Bolsonaro tira “pitbulls” da vice-liderança para agradar STF
Foto: Pedro Ladeira
Dois deputados da linha de frente do bolsonarismo, Otoni de Paula (PSC-RJ) e Daniel Silveira (PSL-RJ), foram substituídos nesta quinta-feira (9) na vice-liderança do governo na Câmara.
A mudança consta em edição extra do Diário Oficial publicada nesta quinta. Para o posto de Silveira foi indicada sua colega de partido Carla Zambelli (PSL-SP), enquanto o posto de Otoni será ocupado pelo deputado Maurício Dziedricki (PTB-RS).
Outros dois nomes também estão na reformulação feita pelo Planalto: o deputado Carlos Henrique Gaguim (DEM-TO) será substituído por Diego Garcia (Podemos-PR) e para o lugar de José Rocha (PL-BA) foi indicado Aluisio Mendes (PSC-MA).
Na quarta (8), interlocutores relataram à Folha que o Planalto pretendia indicar deputados do centrão para os postos que ficarão vagos, em mais um esforço para construir uma base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Legislativo.
Os dois parlamentares anunciaram a saída da vice-liderança na quarta e são investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no inquérito que apura atos antidemocráticos. Eles têm em comum um histórico de críticas a ministros da corte —no caso de um deles, até xingamentos.
Além da visibilidade, os postos que eles devem deixar são importantes por auxiliarem o líder do governo na Casa, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), na articulação com os demais parlamentares.
Otoni de Paula anunciou no Twitter, na noite desta quarta, que está saindo da vice-liderança.
“Comunico que entreguei no final da tarde meu pedido de afastamento da vice-liderança do governo na Câmara. Minhas opiniões sobre o sr. [ministro do STF] Alexandre de Moraes são única e exclusivamente de minha responsabilidade, não sendo eu porta-voz do presidente Jair Bolsonaro. Deus abençoe nossa nação”, escreveu Otoni.
O deputado publicou na última segunda-feira (6) um vídeo repleto de xingamentos a Moraes, relator no STF tanto do inquérito que investiga atos antidemocráticos quanto do das fake news —ambos têm como alvo aliados próximos de Bolsonaro.
No vídeo, Otoni chama Moraes de “tirano”, “lixo”, “esgoto do STF”, “canalha” e “latrina da sociedade brasileira”.
Auxiliares do presidente consideraram os termos inaceitáveis e decidiram retirar Otoni da vice-liderança.
Eles relataram à Folha que o momento atual do governo é de pacificação com os demais Poderes e de redução da crise institucional com o Judiciário e o Legislativo, o que tornou inviável a permanência do deputado em um posto de indicação do Planalto.
Daniel Silveira, outro integrante da tropa de choque de Bolsonaro, também informou pelo Twitter que está saindo da vice-liderança.
“Acabo de saber que minha retirada da vice-liderança de governo foi pedido do general [Luiz Eduardo] Ramos [ministro da Secretaria de Governo] para alocar deputados do centrão. Estranha essa relação de homens tão próximos manobrarem enfraquecimento da base do presidente. Ser líder só tem ônus, mas ao menos que seja alguém de honra”, escreveu.
Na mesma mensagem, Silveira afirmou que seguirá apoiando Bolsonaro e que Ramos também teria exigido a saída do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) da vice-liderança.
À Folha Derrite disse ter tomado conhecimento da publicação de Silveira, mas que desconhece qualquer pedido por sua saída.
A avaliação é que Bolsonaro distribuiu esses cargos a aliados próximos que o defendem com empenho nas redes sociais, mas que têm pouca ou nenhuma influência nas articulações na Câmara.
O PSL, por exemplo, tem hoje 7 vice-líderes de um total de 14. A ideia do Planalto é, na remodelação, aumentar no grupo a participação de legendas como o PL e PP.