragmatismo político de todos os antecessores que ele criticou. Isso gera uma rejeição enorme entre aqueles que o apoiavam”, diz Olímpio.
Para a advogada Vera Chemin, especialista em direito constitucional, Bolsonaro queima a própria popularidade não apenas com ações que decepcionam eleitores e provocam animosidade entre os aliados. As frequentes mudanças de ministros em áreas estratégicas têm provocado, segundo ela, a descontinuidade de políticas públicas e o aumento da incerteza dos agentes políticos e econômicos. “Somada a essa conjuntura desequilibrada no seio do Poder Executivo, o presidente provoca conflitos institucionais sérios com o Poder Legislativo e Judiciário. Ele acrescentou mais um dissabor à sua lista, ao ignorar e desprezar a crise sanitária do país. O resultado de tal omissão foi o agravamento progressivo da pandemia, além de ter adquirido fortes nuances de politização da parte de estados e municípios”, analisa.
O problema, para o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é que Bolsonaro não revela sinais de que planeja mudar de rota. “Não entendo que ele tenha a intenção de amainar o discurso de trazer uma palavra de conforto para brasileiros. Não parece que o presidente tenha um elemento de humildade ou de repensar ações. Ele tende, cada vez mais, a dobrar a aposta e caminhar para uma tentativa de constante tensionamento da instituições e da própria democracia”, explica.
A base do presidente tem outra persepectiva. “Essa rejeição por parte da população é apenas momentânea. O Bolsonaro age dessa forma visando o bem do país no futuro. É preciso ter coragem para fazer o que precisa ser feito, mesmo que as pessoas demorem a entender isso. Ele tem ciência de que está se desgastando com determinadas atitudes por agora, mas em um segundo momento vai se beneficiar dessa estratégia”, opina o vice-líder do governo no Congresso, deputado Ricardo Barros (PP-PR).
No fim de maio, uma pesquisa do instituto Datafolha revelou que 43% dos brasileiros classificam a gestão de Bolsonaro como ruim ou péssima. Outro indicador que revelou a insatisfação dos brasileiros foi o que mediu se o presidente tem capacidade de liderar o Brasil: 52% disseram que não. Já na última sexta-feira, levantamento feito pela XP/Ipespe constatou que o grupo de brasileiros que considera o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo é de 48%. Em ambas pesquisas, a aprovação dele ficou próxima aos 30% (33% de acordo com o Datafolha, e 28% segundo a XP/Ipespe).