Prêmio Pulitzer diz que EUA e Brasil matam mais negros
Foto: Benjamin Moser | Bárbara Lopes
“Quando eu comecei a vir ao Brasil, nos anos 1990, o assunto maior entre norte-americanos e brasileiros era como, e em que pontos, as nossas histórias raciais eram diferentes. Os brasileiros teriam sido melhores porque promoviam a miscigenação; os americanos teriam sido melhores porque a escravidão existia só em uma parte do país, etc.: existia toda uma indústria acadêmica fundada nessas diferenças. Vinte e cinco anos depois, só conseguimos ver as semelhanças. A desigualdade social e econômica que tanta gente aceita dando os ombros e falando que ‘infelizmente é assim’. A educação, a saúde, a proteção do estado reservados apenas para certos bairros. A violência constante da polícia contra os cidadãos negros: chame-se George ou Jorge, a chance dele ser morto pela polícia é muitas vezes maior, nos dois países, se for negro. Cada vez mais, vemos até que ponto as nossas sociedades têm sido envenenadas pelo legado da escravidão. E como o coronavírus não sabe se está em Chicago ou em São Paulo, o racismo também não distingue os nossos países.
A herança é a mesma — e a obrigação de resistirmos também”.