Mulher de Queiroz diz que Wassef é o “anjo”
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O Ministério Público do Rio tem em mãos um áudio que vincula diretamente o nome do advogado Fred Wassef com o apelido “Anjo”, nome da operação que prendeu Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Até agora, haviam sido divulgadas apenas mensagens de texto de familiares de Queiroz usando a expressão, mas sem vínculo direto ao nome do advogado. Desde o mês passado, Wassef vem negando que seja conhecido como “Anjo”.
Em 31 de outubro do ano passado, Marcia Aguiar, mulher de Queiroz, enviou mensagens para o advogado Luiz Gustavo Botto Maia demonstrando preocupação com um áudio de Queiroz publicado pelo GLOBO. Nele, o ex-assessor de Flávio explicava a um interlocutor os mecanismos sobre nomeações no Congresso mesmo estando afastado da política desde a exoneração da Assembleia Legislativa do Rio em outubro de 2018: “tem mais de 500 cargos, cara, lá na Câmara e no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles (família Bolsonaro) em nada”, disse. “Como está a temperatura desses áudios?”, perguntou Marcia a Botto, que respondeu em seguida: “Bom dia, minha amiga. Tudo bem? Agora nem se fala mais nisso”.
No dia seguinte, às 13h55, Marcia enviou para Botto uma foto de Queiroz dormindo e o seguinte áudio, que pela primeira vez cita Fred Wassef e Anjo em uma mesma frase. “Ele e Felipe foram levar a Ana (Flávia Rigamonti, advogada que trabalhava com Wassef) em São Paulo porque o Anjo queria falar com ela. Aí ele disse que deixou a Ana lá na casa do Fred e quando estava indo embora, falou: ‘Felipe, vamo para o Rio? Vieram para o Rio sem mochila, sem nada. E chegou hoje de manhã aqui, mas pediu para não falar com ninguém não que ele tá aqui”. Botto Maia riu das imagens e do áudio e respondeu por mensagem de texto: “Maluco. Mais tarde vamos tomar cerveja”.
Em três momentos anteriores, o MP já havia encontrado mensagens com a referência ao apelido “Anjo”, mas sem o vínculo a Wassef.
Em uma conversa datada de 21 de novembro do ano passado, Márcia perguntou a Queiroz: “Anjo falou alguma coisa?”. Ele, cujo contato estava salvo como “Casa Q” no celular dela, respondeu: “Não” e, em seguida, completou: “Ele tá que (sic) em Brasília”.
Dias depois, no dia 24 de novembro, às 13h54, Márcia pergunta a Queiroz novamente: “Está na casa do Anjo?” E Queiroz responde: “Estamos”. Márcia então questiona se eles dormiram lá: “Dormiram na casa dele ou no hotel?” e Queiroz escreve: “Sem bateria, 1%. Dormimos”.
Em 2 de dezembro, uma semana depois, outra troca de mensagens mencionou o apelido. Márcia perguntou “Anjo já foi?” e recebeu como resposta de Queiroz: “Já”. Dias depois disso, Márcia foi encontrar a Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano Nóbrega, em Astolfo Dutra, Minas Gerais. Para o MP, eles foram discutir um plano de fuga.
Em entrevista ao “Jornal Nacional” da TV Globo, a advogada Ana Flávia Rigamonti contou que trabalhou para Wassef no ano passado e conviveu com Queiroz na casa de Atibaia. Na ocasião, ela disse que sempre chamou o chefe de “Doutor Fred”. Mas, ao ser questionada se entre ela, o Queiroz e a Márcia, alguma vez eles se referiram a Wassef como “Anjo”, ela não disse: “Bom, essa pergunta eu prefiro não responder.”
Gustavo Botto, como é conhecido, atuou como advogado de Flávio em causas eleitorais às vésperas das eleições de 2018. Em dezembro daquele ano, ele disputou uma “pelada” de fim de ano no Maracanã ao lado de Flávio.
Ele foi apontado pelo MP em situações com ex-funcionários de Flávio na Alerj que, para os investigadores, podem caracterizar obstrução de Justiça. Botto se juntou à mulher de Queiroz, Márcia de Oliveira Aguiar, em uma visita no fim de 2019 a Raimunda Magalhães Veras, mãe do miliciano Adriano da Nóbrega, em Astolfo Dutra (MG). Segundo o MP, o encontro serviu para combinar um “plano de fuga” em caso de avanço das investigações da rachadinha, retomadas naquela época após sinal verde do Supremo Tribunal Federal (STF).
Também foi Botto, segundo o MP, que atuou para adulterar a folha de ponto de Luiza Souza Paes, classificada como “assessora fantasma” pelos investigadores. Botto convenceu Luiza e seu pai, o policial Fausto Antunes Paes, amigo de Queiroz, de que não havia problema em ir à Alerj, no início de 2019, para assinar retroativamente o ponto de 2017.
Por esses fatos apontados, o MP pediu busca e apreensão em seus endereços durante a operação Anjo em junho e pediu o afastamento dele das funções públicas na Alerj, o que já ocorreu. Botto Maia era assessor parlamentar do deputado estadual Renato Zaca (sem partido).
Procurado, Frederick Wassef disse que não possui apelido de anjo e nunca foi chamado assim. “Após a prisão de Queiroz, apareceram vários outros personagens que deram entrevistas e afirmaram que estavam com ele direto e o ajudavam e cuidavam dele. Estas pessoas se encaixam com perfeição no papel de anjo”, afirma a nota.
Já Paulo Emílio Catta Preta, que defende Fabrício Queiroz e sua família, disse pensar que questionamentos sobre as conversas “devem ser respondidos pelo Frederick”.
Íntegra da Nota de Frederick Wassef
Jamais abriguei Queiroz ou qualquer pessoa de sua família em qualquer propriedade minha ou de conhecidos meus na cidade de São Paulo. Não estive com Queiroz ou seu filho no referido endereço e nem levei ninguém lá. Minha ex-companheira não tem e nunca teve qualquer relacionamento com Queiroz e sua família assim como também nunca teve relacionamento com a família Bolsonaro. Ela não conhece Michele Bolsonaro e nunca estiveram juntas. Ela nao tem nada que ver com a minha profissão e meus clientes. Ela nada tem a ver com nenhum assunto ou tema relacionado a mim ou ao Presidente da República com quem nunca teve relação de amizade.
Ela é apenas, assim como eu, uma vítima desta campanha suja de mentiras e fake news. De forma criminosa e proposital alguma autoridade pública do Rio de Janeiro está vazando a conta gotas “supostas” informações de um procedimento que está em segredo de justiça. Se após uma perícia, ficar provado que, de fato, tais mensagens de celular não foram fraudadas ou manipuladas, elas devem ser analisadas dentro do contexto e na íntegra. Nunca tive acesso a este material, e não sei do que se trata. Sempre o Grupo Globo tem informações vazadas de autoridades que nem mesmo a defesa técnica teve acesso e isto deve ser investigado pelo Ministério Público do Rio e pelo CNMP. O filho de Queiroz nunca foi investigado e a apreensão de seu celular é ilegal e arbitrária, o que acarretará futuras nulidades.
Conforme inúmeras reportagens mostraram, após a prisão de Queiroz, apareceram vários outros personagens que deram entrevistas e afirmaram que estavam com ele direto e o ajudavam e cuidavam dele. Estas pessoas se encaixam com perfeição no papel de anjo. Nunca tive apelido de anjo e nunca fui chamado assim por ninguém. Após 2 anos e meio de investigação sem obter nada, pescam supostas mensagens de cel fora de contexto e tentam criar fantasias sobre as mesmas.