Aras desconversa sobre prorrogação da Lava Jato
Foto: Jorge William/Agência O Globo/03-02-2020
Após fazer duras críticas à Lava-Jato, o procurador-geral da República, Augusto Aras, reuniu-se ontem com senadores do grupo “Muda Senado”, formado por apoiadores da força tarefa. De acordo com parlamentares ouvidos pelo Valor, Aras evitou se comprometer com a prorrogação da Operação de Curitiba, que pode ser dissolvida em setembro. Quando questionado sobre o assunto, o PGR teria desconversado.
O encontro foi solicitado para que Aras explicasse o teor da sua fala do dia anterior, quando participou de uma “live” com um grupo de advogados, e acusou os procuradores do grupo do Paraná de “bisbilhotar” e investigar 38 mil pessoas ilegalmente e afirmou que a força-tarefa era uma “caixa de segredos”.
Na conversa com os senadores, apesar de afirmar que a imprensa havia exagerado na repercussão, Aras repetiu “a essência das críticas” que foram feitas contra as forças-tarefas da Lava-Jato.
Presente na conversa, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse estar preocupado com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que permitiu que Aras tenha acesso a todos os dados da Lava-Jato. “Não acho muito razoável essa obsessão pelo acesso às informações. Temo essa concentração”, disse.
Já o senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES) afirmou que o grupo vê as acusações de Aras contra a Lava-Jato como “ilações”, especialmente quando o PGR fala que os procuradores de Curitiba mantêm um banco de dados muito maior que o do Ministério Público Federal (MPF).
“Eu entendo que a atuação dele [Aras] é prejudicial ao combate à corrupção e que está em curso a articulação de um discurso que mina a credibilidade de todo MPF, o que me parece perigoso e desnecessário”, disse Vieira.
Segundo o parlamentar, diante das críticas dos sete senadores que participaram da conversa, que foi realizada por videoconferência, Aras fez uma “fala de acomodação” e teceu elogios às forças-tarefas.
Ele também lembrou que tem se manifestado contra os pedidos de condenados, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para declarar a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, que foi responsável pela Lava-Jato.
Segundo interlocutores de Aras, o PGR assegurou aos senadores que o combate à corrupção está garantido em sua administração.
Já o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, afirmou que a ideia da PGR não é de extinguir os grupos de combate à corrupção, mas sim passar por “um processo de institucionalização”.