Caseiro de Wassef vigiava Queiroz para o patrão
Foto: Reprodução
Um empresário de Atibaia que frequentava a casa onde o ex-assessor Fabrício Queiroz ficou hospedado no interior de São Paulo, e cujo dono é o advogado Frederick Wassef, disse que o caseiro do imóvel era olheiro do defensor. A informação reforça os indícios de que o ex-advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) mantinha controle sobre a rotina de Queiroz em Atibaia, ao contrário das declarações iniciais de Wassef, que primeiramente negava ter atuado na proteção e no abrigo de Queiroz e sua família.
— Eu fui algumas vezes lá (na casa). Tinha dois quartos (um deles ficava trancado), um banheiro e uma sala grande. Nos fundos, ficava o caseiro, que era como se fosse um olheiro. Contava tudo para o patrão — afirmou, em entrevista ao GLOBO, o empresário Daniel Bezerra Carvalho, que é dono de uma loja de conveniência no município. — Tudo que acontecia, eu acho que o cara (caseiro) passava para frente. Quem foi, quem não foi ( à casa). Ele (Queiroz) não ficava preso. Não era obrigado a não sair. Mas com certeza os passos dele estavam sendo monitorados por alguém, entendeu? — complementou.
Segundo o empresário, durante o período em que Queiroz ficou em Atibaia, o caseiro Orlando Novaes ficava numa casa nos fundos do terreno e, eventualmente, fazia algum favor para Queiroz, como buscar alguma compra no mercado.
Em vídeo do último réveillon, revelado pelo Jornal Nacional nesta quinta-feira, o empresário aparece ao lado de Queiroz e da mulher dele, Márcia Oliveira Aguiar. Segundo Carvalho, as imagens foram gravadas para desejar “feliz ano novo” a uma amiga do trio: a advogada Ana Flávia Rigamonti, que trabalhava para Wassef.
Ao GLOBO, o empresário disse que Rigamonti, Queiroz e sua mulher, Márcia, costumavam almoçar ou jantar na sua loja de conveniência. Lá surgiu a amizade. Carvalho disse que passou a conviver com Queiroz e que, inclusive, passou a ajudá-lo em algumas ocasiões — como quando diz ter levado Queiroz para fazer uma cirurgia na próstata e um procedimento num dos olhos em clínicas de saúde de Bragança Paulista, município que fica a 25 quilômetros de Atibaia.
O empresário afirmou que conheceu Wassef há sete anos, quando o advogado passou a ser cliente de sua loja de conveniência, mas que só recentemente soube que ele era próximo da família Bolsonaro. Também disse que, logo ao conhecer Queiroz, não sabia que este era um ex-assessor ligado à família Bolsonaro, mas que, ao longo da convivência, ficou sabendo.
— Estou triste que ele (Queiroz) está preso. Ele não merece. O cara estava doente. Não é certo isso. Eu vi a preocupação dele com seus filhos. Ele também não queria prejudicar os Bolsonaro. Eram amigos de longa data. Falou que Bolsonaro é um homem íntegro, assim como Flávio. E disse que é inocente. Também falou que conhece todos os filhos do Bolsonaro desde que eram pequenos — disse Carvalho.
O empresário também disse que Wassef e ele frequentavam o mesmo clube de tiro na cidade, e que chegou a convidar Queiroz para ir ao local. Ele declinou, segundo o empresário, alegando que não queria ser reconhecido.
O empresário disse que se compadeceu com a situação do estado de saúde e com as dificuldades financeiras que Queiroz enfrentava. No entanto, no ano passado, o ex-assessor pagou em dinheiro vivo mais de R$ 130 mil por uma cirurgia de câncer no hospital Albert Einstein.
Segundo Carvalho, a advogada Rigamonti era responsável por ajudar Queiroz a fazer compras de remédios e alimentos. Ela teria deixado de trabalhar no imóvel de Wassef em novembro, quando Queiroz se viu praticamente sozinho em Atibaia, segundo o empresário. Carvalho contou que chegava a levar comida para Queiroz e que o ex-assessor demonstrava muito abatimento poucos dias antes de ser preso.
— Ele (Queiroz) estava muito preocupado nos últimos cinco dias (anteriores à prisão). Estava se preparando para depor, ao MP, mas andava deprimido e quase sem comer — diz Carvalho.
O empresário também disse que nunca ouviu de Queiroz, Márcia ou Ana o codinome “anjo”, que seria um apelido atribuído a Wassef, segundo o Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro. Wassef sempre negou que seja o “anjo”.
— Não perto de mim. Acho que eles falavam isso por WhatsApp. Aqui na loja, eles tomavam muito controle de falar essas coisas (…). Essa coisa de monitorar deve ser coisa (sic) de advogado, de alguma estratégia de defesa. Eu acredito, né? Mas não sei se o anjo é o Fred — afirma o empresário, acrescentando que nunca viu Wassef na casa que serviu de abrigo para Queiroz.
O empresário disse ainda que Queiroz e Márcia tinham uma “mania” de desligar o celular do Rio quando chegavam a Atibaia. Mas, para Carvalho, isso ocorria porque o ex-assessor temia ser encontrado pela imprensa.
— Quando ele (Queiroz) vinha do Rio para São Paulo, eles desligavam o telefone e ligavam o ddd 11, entendeu? Não é que se escondiam da polícia, mas da imprensa. Ele (Queiroz) não tinha medo de ser preso. É uma mania que eles tinham, mas isso é só um detalhe.
Mensagens apreendidas pelo Ministério Público do Rio e divulgadas na quinta-feira mostram que a mulher de Queiroz reclamou da atuação de Wassef para encobrir sua família.
A informação foi revelada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e confirmada pelo GLOBO. Márcia enviou mensagens à advogada Ana Flávia Rigamonti, em novembro do ano passado, afirmando não querer mais viver como “marionete do Anjo”.
Na semana passada, ex-funcionários de um hotel revelaram ao Jornal Nacional que Wasssef pagou a hospedagem de Queiroz no Hotel Faro, em Atibaia, no dia 26 de dezembro de 2018.
O GLOBO confirmou as informações. Na mesma ocasião, Queiroz e Wassef fizeram uma reunião. Em restaurantes de Atibaia, funcionários relataram já terem visto Queiroz e Wassef juntos. O advogado sempre negou ter mantido qualquer contato com o ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
O GLOBO tentou contato com o caseiro Orlando Novaes desde a semana passada, mas ele não foi encontrado para comentar o assunto.
Wassef sempre negou ter monitorado Queiroz, tampouco ter escondido o ex-assessor, já que este não era procurado, nem foragido da Justiça. O advogado diz ser vítima de perseguição e fake news.
“Todo dia sai uma nova mentira contra mim. Narram fatos inexistentes. Permitir o uso de uma propriedade para que uma pessoa se acomode quando bem entenda, que foi o que ocorreu no caso em tela não é esconder, ocultar monitorar etc. Querem criar uma farsa, mas não terão sucesso, pois eu tenho a verdade comigo”, escreveu o advogado, numa mensagem de texto ao GLOBO pelo WhatsApp.
Procurada, Rigamonti não quis falar.