Wassef inverte posição e já admite que escondia Queiroz
Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
O advogado Frederick Wassef, dono da casa em Atibaia onde o policial aposentado Fabrício Queiroz foi preso, no último dia 18, assumiu pela primeira vez, em entrevista à revista “Veja” publicada nesta sexta-feira, que escondeu o ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro. Segundo ele, a medida tinha como objetivo proteger o presidente Jair Bolsonaro e o filho, o senador Flávio (Republicanos-RJ), já que Queiroz poderia ser assassinado “por forças ocultas” e com isso a família do presidente seria investigada.
– Eu prestei um favor ao Poder Judiciário do Rio de Janeiro e ao Ministério Público do Rio de Janeiro porque hoje eu acredito que, se Queiroz não estivesse num lugar mais tranquilo, eu acho que hoje ele não estaria vivo. E o presidente Bolsonaro ou a família Bolsonaro estariam sendo investigados por um suposto assassinato. Uma fraude, como já disse, parecida com aquela da Marielle ou do Adriano da Nóbrega” – afirmou
Segundo Wassef, o presidente não sabia da sua decisão de ajudar Queiroz. O ex-assessor parlamentar e o senador Flávio Bolsonaro são investigados pelo esquema da rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Ao assumir que abrigou o ex-militar, Wassef contraría o que vinha falando nas últimas entrevistas. Questionado pelo “Jornal Nacional” da TV GLOBO no início da semana se tinha emprestado a casa ao ex-assessor, ele afirmou que não, porque não tinha o telefone de Queiroz e nunca tinha trocado mensagens com ele. Em setembro de 2019, em entrevista à GloboNews, ele já tinha dito que não sabia o paradeiro do ex-policial porque não era advogado dele. A revista não questionou estas contradições.
Confira outros trechos da entrevista:
“Eu lhe garanto que eu nunca contei ao presidente Bolsonaro. Quando eu puder dizer os motivos, vocês vão me entender e vão me dar razão. É uma questão de segurança. Fiz para proteger o Flávio. Fiz para… Fiz para me proteger. Fiz para proteger o presidente. Então eu assumi um risco de fazer isso porque eu sei o que é melhor para o filho dele”.
Passei a ter informações de que Fabrício Queiroz seria assassinado. O que estou falando aqui é absolutamente real. Eu tinha a minha mais absoluta convicção de que ele seria executado no Rio de Janeiro. Além de terem chegado a mim essas informações, eu tive certeza absoluta de que quem estivesse por trás desse homicídio, dessa execução, iria colocar isso na conta da família Bolsonaro. Havia um plano traçado para assassinar Fabrício Queiroz e dizer que foi a família Bolsonaro que o matou em uma suposta queima de arquivo para evitar uma delação.”
“Eu sou um sobrevivente de quatro cânceres e soube o que estava passando o senhor Fabrício Queiroz. Isso me sensibilizou muito. Imaginava aquele cidadão sendo torturado psicológica e emocionalmente sofrendo um assédio terrível. O presidente Bolsonaro simplesmente cortou contato ou relação com Fabrício Queiroz. Da mesma forma, o senador Flávio Bolsonaro se distanciou completamente. E eu imaginei o que seria para aquela pessoa. De repente, não está mais com os seus amigos, doente e assediada. Não podendo andar na rua, não podendo ter uma vida normal”
“Na época dos fatos, eu mantive um distanciamento máximo dele. Não tinha o telefone dele. Não permiti que ele tivesse o meu telefone. Nunca liguei para ele nem para os familiares dele. Nunca ele e seus familiares ligaram para mim. Não havia contato de nenhuma natureza telefônica.”
“No dia da prisão, eu telefonei para o presidente Bolsonaro, ele me atendeu. Eu pedi muitas desculpas. Falei: “Presidente, não tenho como te explicar agora por telefone. Eu estou muito triste por tudo o que aconteceu, eu lhe peço desculpas por ter omitido isso”. Ele ficou bastante descontente com a minha atitude. Pedi desculpas. Não podia falar mais, me estender mais. Falei que em algum momento ia explicar toda a história.
“Quando ocorreu a prisão do Fabrício Queiroz, entendi o que ia acontecer na minha vida. Entendi que ia virar alvo de todos os inimigos do governo, do presidente Bolsonaro, de toda a esquerda. Eu sabia que eu seria usado pelos inimigos para atacar o presidente Bolsonaro. Então decidi deixar o caso. O Flávio insistiu para que eu não deixasse, mas eu disse que se eu continuasse, iria prejudicá-los.”
“Chama atenção a operação hollywoodiana para prender Queiroz, um homem que estava num dia lá abalado, deprimido, doente. Se chegasse um escoteiro, levava ele preso, ele não ia reagir. Se fosse um soldado da polícia militar sozinho, ele ia se render. Me chama atenção o aparato que foi deslocado. Dez viaturas, grupo de operações especiais, fuzil, metralhadora na mão, helicóptero. E como o helicóptero. E como o helicóptero da imprensa sabia e chegou ao mesmo tempo? Essa operação midiática, hollywoodiana, de guerra, para levar um cara doente, que teve três cirurgias, estava em tratamento, estava naquela região para ver médico e ter consulta. Vocês não acham que é um pouco demais? E a operação para pegar Márcia (esposa do Queiroz)? Estão caçando uma mãe, uma mulher de quem ninguém sabe nada.”
“Os senhores lembram quando foi a busca e apreensão no Rio de Janeiro? Foi nessa busca, em dezembro, que as autoridades pegaram os telefones da mulher do Fabrício. Desde então, o Ministério Público já sabia que ele estava em Atibaia há muito tempo. Os senhores sabem o que aconteceu no dia da prisão do Fabrício Queiroz? Foi o início do processo de impeachment do governador do Rio de Janeiro. Uma curiosa coincidência. O que chega para mim é que essa operação hollywoodiana nada mais foi do que uma cortina de fumaça para desviar a atenção do impeachment do governador, com a participação especial do governo de São Paulo.”
“Nunca alguém me chamou de anjo. Nunca o presidente Bolsonaro me chamou de anjo e duvido que ele chamou alguém de anjo na vida. Ninguém na família Bolsonaro me chamou de anjo e eu nunca tive apelido de anjo. Agora, se alguém inventou isso, eu não sei.”