Militares temem que Bolsonaro “segure” Pazuello
Foto: EB
Integrantes da ativa e da reserva do Exército demostraram preocupação com a indicação do presidente Jair Bolsonaro na noite desta quinta-feira (16) de que o general Eduardo Pazuello deve seguir no comando do Ministério da Saúde.
Em uma transmissão ao vivo na internet, Bolsonaro garantiu a permanência no governo de Pazuello e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: “Salles fica. Pazuello fica. Sem problema nenhum. São dois excepcionais ministros”, disse.
O presidente afirmou ainda que Pazuello é “a pessoa certa no lugar certo”. O ministro comanda interinamente o Ministério da Saúde há mais de dois meses.
Para integrantes do Exército, mesmo com o movimento de Bolsonaro para manter Pazuello na Saúde, há incertezas sobre a situação.
Primeiro, pelo enorme desgaste na imagem do Exército por ter um general da ativa comandando uma política de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus questionada internacionalmente.
A outra questão é sobre a indefinição da própria situação de Pazuello no Exército. Ainda não houve uma comunicação de que ele vai antecipar a transferência para reserva e, assim, separar sua função no governo das próprias Força Armadas. Essa incerteza preocupa os generais.
“Pazuello ainda tem o prazo até 2022 para ir para reserva. Se ele antecipa, ficará na chuva, pois não tem garantia nenhuma de que será mantido como ministro da Saúde até o fim do governo. Pelo contrário. Para isso, basta começar a ser atacado pelos filhos [de Bolsonaro]. Foi assim com [general] Santos Cruz. O próprio [general Augusto] Heleno, também sofreu ataques. E até [vice-presidente] Mourão. O [ministro Luiz Eduardo)] Ramos demorou para pedir transferência para reserva por causa dessa incerteza”, alertou ao blog um general de quatro estrelas.
A avaliação até mesmo entre aliados é a de que Bolsonaro resiste em tirar Pazuello e Salles neste momento por ser uma forma de admitir publicamente que errou no combate à pandemia e na política ambiental do seu governo. Isso porque os dois ministros cumprem cegamente as determinações do presidente.
Salles tem sido criticado justamente por colocar em prática a flexibilização da política ambiental. Mas, no próprio governo, ministros reconhecem ser um risco manter na pasta um símbolo desse desmonte, principalmente com toda a pressão internacional pelo combate ao desmatamento na Amazônia.
A pressão externa e interna pela saída de Salles tem acontecido desde a divulgação de declarações dele na reunião ministerial de 22 de abril. Na ocasião, ele disse que o governo deveria aproveitar as atenções da imprensa voltadas para a pandemia para passar a “boiada” na questão ambiental.