Centrão ameaça governo por falta de verbas
Foto: NAJARA ARAUJO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Às vésperas de votações em que o governo deve ter dificuldade em obter maioria, parlamentares do centrão no Congresso Nacional vêm pressionando o governo para liberar uma nova leva de “verbas extras” para prefeituras.
No início de julho, o Ministério da Saúde liberou R$ 5,7 bilhões a municípios para o combate ao novo coronavírus. O governo permitiu que deputados indicassem o destino de cotas de R$ 10 milhões para diferentes cidades. Os valores publicados, porém, não batem com os que foram acordados, gerando frustração entre parlamentares.
Somou-se a isso a insatisfação com o veto de um trecho importante da nova lei de saneamento, que dava tempo para que estatais adequassem seus contratos. Ao vetar esse trecho, o presidente Jair Bolsonaro rompeu um acordo feito pelo próprio líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
Aliados do líder do PP na Câmara dos Deputados, Arthur Lira (AL), temem que ele possa sofrer desgaste devido ao não cumprimento do acordo da Covid-19 pelo governo, já que vem atuando como um “líder informal” do Planalto. Parlamentares do bloco liderado por ele, que reúne 221 deputados, ameaçam deixar o governo na mão nas próximas votações.
Deputados do baixo clero responsabilizam, principalmente, Lira e Wellington Roberto (PB), líder do PL, pela confusão com a verba de combate ao coronavírus, já que a negociação foi intermediada por eles. Como mostrou o GLOBO, deputados disputam a “paternidade” das verbas porque, ao contrário das emendas parlamentares comuns, elas não estão atreladas formalmente ao nome de quem indicou.
Os líderes de partidos de centro, por sua vez, se queixam de Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, responsabilizando-o pelos acordos não honrados. Alguns citam a possibilidade de permitir que aconteça uma “derrota simbólica” para pressionar Bolsonaro a trocar Ramos por outra pessoa.
Para resolver a situação, parlamentares defendem que o governo faça uma nova liberação de verbas “informais” — não necessariamente na área de Saúde. Em troca, ocorreriam sem percalços as votações previstas para as próximas semanas na Câmara e no Senado.
Estão previstas para breve diversas votações sensíveis para o governo, como a PEC que torna permanente o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e uma série de vetos do governo, que são apreciados em conjunto por Câmara e Senado. Entre eles está a prorrogação da desoneração da folha de pagamento de empresas até 2021, também vetada pelo governo.
Em meio à investida do centrão sobre Ramos, no Palácio do Planalto a relação dele com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e seu número 2, Fabio Wajngarten, é descrita por interlocutores dos dois últimos como “azeda”. Fala-se, inclusive, em uma “articulação” para tirá-lo do cargo. De dentro do governo, um observador próximo aponta para a iminência de embates públicos entre Faria e Ramos.
Nomes eventuais de substitutos do chefe da Secretaria de Governo já têm sido aventados pelo grupo insatisfeito com Ramos, que no mês passado perdeu a Secretaria de Comunicação (Secom), comandada por Wajngarten, para a recém-criada pasta de Faria. No entorno do chefe da Secretaria de Governo, o movimento tem sido lido como uma tentativa do centrão de elevar o preço das próximas votações.
Defensores do ministro fazem questão de lembrar que ele foi elogiado pelo presidente Jair Bolsonaro na live da última quinta-feira.
— O general Ramos é meu amigo desde 1973, tá? E coloquei lá também por seu meu amigo, sim. Ou alguém quer que eu bote inimigo lá? E, devagar, ele tinha uma experiência de três anos de assessoria parlamentar, deu umas caneladas no começo, e hoje em dia faz um trabalho excepcional junto à Câmara e ao Senado Federal — comentou o presidente.