Candidatos de direita caçam eleitores bolsonaristas órfãos

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Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

Com a ausência do Aliança pelo Brasil nas eleições municipais, pré-candidatos a prefeito de São Paulo e do Rio traçam estratégias diversas para conquistar o eleitorado bolsonarista. Na capital paulista, o vice-presidente Hamilton Mourão e uma chapa de vereadores com nomes ligados a movimentos conservadores são as apostas do PRTB, que terá à frente da disputa o ex-presidenciável Levy Fidelix. No campo ideológico oposto, o ex-governador Márcio França (PSB) aposta na relação com policiais militares e, principalmente, no antagonismo ao governador João Doria (PSDB), adversário de Bolsonaro.

No Rio, apesar de não ter o apoio explícito do presidente, que já afirmou que não deve se envolver diretamente na campanha deste ano, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) tenta reverter a baixa popularidade aproximando-se do eleitorado bolsonarista. O prefeito e o diretório do Republicanos no estado abriram as portas do partido para abrigar políticos que se filiariam ao Aliança , partido que Bolsonaro tenta criar.

Outros nomes do PSL, ex-partido de Bolsonaro, buscam demarcar terreno no campo da direita. Os deputados estaduais Rodrigo Amorim e Alexandre Knoploch pretendem compor uma “chapa puro sangue” para disputar a prefeitura .

A ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB), filha do ex-deputado Roberto Jefferson, apoiador de primeira hora do governo, também busca herdar o espólio bolsonarista para o pleito de novembro.

Em São Paulo, o PRTB está com as portas abertas para grupos conservadores.

— Da nossa chapa, que tem 77 pré-candidatos, uns 30 eram do Aliança e do PSL. Vieram todos esses movimentos, como Avança Brasil, Movimento Conservador, NasRuas, Damas de Aço, Mulheres com Bolsonaro — afirma Fidelix.

Como parte desse movimento, o PRTB filiou Edson Salomão, líder do Movimento Conservador, grupo próximo a Eduardo Bolsonaro, e Bruno Zambelli, irmão da deputada federal Carla Zambelli (PSL), uma das principais figuras da tropa de choque do presidente.

O PRTB quer aproveitar a imagem de Mourão para atrair principalmente o voto dos militares. Segundo Fidelix, o general vai atuar como cabo eleitoral.

— Estive com o Mourão nesta semana. Combinamos que ele não vai usar o expediente da vice-presidência, mas nos sábados e domingos ele viajará pelo partido para visitar estados, gravar vídeos, tirar fotos — diz.

Derrotado numa disputa acirrada pelo Palácio dos Bandeirantes, o ex-governador Márcio França (PSB) aposta que pode arrebatar o eleitorado conservador que rompeu com o governador João Doria (PSDB) após embates do tucano com Bolsonaro.

— Eles sabem que sou adversário do Doria. Em 2018, tive 59% dos votos na capital. Entrei num pedaço do eleitorado do Bolsonaro, que é um pouco de funcionalismo militar. Quem votou Doria votou Bolsonaro. E parte desse eleitorado está chateado com ele — diz França.

França tem evitado criticar o presidente. Ele agora tenta se firmar como o principal adversário do atual ocupante do cargo, Bruno Covas (PSDB), seguindo a estratégia de colar a imagem de Doria ao prefeito.

A confiança de França é compartilhada por nomes como a deputada estadual Adriana Borgo (PROS), presidente da Associação dos Familiares e Amigos de Policiais do Estado de São Paulo (Afapesp), e o ex-corregedor da PM, coronel Marcelino Fernandes. Para eles, França terá o apoio da categoria.

— O França valorizou os profissionais de segurança. Se nenhum filho do presidente Bolsonaro concorrer, acho que os policiais vão votar nele — diz ela.

Lideranças conservadoras ouvidas pelo GLOBO não se mostraram consensuais em relação a quem pode representar o “candidato de Bolsonaro” em São Paulo.

Fundadora do movimento Nas Ruas, Carla Zambelli diz que “não tem nenhum nome até o momento”, mas pode apoiar o partido de seu irmão, o PRTB. O Movimento Avança Brasil, a que o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) era ligado, ficará com Levy Fidelix.

Tomé Abduch, líder do NasRuas, afirma que Filipe Sabará (Novo) deve ser o candidato mais próximo dos valores do bolsonarismo. Monarquistas citam o major Costa e Silva como um possível nome, embora ainda não vinculado a nenhum partido. Ele é militar da ativa e pode, portanto, se filiar até o último dia permitido para as convenções partidárias, prazo que já se extinguiu a civis.

O Globo