Semana mostra decadência do olavismo
Foto: Alan Santos/PR – 17.mar.2019
“O que será feito?”, questionaram bolsonaristas da ala ideológica ao presidente após a prisão de Sara Winter, líder de acampamento político de apoio a ele. De Jair Bolsonaro e de outras autoridades do governo, porém, por enquanto só há um silêncio que evidencia o momento de baixa do chamado olavismo depois de uma série de eventos polêmicos.
Além da campanha #SaraLivre, os seguidores do professor on-line de filosofia e guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho também estão dividindo sua energia defendendo um de seus feudos de poder restantes no governo: o Ministério da Educação e Abraham Weintraub, que o presidente acabou chamando de “problema“.
Presidente @jairbolsonaro, apoiá-lo é crime agora. E o @STF_oficial que soltou estupradores e narcotraficantes, devem ter desistido da pandemia. A Corte começa prendendo seus apoiadores, seus ministros, mas terminará prendendo o senhor. O QUE SERÁ FEITO?
— #PartidoGenocidaChinês (@allantercalivre) June 15, 2020
A influência olavista no governo varia numa espécie de pêndulo. Só em 2020, eles já passaram por um momento de ostracismo quando foram eclipsados pelos ministros militares e deram a volta por cima ao ajudar na fritura e derrubada dos ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, da Saúde, e da ex-secretária de Cultura Regina Duarte.
Cada balançar desse pêndulo, no entanto, deixa cicatrizes, e fontes ligadas ao governo, inclusive ao olavismo, acreditam que é forte a possibilidade de que, desta vez, o grupo perca o comando da Educação. As duas indicações que Carvalho fez para a pasta, Vélez Rodrigues, que ficou até abril de 2019, e Weintraub, que entrou em seguida, não deram certo segundo a avaliação interna.
Em tempos de negociação com o Centrão, cresce a chance de o cargo acabar nas mãos de uma indicação que seja vendida como técnica, mas aprovada pelos partidos que formam a base de apoio do presidente.
Criticado por Bolsonaro por ter ido a uma manifestação no domingo (14/06) na Esplanada dos Ministérios, Weintraub está em campanha aberta pela própria manutenção no cargo, comentando e curtindo postagens que criticam sua possível saída.
“Quem quer a saída do ministro Weintraub é a esquerda. Quem quer que ele fique é a direita apoiadora do presidente”, diz uma postagem curtida pelo ministro na segunda.
Outra postagem curtida por Weintraub é mais agressiva, acusando o Supremo Tribunal Federal (STF) de estar pressionando pela demissão do ministro. “O STF está governando?”, diz o post curtido pelo ministro da Educação, que está envolvido em um processo justamente por criticar os ministros da Corte, a quem chamou de vagabundos. Veja:
Weintraub também curtiu a postagem abaixo, do editor do site bolsonarista Terça Livre Allan dos Santos, que credita aos militares do governo e ao Centrão as pressões pela demissão.
Abraham Weintraub não foi retirado do governo, como desejam alguns coturnos e membros do centrão.
— #PartidoGenocidaChinês (@allantercalivre) June 15, 2020
A ala militar, que agora divide influência no governo com os olavistas e com o Centrão, também foi alvo do articulista do jornal Brasil sem Medo, que tem Olavo de Carvalho entre seus editores.
O governo está em silêncio desde que a PM do DF desmontou o acampamento de Sara, dando início à série de protestos que tiveram como ponto crítico o ataque ao prédio do STF com fogos de artifício. Para os olavistas, Bolsonaro está na defensiva por influência dos militares.
Será que hoje, após a prisão de Sara Winter e 5 integrantes de seu acampamento, os generais de pijama continuarão a dizer apenas que “a corda está sendo esticada”?
— Bernardo P Küster 🇧🇷 (@bernardopkuster) June 15, 2020
Apesar do momento de distanciamento, o olavismo não corre muitos riscos de deixar a órbita do governo, na opinião do cientista político Lucas de Aragão, analista da consultoria Arko Advice. “Agora está em um momento de baixa, mas daqui a pouco alguém do governo faz uma sinalização de prestígio aos olavistas, porque eles trazem instabilidade política, mas dão uma sustentação ao Bolsonaro sobretudo nas redes, uma arena que ele considera fundamental”, afirma.
“Quando precisa daquele barulho virtual ou até na rua, o governo apela a esse grupo. Quando há pressão maior dos outros poderes, como agora, eles são um pouco ignorados. Ficam nessa flutuação, mas sempre presentes”, analisa ainda Aragão, que também vê, porém, consequências a cada crise.
“Cada vez mais eles vão ficando responsáveis só pela narrativa e mais longe dos processos decisórios, políticos.”