Esvaziamento do Centrão provoca paralisia em votações
Foto: Maryanna Oliveira/Agência Câmara
O Palácio do Planalto decidiu agir com cautela em relação à divisão do bloco dos partidos de centro na Câmara dos Deputados. A estratégia, no primeiro momento, é deixar que as próprias legendas resolvam suas disputas por espaço na Casa. Apesar de minimizar o desembarque dos 63 deputados do MDB e do DEM do maior bloco parlamentar da Câmara, com o qual tentava assegurar uma base para votações, o governo terá de trabalhar agora com a maior fragmentação para angariar apoio.
Um integrante do Planalto diz que o governo está cauteloso e espera as votações para avaliar se vai precisar alterar a forma de conduzir as articulações. Em fevereiro, Bolsonaro foi convencido a redistribuir cargos de estatais e bancos oficiais para o centrão, numa tentativa de montar uma base sólida de votações no Congresso. Apesar de a distribuição de cargos ter ocorrido — além das emendas parlamentares liberadas —, o governo nunca conquistou 100% de fidelidade dos partidos nas votações do Congresso.
O DEM e o MDB anunciaram anteontem que vão deixar o bloco liderado por Arthur Lira (PP-AL). O grupo vai encolher de 221 para 158 deputados federais com a movimentação. Assim, o governo terá de negociar as próximas propostas, como a reforma tributária, com mais grupos políticos. A divisão interna nos partidos de centro já vinha ocorrendo na prática, mas agora ela se formalizou.
O governo não pretende fazer gestos imediatos, como acenar com mais cargos e verbas, no esforço para que os dois partidos voltem para o bloco de Lira. Integrantes do Executivo dizem que essas legendas têm espaços conquistados e, portanto, cabe a elas demonstrarem fidelidade para mantê-los. Caso isso não ocorra, suas indicações podem ser reavaliadas.
— Mantemos o canal de diálogo aberto com o governo, como sempre tiveram conosco, e nas matérias que nós temos identidade, vamos brigar para aprovar — diz o líder do DEM, Efraim Filho (PB), sobre a saída de seu partido do bloco liderado por Lira. — A relação com o governo continua aberta, mas com liberdade e autonomia para divergir naquilo que a gente discorda, como na pauta ambiental.
Lideranças da Câmara ouvidos pelo GLOBO avaliam que o movimento simboliza um afastamento entre os dois partidos e Lira, já que ele vem atuando como líder informal do governo e se aproximou do presidente Jair Bolsonaro. O afastamento dos partidos antecipa as articulações em torno da eleição para a presidência da Câmara, no início do ano que vem, na qual Lira deve ser candidato. O movimento, além de enfraquecer a candidatura dele, fortalece outros nomes cotados para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ), como o líder do MDB, Baleia Rossi (SP), e o deputado Fernando Bezerra Filho (DEM-PE).
A votação da prorrogação do Fundeb, que financia a educação básica, explicitou, na semana passada, a guerra interna na Câmara. Lira acabou derrotado ao atuar como articulador do governo e tentar adiar a votação duas vezes. Prevaleceu a vontade de Maia, que agora ganha força para eleger um nome que tenha seu apoio à presidência da Câmara.
Em reunião com líderes partidários, ontem, com a presença de representantes do PSC, Patriota, PSD, PROS, PL e Avante, Lira minimizou a saída do DEM e MDB de seu bloco. Os partidos presentes se comprometeram a continuar ajudando o governo nas votações, independentemente da composição formal dos blocos na Câmara dos Deputados.
Em mais uma derrota para Lira, no entanto, o PTB e o PROS também decidiram deixar o bloco. As duas legendas formarão um grupo com PSL e PSC — ao todo, são 71 parlamentares.
— A gente está conversando há algumas semanas, e a ideia é que a gente possa ter mais força unindo esses partidos, para ter o fortalecimento das bancadas e conseguir mais relatorias. Só falta formalizar. Será na próxima semana ou na seguinte. Já está acertado — afirma o líder do PSL, Felipe Francischini (PR).
Integrantes fazem questão de dizer que a nova configuração não é uma retaliação a Lira.
— Nós estamos conversando com os quatro partidos para formar um novo bloco dentro da Câmara. Nada contra governo e nada contra Arthur (Lira), ao contrário — disse André Ferreira (PE), líder do PSC.