Burrice e idade põem Bolsonaro no grupo de risco
Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
As infectologistas Ana Helena Germoglio, do Hospital Águas Claras, e Cristhieni Rodrigues, do Hospital Santa Paula, foram unânimes em dizer que, quanto maior a exposição, são maiores tanto as chances de contaminação quanto de desenvolvimento da forma grave da síndrome gripal causada pelo novo coronavírus. “Há relatos de estudos que dizem que um paciente que recebeu uma carga viral alta desenvolve um quadro clínico mais grave”, explica Rodrigues.
Como confirmado por exame, essa pode ser a situação do presidente da República Jair Bolsonaro, que segue se encontrando com apoiadores e ministros sem máscara, além de diversas aparições públicas em que houve aglomerações. “Isso é fator de risco para um paciente de qualquer idade, inclusive jovens, principalmente porque é uma exposição sem as precauções. Eu me exponho todo os dias na UTI, por exemplo, mas aqui tomamos todos os cuidados”, coloca Germoglio.
Para a médica do Hospital Santa Paula, o estresse causado pelo exercício da presidência neste momento também é um elemento a ser observado. Ambas as médicas concordaram que o caso do presidente inspira cuidados ainda por conta da idade, Bolsonaro completou 65 anos em março. “Mas ele não tem histórico público de hipertensão, diabetes, ou doença coronária, que seriam fatores que aumentam os riscos”, explica Cristhieni Rodrigues.
Mas elas lembram que os cuidados com Bolsonaro devem ser os mesmos para qualquer paciente. “Antitérmico se estiver com febre, boa hidratação, boa alimentação e monitoramento da oxigenação através de um aparelho que pode ser comprado em farmácias porque muitos pacientes não relatam falta de ar, mas já chegam com saturação bastante baixa”, continua.
A última internação do presidente foi em setembro de 2019, quando ele passou 10 dias no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, para corrigir uma hérnia incisional. Foi a 4ª intervenção a qual Bolsonaro passou depois da facada durante a campanha eleitoral em 2018. Na primeira, ele passou por sutura de três lesões no intestino delgado e colostomia.
Depois, o presidente passou por desobstrução do intestino delgado, após paredes inflamadas do órgão sofrerem aderência. Em janeiro de 2019, o procedimento foi de retirada da bolsa de colostomia no Hospital Albert Einstein, também na capital paulista.
Apesar disso, Ana Helena Germoglio explica que os procedimentos não devem ser uma fonte de preocupação. “O presidente já não está mais com a bolsa de colostomia, teve acompanhamento durante todo esse tempo, acredito que isso não deve representar um maior risco pra ele.”
As médicas lembraram ainda que a automedicação não é recomendada e que não há estudos “robustos” que comprovem a eficácia de medicamentos como cloroquina e ivermectina. “Até agora não temos nenhum medicamento que, comprovadamente, funcione para essa doença. O que temos são remédios utilizados em casos específicos em pacientes graves para tratar os sintomas”, lembra Germoglio.
Bolsonaro apresentou sintomas de covid-19 na última segunda-feira (6/7). Os relatos são que o presidente reclamou de cansaço ainda no sábado (4), durante a viagem para visitar as áreas devastadas pelo ciclone em Santa Catarina. Na volta, ele participou de almoço comemorativo da Independência dos Estados Unidos e de reunião com ministros e outros membros do poder público. Ninguém usava máscara.
O presidente procurou o Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília, na segunda com 38°C de febre. O resultado dos exames do presidente estavam previstos para sair a qualquer momento nesta terça-feira (7/). Todas as informações foram divulgadas pela própria assessoria do presidente, diferente do que aconteceu em maio quando a justiça determinou à União que desse publicidade ao laudo diagnóstico.
Após receber o resultado positivo, Bolsonaro comentou em uma live durante o anúncio do exame: “Recebi [o resultado] com naturalidade, nao tem que ter pavor, é a vida, a realidade”.