Eduardo Bolsonaro entra na onda “paz e amor”
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Criado em fevereiro no YouTube com a proposta de fazer o eleitor bolsonarista “conhecer de perto a verdadeira revolução que vem ocorrendo no país”, o programa de entrevistas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) expõe a mudança de postura do Palácio do Planalto nos últimos 30 dias. E revela que o novo estilo, evitando confrontos, começa a chegar ao filho que, em maio, cogitou uma ruptura institucional após o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar buscas contra aliados do presidente Jair Bolsonaro.
Nas 13 edições de “O Brasil precisa saber” assistidas pelo GLOBO — com episódios que duram em média 40 minutos —, saíram de cena os discursos ideológicos e contra as instituições. As conversas até pouco tempo eram permeadas por falas como “quero destruir essa imprensa por inteiro”, dita pelo blogueiro Allan dos Santos, investigado no inquérito do STF sobre fake news; ou de ataques do ideólogo Olavo de Carvalho contra a prática de “dialogar respeitosamente” com membros da oposição ou de negociar com o Congresso (“não confie em conselheiros pragmáticos”). Tudo endossado por Eduardo Bolsonaro com sinais de concordância ou até mesmo risadas.
No último mês, contudo, abriu-se espaço para falas de conciliação de ministros. Foi possível ouvir no talk show, falas como: “Temos o melhor relacionamento possível com tribunais superiores”, disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira; “Vamos pacificar essa história de esquerda e direita, acalmar e achar um centro de gravidade”, defendeu o novo secretário da Cultura, Mário Frias.
Há também clara estratégia de mostrar mais as realizações do governo do que em um passado recente. Há seis dias, o presidente da Embratur, Gilson Machado, esteve no programa enaltecendo junto com Eduardo o auxílio de R$ 600 pagos durante a pandemia: “Somos um governo de poucas palavras e muita ação e resultado em números”, disse Machado com a concordância do deputado. Há um mês, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, listou para Eduardo uma série de obras feitas por sua pasta. A propósito, a tônica de expor realizações do governo na internet também tem sido adotada pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), em uma clara guinada de postura nas redes sociais em sintonia com o pai.
Eduardo costuma lembrar que inventou o talk show na internet para expor verdades sem distorções. Há assuntos, contudo, que nortearam o debate nacional nos últimos meses que jamais apareceram nas entrevistas do deputado. Entre elas, as investigações envolvendo Fabrício Queiroz, ex-assessor do seu irmão, o senador Flávio Bolsonaro; e as acusações, feitas pelo ex-ministro Sergio Moro, de interferência na Polícia Federal pelo presidente Jair Bolsonaro.
Moro, aliás, foi o entrevistado de estreia de Eduardo em fevereiro com um tom bem diferente do usado na entrevista recente com Jorge Oliveira. O deputado criticou duramente o ex-ministro com relação ao seu posicionamento contra a agenda de flexibilização armamentista do governo no ano passado: “A pessoa que era o maior entrave para isso virou blogueiro”, alfinetou Eduardo com relação à coluna que Moro agora assina quinzenalmente em uma revista eletrônica. Há cinco meses, o ex-ministro foi tratado por Eduardo no programa como uma “referência de caráter para o governo”.