PF descobriu em celular apreendido paradeiro de Queiroz
Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
A dica sobre o paradeiro do ex-assessor do clã Bolsonaro Fabrício Queiroz, preso nesta manhã em Atibaia (SP), foi encontrada em mensagens de um celular apreendido no Rio de Janeiro pelo Ministério Público Estadual.
O trabalho de inteligência para localizar Queiroz foi todo feito a partir do Rio, segundo pessoas envolvidas na operação desta manhã de quinta (18).
À Polícia Civil paulista coube a execução da prisão. Um helicóptero do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) também foi colocado à disposição para levar Queiroz do Campo de Marte, na zona norte da capital paulista, para Jacarepaguá, zona oeste do Rio.
A ação foi cercada de mistério, para evitar vazamentos. Segundo o delegado Nico Gonçalves, chefe do Dope (Departamento de Operações Policiais Estratégicas) que efetuou a prisão, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) fluminese pediu apoio para a operação a seu similar paulista na noite de quarta (17).
“Eu pensei que era alguma coisa sobre respiradores”, disse Gonçalves, em referência às apurações que rondam o combate à Covid-19 no estado vizinho. “Só quando fizemos o briefing, às 4h, é que fomos informados do alvo”, completou.
A casa era bastante simples, segundo o delegado. Não houve resistência por parte do ex-assessor, que conhece Jair Bolsonaro desde 1984 e foi seu faz-tudo durante anos, até ser locado no gabinete do filho Flávio, hoje senador e então deputado estadual.
Ele teve dois celulares e cerca de R$ 900 apreendidos. Os aparelhos, minas de ouro potenciais para estabelecer os laços de Queiroz desde que submergiu das vistas do público no ano passado, foram colocados por promotores em sacos plásticos lacrados e enviados para o MP do Rio.
Queiroz, conta Gonçalves, não reagiu. “Ele parecia até aliviado”, disse. No caminho de carro entre Atibaia e São Paulo, ele ficou calado.
Não está claro, contudo, quando o celular que deu a pista sobre o paradeiro chegou às mãos do MP fluminense, que investiga o esquema das rachadinhas na Assembleia Legislativa local desde 2018.
Houve diversas operações correlatas ao caso Queiroz, como aquela que quase prendeu o miliciano Adriano da Nóbrega, que acabou morto ao ser localizado pela polícia da Bahia em fevereiro. Os celulares de Nóbrega, aliás, foram apreendidos em seu esconderijo.
Queiroz, segundo a polícia, estava havia cerca de um ano na casa do advogado de Bolsonaro e de Flávio, Frederick Wassef. Em setembro, o defensor havia dito em entrevista à GloboNews que não sabia o paradeiro de seu cliente. Repetiu isso à Folha em maio deste ano.
Na polícia paulista, a ordem é tratar o caso com naturalidade de uma operação feita a pedido do MP de outro estado. Obviamente, o caso é altamente sensível do ponto de vista político.
A politização já começou entre aliados do presidente em Brasília, pelo simples fato de Queiroz estar escondido no estado governado por João Doria (PSDB), adversário político de Bolsonaro e presidenciável para 2022.
Flávio foi ao Twitter para dizer que tudo se trata de uma perseguição política, mas não apontou o dedo para ninguém.