Queiroz seria ponte entre Bolsonaro e milícias

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Foto: Reprodução

O deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ) é um dos mais profundos conhecedores das milícias que atuam hoje no país, em especial no Rio de Janeiro, berço deste tipo de organização criminosa. Em 2008, então deputado estadual, ele presidiu a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que identificou e indiciou 240 pessoas e serviu para mudar a opinião das pessoas sobre essas organizações – que, até então, eram vistas como “mal menor” para a segurança da capital fluminense.

A velha briga veio parar em Brasília. Hoje, na Câmara dos Deputados, Freixo é opositor de um velho conhecido: o presidente Jair Bolsonaro. Ele também frequenta o mesmo ambiente de trabalho de dois filhos parlamentares do presidente, Eduardo, que é deputado federal, e o senador Flávio Bolsonaro. Enquanto Freixo conduzia as identificações dos integrantes das milícias, Flávio, que também era deputado estadual, fazia suas homenagens públicas e distribuía honrarias aos citados no relatório final de CPI.

Em entrevista ao Metrópoles, Freixo aponta a relação do clã Bolsonaro com essas organizações. “O Bolsonaro deu uma entrevista defendendo a legalização das milícias. Como alguém legaliza máfia até hoje eu não consegui entender por parte do presidente. Mas ele diz isso abertamente”, aponta Freixo, lembrando o momento em que apresentou seu relatório final para todo país.

“Milícia é o único grupo criminoso no Rio que transforma domínio territorial em domínio eleitoral. É uma máfia. Eles se organizam como máfia e tem projeto de poder. Eles elegem, eles chegam no poder. É diferentes de outros grupos criminosos, que também têm que ser enfrentados, mas não têm projeto de poder”, destacou.

Freixo falou da relação de Bolsonaro com o ex-assessor Fabrício Queiroz, preso há mais de uma semana em um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, pertencente ao então advogado do presidente e de seu filho Flávio, Frederick Wassef. Queiroz é peça-chave da polícia para concluir o inquérito das “rachadinhas”, esquema que supostamente vigorava em gabinetes da Alerj, entre eles o do então deputado Flávio Bolsonaro.

“Não vou ser irresponsável e dizer que Bolsonaro é chefe de milícia. Não! Mas que ele defende milícia e sempre defendeu, sim. Que ele tem relação com Queiroz e que Queiroz tem relação com milícias, sim. Queiroz fazia campanha da família Bolsonaro dentro das áreas de milícias. O Queiroz leva para dentro do gabinete do Flávio Bolsonaro o grande esquema de corrupção envolvendo seus parentes, inclusive no gabinete do próprio Bolsonaro, com uma das filhas de Queiroz, que trabalhava como laranja e repassava o dinheiro ao pai. Mais que isso, Queiroz leva familiares do Adriano da Nóbrega, assassinado na Bahia e chefe do escritório do crime. Então, sem dúvida alguma, há relação entre Jair Bolsonaro, Queiroz, milícia e escritório do crime. Isso se dá através das relações de Queiroz, homem de confiança de Jair Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro.

“Às vezes você não precisa ser dono de uma atividade criminosa para estar muito próximo e envolvido com o crime”, apontou.

Freixo foi uma das pessoas mais próximas da vereadora Marielle Franco no campo político. Assassinada em um atentado no centro do Rio de Janeiro em 2018, a versão mais forte da polícia fluminense aponta o grupo “Escritório do Crime” como o responsável pelo assassinato. Para Freixo, o desfecho que vai revelar quem foi o mandante do crime e os motivos está para acontecer.

“Sem dúvida, o crime passa pelas ações da milícia. Qual milícia? Com que intuito e com que objetivo? Cabe a Polícia Civil do Rio, que é quem tem competência para isso, esclarecer. Eu não posso me antecipar”, observou.

Freixo desistiu de sua candidatura à prefeitura do Rio neste ano. Segundo ele, sua intenção é permanecer em um projeto político nacional. “Eu quero derrotar o governo Bolsonaro, porque o governo Bolsonaro é ruim para as famílias, para os mais pobres, para o trabalhador”, enfatizou.

A candidatura do PSol, agora na capital fluminense deve ser levada pela vereadora Renata Souza, também ligada a Freixo e que também era muito próxima a Marielle. Uma das marcas da campanha será o combate ao racismo. “Ela nasceu e foi criada na favela da Maré”, observou. “Não é simples uma menina da favela da Maré chegar a um pós-doutorado em Comunicação. Então, ela é uma vencedora, uma pessoa por quem eu tenho um respeito e um carinho enorme”, enfatizou.

Freixo tem participado da tentativa de junção de políticos e partidos em torno do objetivo de retirar Bolsonaro do poder. Ele compara o movimento ao que ocorreu na década de 1980 com objetivo de derrotar a ditadura e eleger, por meio do voto direto, o presidente da República: o Diretas Já. “Ali tinham forças muitos distintas que tinham projetos de país muito diferentes. Mas todos queriam eleições diretas como forma de derrotar de uma vez por todas a ditadura”, lembrou.

“Nós estamos com um presidente que não tem respeito pela democracia, que se preocupa só com sua família. E em um momento gravíssimo”, comparou.

Ele ainda ressaltou que é necessário forçar o diálogo entre os diferentes dentro dessa mesma trincheira, em vez de ressaltar as rusgas entre os que pensam diferente. Um exemplo de rusga comum tem sido noticiada semanalmente entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-candidato pelo PDT à Presidência da República Ciro Gomes. Para isso, Freixo recomenda “maturidade”.

“Acho que não é de bom tom, não é maduro nesse momento fazer com que qualquer divergência que exista nesse campo possa se sobrepor às divergências que temos com o governo Bolsonaro. Aí, sinceramente, talvez de muitos desses eu seja o mais novo, mas é a hora de maturidade. De você entender que não podemos pegar essas divergências, que existem e que são legítimas, e eu não aqui diminuindo nenhuma delas, mas colocar como prioridade essas divergências diante de um governo que faz o que faz Bolsonaro”, aconselhou.

Ele criticou ainda o comportamento do ministro Paulo Guedes em ainda falar em austeridade fiscal diante de uma pandemia. Para ele, o governo mandará o projeto de mais parcelas para a ajuda emergencial para o Congresso, que tratará de manter o valor em R$ 600.

“Nesse momento, o Paulo Guedes é inimigo do povo. O Paulo Guedes queria pagar R$ 200. No Congresso, elevamos para R$ 500, e o governo resolveu dar R$ 600. Agora ele quer baixar para R$ 300. A gente vai fazer um outro enfrentamento, por que a gente não vai aceitar baixar para R$ 300. Tem que manter os R$ 600 por mais algum tempo e depois tem que ter uma política de renda permanente, porque o desemprego vai ser estrutural. A gente não pode tornar o Brasil mais desigual do que ele já é durante a pandemia”, enfatizou.

Metrópoles