Brasil começa a sofrer boicote internacional por desmatamento
Foto: Amanda Perobelli/Reuters
Uma das maiores produtoras de salmão do mundo, a empresa norueguesa Grieg Seafood excluiu uma subsidiária da Cargill de sua lista de fornecedores por ligações com o desmatamento ilegal no cerrado e na Amazônia brasileiros.
A decisão está vinculada aos R$ 558 milhões em títulos verdes (green bonds) recém-captados pela Grieg Seafood. Trata-se de títulos emitidos para financiar projetos sustentáveis e voltados à mitigação do processo de mudanças climáticas.
Com a medida, a Cargill Aqua Nutrition ficou excluída das fornecedoras para compras com esses papéis, usados para financiar a compra de rações inovadoras que melhorem o bem-estar e a saúde dos peixes.
“Por sermos uma empresa com soja brasileira em nossa cadeia de valor, estamos profundamente preocupados com os atuais desenvolvimentos no Brasil”, disse a gerente de comunicação global da Grieg, Kristina Furnes, ao site Intrafish. “O desmatamento precisa parar porque estamos em uma crise climática e porque precisamos proteger a biodiversidade.”
“É a primeira vez que a Cargill foi excluída por uma empresa norueguesa. A Nestlé já havia adotado medidas semelhantes contra a Cargill devido à falta de disposição da empresa em excluir a soja de áreas desmatadas de sua cadeia de fornecedores”, afirma Ida Claudi, conselheira da Rainforest Foundation Norway (RFN).
“É uma decisão muito importante para salvar florestas tropicais e uma ação ousada da Grieg Seafood. A Cargill deveria ouvir o que está sendo dito. Suas desculpas por não tomar medidas contra o desmatamento não são mais aceitas. Até a Cargill parar de negociar soja desmatada, seus clientes estão negociando com um vilão da floresta”, diz Claudi.
Um relatório identificou que, em 2018, a Cargill foi a segunda trader (comercializadora) de soja que mais exportou o grão dos 15 municípios com maior área de soja em fazendas associadas com desmatamento ilegal em Mato Grosso .
O estudo, publicado no mês passado, é da iniciativa Trase, focada em dar transparência para cadeias de produção de commodities (matérias-primas), e as ONGs ICV (Instituto Centro de Vida) e Imaflora.
Procurada pela Folha, a Cargill afirmou por em email que toda a soja usada em ração para salmão vem de produtores sustentáveis (ProTerra, RTRS ou com selo orgânico). Além disso, os demais setores da empresa “têm feito progressos significativos no fornecimento de soja sustentável”.
“A Cargill mapeou 100% de sua cadeia de fornecedores brasileira com pontos únicos georreferenciados”, diz a nota, ao enumerar ações recentes. A iniciativa “permite que a empresa identifique a localização de seus fornecedores diretos e indiretos, um passo crucial para proteger efetivamente florestas e vegetação nativa”.
Além disso, a Cargill afirma que calculou, pela primeira vez, a participação estimada de sua soja no Brasil cultivada em terras livres de desmatamento. Esse percentual seria de 95,68%, cálculo feito a partir de fontes independentes relacionadas ao uso da terra.
“A Cargill expandiu seu engajamento direto com agricultores no Brasil, incluindo o lançamento de uma nova parceria com a maior associação de agricultores da Bahia”, diz a nota.