Conheça o “Véio da Havan” made in USA’
Foto: Reuters
A Oi surpreendeu a todos na noite de quarta-feira ao anunciar que fechou acordo de exclusividade com a Highline para negociar a venda de sua operação de celular. Desconhecida dos consumidores, a empresa de infraestrutura desbancou a oferta de Claro, Tim e Vivo, que ambicionavam fatiar a Oi. Por trás da Highline está a gestora americana Digital Colony, braço de investimento em infraestrutura digital de um dos mais controversos bilionários americanos: Tom Barrack.
Neto de cristãos libaneses que fugiram do Império Otomano rumo ao Brasil mas acabaram se fixando nos EUA, Thomas Barrack fundou a gestora Colony Capital em 1991. O plano era comprar ativos imobiliários na baixa, se aproveitando da onda de calotes de hipotecas que ocorria naquele momento.
Quase 30 anos depois, a firma de Los Angeles tem uma carteira de US$ 34 bilhões em ativos, em mercados que vão do Oriente Médio à Europa. Entre os empreendimentos está o mítico rancho Neverland, de Michael Jackson, que foi salvo de um leilão de despejo em 2008 por uma oferta de última hora da Colony Capital. Barrack também socorreu Annie Leibowitz, uma das mais célebres fotógrafas do mundo, com um empréstimo de US$ 24 milhões em 2010. À época, Leibowitz corria o risco de perder para credores três townhouses nova-iorquinos e, mais importante, o direito sobre suas fotos históricas.
Mais recentemente, porém, a reputação de Tom Barrack passou a ser questionada. Primeiro, seu faro comercial foi posto em xeque por uma investigação do “Financial Times” que mostrou que o investidor perdeu dinheiro em todos os 18 fundos que levantou entre 1991 e 2015.
Barrack questionou a metodologia do “FT”, mas o desempenho das ações da Colony fala por si: os papéis derreteram 90% nos últimos cinco anos, sobretudo depois de uma mal-sucedida fusão com a rival NorthStar, em 2017. O fiasco foi tão grande que um dos acionistas minoritários da Colony começou a pressionar pela demissão de Barrack no fim do ano passado.
Daí o movimento de diversificação tentado pela empresa nos últimos anos. Segundo o “FT”, a empresa quer se reposicionar como dona de infraestrutura digital. Em abril deste ano, seu braço Capital Colony comprou os data centers do Grupo Folha, controlados pela unidade UOL Diveo. No ano passado, já havia comprado 100% da Highline do Brasil, por meio da qual fez o lance de mais de R$ 15 bilhões pela telefonia móvel Oi, além de uma oferta de mais de R$ 1 bilhão pela unidade de torres da operadora carioca.
O envolvimento de Barrack com o governo Trump também tem sido alvo de questionamentos. Segundo a imprensa americana, ele está sendo acusado de tentar influenciar a política externa dos EUA para o Oriente Médio com o objetivo de favorecer seus próprios negócios.
Os laços com Trump, outro magnata imobiliário, foram nutridos ao longo de três décadas. Foi a Colony que, no fim dos anos 1980, ajudou na venda do Plaza Hotel de Nova York para Trump por quase US$ 410 milhões. Os dois eram confidentes a ponto de Barrack consolar Trump no enterro do pai Fred, como lembrou o site “Politico”. Quando Trump foi eleito, o colega presidiu seu comitê de posse.
Mas as suspeitas de que Barrack estava se valendo do acesso a Trump para alavancar seus negócios teriam azedado a amizade, segundo o “Politico”. Um comitê da Câmara americana mostrou indícios de que Barrack estava colaborando com outros grupos de Wall Street para um negócio ilegal: usar dinheiro saudita clandestinamente para comprar a fabricante de reatores nucleares Westinghouse.
Com essas suspeitas, governo decidiu não indicar Barrack como enviado ao Oriente Médio, cargo que ele almejava. Os dois magnatas também teriam deixado de se falar.