Marinho acusa Bolsonaro de saber de vazamento
Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Em depoimento no inquérito que investiga suposto vazamento da Operação da Polícia Federal que atingiu Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o empresário Paulo Marinho confirmou que o presidente Jair Bolsonaro foi alertado pessoalmente por Gustavo Bebianno sobre a gravidade do caso, como ele havia dito em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Segundo Marinho, ele ligou para Bebianno, ainda no dia 13 de dezembro para relatar a gravidade dos fatos. A data é a de sua reunião com Flávio e Victor Granado Alves, quando soube pelo próprio senador do vazamento da operação. O empresário já havia feito as declarações em sua entrevista para a Folha de S.Paulo, quando falou pela primeira vez sobre o caso.
“Essa história é mais grave do que parece, eu acho importante você informar ao presidente. Ele (Bebianno) ai desligou, agradeceu. Ele (Bebianno) depois liga e me diz: ‘entrei na sala do presidente, no escritório da transição, chamei, tinha muita gente com o presidente, falei ‘é urgente, ele (Bebianno) tinha intimidade total com o presidente, ‘levei o presidente pro banheiro da sala e fiquei com ele dez minutos dentro do banheiro contando pra ele a história que você [Marinho] me contou. O presidente me pediu que voltasse para o Rio para acompanhar esse assunto’”, contou Marinho durante o depoimento.
O Ministério Público Federal apura a denúncia de que o senador Flávio Bolsonaro foi avisado com antecedência sobre a Operação Furna da Onça, que atingiu Queiroz. A investigação foi iniciada após entrevista de Paulo Marinho ao jornal Folha de S.Paulo, quando o empresário e ex-aliado da família Bolsonaro contou que Flávio disse que foi avisado da operação por um delegado da PF e que a ação a foi adiada para que não ocorresse durante o segundo turno da eleição presidencial e atrapalhasse a campanha do então candidato Jair Bolsonaro.
Marinho prestou depoimento no dia 21 de maio, após denunciar o vazamento. Segundo o empresário, o vazamento da operação teria provocado, em outubro de 2018, a exoneração de Queiroz do gabinete de Flávio e a filha dele, que era lotada no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
Ainda de acordo com Paulo Marinho, foi o próprio senador que o procurou para contar sobre o episódio do vazamento depois que o caso veio à tona em dezembro de 2018. Na ocasião, ele estava acompanhado de Victor Granado Alves, então assessor de Flávio. O advogado — junto com a ex-assessor Valdenice Meliga e atual chefe de gabinete de Flávio Miguel Angelo Braga,também teria se encontrado com o delegado da PF que passou as informações da operação, segundo o empresário.
“O Braga fala com o Flavio, o Flavio designa então que o Braga, o Victor e a Val fossem ao encontro dessa pessoa para saber do que se tratava. E aí fizeram contato e marcaram um encontro na porta da Polícia Federal. Este suposto delegado disse aos três ou disse ao braga: ‘Vocês, quando chegarem, me telefonem que eu vou sair de dentro da Superintendência, até para você ver que sou um policial que estou lá dentro, e lá fora a gente conversa'”, afirmou Marinho no depoimento.
“E aí esse delegado disse a eles: ‘Essa operação vai alcançar o Queiroz e a filha dele. Estão no seu gabinete e no gabinete do seu pai. Tem movimentação bancária e financeira suspeita. E nós estamos aqui… eu estou… eu sou simpatizante do seu pai, do Bolsonaro, e vamos tentar não fazer essa operação agora entre o primeiro e o segundo turno para não criar nenhum embaraço durante a campanha'”, relatou Marinho.
Em depoimento ao Ministério Público do Rio, o senador Flávio Bolsonaro afirmou desconhecer vazamento de informações da operação policial. Em nota, a defesa do senador afirmou que Paulo Marinho tem o objetivo de manipular a justiça em benefício, que o parlamentar já prestou todos os esclarecimentos a respeito do tema e negou tudo o que foi dito por Marinho.
“As afirmações de Paulo Marinho têm objetivo simples: manipular a Justiça em interesse próprio. Marinho parece desesperado por holofotes e por um cargo público. Inventa narrativas para tentar ocupar uma vaga no Senado sem passar pelo crivo das urnas. A defesa informa ainda que o parlamentar já prestou todos os esclarecimentos a respeito do tema. E o senador nega, categoricamente, o que foi dito por Marinho”.