Wassef é novato em casos criminais
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O histórico formal em processos de Frederick Wassef, que se diz advogado criminalista, é praticamente inexistente antes de assumir a defesa de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que o dispensou domingo. O GLOBO não encontrou registros de sua atuação em ações de nenhum outro cliente além do filho do presidente, exceto por algumas de interesse particular dele e de sua ex-mulher.
Desde 2007, Wassef é sócio de um escritório com sua prima, Solveig Fabienne Sonnenburg, em Atibaia (SP). No imóvel foi preso Fabrício Queiroz, ex-assessor investigado pela suspeita de participar de um esquema de rachadinha com o então deputado estadual Flávio Bolsonaro. No Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), porém, Wassef aparece como advogado em só três ações, todas de interesse particular dele mesmo.
Sua sócia, Solveig Fabienne Sonnenburg, não atua em processos criminais. Ela está listada como advogada em 36 ações judiciais no TJ-SP, a maioria na área de direito civil ou tributário. Nas peças, diz representar o escritório Wassef & Sonnenburg, mas assina sozinha.
Já no Tribunal do Rio de Janeiro, Wassef aparece apenas como advogado de Flávio Bolsonaro, na investigação recente sobre a “rachadinha”. O GLOBO buscou também pela atuação de Wassef nos sistemas dos Tribunais Regionais Federais e nos TJs de todas as unidades da federação. Em nenhum deles há processos em que Wassef atue em nome de outro cliente.
Wassef tirou sua carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 1992. O fato de não ter atuado em processos não impede que ele tenha trabalhado como consultor ou apenas na fase de inquérito criminal, em que o nome do advogado costuma ser sigiloso. Em entrevista à ÉPOCA no ano passado, Wassef explicou sua atuação “discreta”:
— Toda vida fui um cara discreto, não gosto de fama ou de holofote. Vou lá e faço tudo fisicamente. Assino. Você nunca vai achar meu nome nos processos eletrônicos, e faço de propósito. Não quero que saibam que advogo para o Flávio Rocha (acionista das lojas Riachuelo), para o David Feffer (acionista da Suzano Papel e Celulose).
Na ocasião, a revista entrou em contato com Flávio Rocha, que negou que Wassef tenha prestado algum serviço para ele. Em nota, a Suzano disse ao GLOBO que “David Feffer nunca foi cliente desse advogado ou de seu escritório”. Em São Paulo, mesmo em processos físicos em que Wassef eventualmente tivesse atuado, seu nome apareceria em uma ficha cadastrada on-line — além disso, só processos antigos são físicos no estado.
Uma das ações em que trabalhou em São Paulo foi movida por ele mesmo contra Antonio Bruno Di Giovanni Basso, ex-marido de Maria Cristina Boner Leo, então mulher de Wassef. Por ter descrito Wassef como “bandido” e criminoso”, Basso foi acusado de calúnia em 2009. Em outra ação, Wassef defende a si mesmo de uma ação de calúnia e difamação feita pelo PT em 2020.
Wassef atuou também em um processo sigiloso em São Paulo, o divórcio entre Maria Cristina e Bruno Basso. A empresária, hoje separada também de Wassef, foi representante da Microsoft no Brasil, assim como Basso. Ela e o ex-marido disputam um patrimônio milionário na Justiça.
Em 2009, Maria Cristina foi flagrada na Operação Caixa de Pandora no Distrito Federal — sua empresa teria patrocinado o mensalão do DEM em troca de contratos na área de informática. Na Lava-Jato, a B2BR, outra empresa do grupo de Maria Cristina, apareceu tendo feito pagamentos às empresas de Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras.
A reportagem entrou em contato com Frederick Wassef perguntando no que consistia sua atuação profissional antes de representar o hoje senador Flávio Bolsonaro e por que, apesar de se intitular advogado criminalista, não há registro de seu trabalho em outras ações judiciais além das citadas nesta reportagem. Ele não respondeu até o momento.