Novo ministro da Educação promete “diálogo”
Foto: Isac Nobrega/PR
Ao tomar posse, ontem, como ministro da Educação, Milton Ribeiro defendeu o “diálogo com acadêmicos e educadores” — em claro contraponto ao polêmico período de Abraham Weintraub à frente do MEC —, a valorização dos professores, a laicidade do ensino público. Também aproveitou a oportunidade para desmentir que, em algum momento da sua trajetória profissional, tenha concordado com a violência física na educação. O presidente Jair Bolsonaro participou virtualmente da cerimônia — seu segundo exame para a covid-19, realizado anteontem, deu positivo — e assinou a nomeação do Palácio da Alvorada.
No discurso, Ribeiro fez questão de salientar que é uma pessoa de diálogo e que, possivelmente, dará início a uma nova fase no ministério, sem radicalismos e, sobretudo, sem manifestações ideológicas. Indicou isso ao afirmar que “precisamos resgatar o respeito pelo professor”.
“Devido à implementação de políticas e filosofias educacionais equivocadas, em meu entendimento, é que desconstruíram a autoridade do professor em sala de aula. O que existe, agora, por muitas vezes, são episódios de violência física de alguns alunos contra o professor”, observou.
Assim como Ribeiro, Bolsonaro destacou que será importante estreitar a relação entre o MEC e os docentes. O presidente disse que os educadores precisam ser valorizados e comentou que “os professores são, praticamente, os nossos segundos pais, aqueles a quem devemos respeito e conhecimento por aquilo que nos ensinam”.
“Nós temos que resgatar isso. No meu tempo de estudante, o professor não só tinha, como exercia sua autoridade na sala de aula. Não é fácil a vida de professor nos dias atuais. (Outros governos) tentaram consertar, mas, na verdade, se equivocaram. Existe, hoje em dia, uma gama enorme de excelentes e excepcionais professores, de todos os níveis, no Brasil. Com toda a certeza, a chegada de um ministro voltado para o diálogo, usando a sua experiência e querendo o melhor para as crianças, esse entendimento se fará presente”, destacou Bolsonaro, salientando, também, a virada de visão no MEC no relacionamento com a comunidade acadêmica.
Ribeiro, por sua vez, destacou a importância de ouvir os acadêmicos e educadores, de melhorar a posição do país no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e de incentivar cursos profissionalizantes para que sejam uma “ponte” para os estudantes jovens ao mercado de trabalho.
Mas o quarto ministro da pasta na gestão Bolsonaro não tocou em assuntos considerados urgentes do setor: o novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que precisa ser aprovado no Congresso; as novas datas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); a retomada das aulas presenciais; e os desafios da desigualdade no ensino impostos pela pandemia de covid-19.
O presidente lembrou Ribeiro que a Educação “é um ministério grande, complexo, com autonomias e setores, dependendo, muitas vezes, de conselhos para tomar decisões”. Também lembrou que “não é fácil a vida do ministro” e que depende dele “grande parte do futuro da nossa nação”.
O contraponto ao período Weintraub permeou toda a cerimônia de posse. Bolsonaro disse ao ministro, “pode ter certeza (que) grande parte do ministério pensa como você. E eles, agora, na tua pessoa, terão como fazer valer o seu potencial para que venhamos, então, a dar o melhor do seu ministério para o Brasil. Fato esse que nos libertará”, salientou.
Sobre declarações que supostamente incentivou a violência como parte do processo educacional, Ribeiro foi enfático. “Jamais falei em violência física na educação escolar e nunca defenderei tal prática, que faz parte de um passado que não queremos de volta”, disse, em alusão a um vídeo, de 2016, no qual, na condição de pastor durante um culto, defende que a dor deve ser usada para educar crianças. A gravação circula desde que foi anunciado como novo ministro da Educação, na sexta-feira passada.
“Conquanto tenho a formação religiosa, o compromisso que assumo hoje (ontem) ao tomar posse, está bem firmado e bem localizado em valores institucionais, da laicidade do Estado e do ensino público. Assim, Deus me ajude”.
Maia ironiza tuíte de Weintraub “super-herói”
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), ironizou, ontem, uma postagem do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, no Twitter. No post, o ex-titular do MEC publicou uma montagem de uma foto na qual o boneco do super-herói Homem de Ferro aparece com o seu rosto. Na falsa caixa do brinquedo está escrito “Ministro de Ferro”, acompanhado do seguinte texto. “Estão analisando a viabilidade do brinquedo. Evita que seu filho vire comunistinha de cabelo roxo e piercing no mamilo”, escreveu Weintraub.
A postagem foi feita no mesmo dia em que Milton Ribeiro assumiu o cargo de ministro da Educação com um discurso que em nada fez lembrar os tempos de Weintraub no MEC. Em tom de provocação, Maia alfinetou o ex-ministro: “Será que o compliance do Banco Mundial já viu esse tuíte?”, provocou o presidente da Câmara.
A observação do deputado se soma às várias manifestações contrárias à indicação de Weintraub, pelo governo Bolsonaro, para ocupar, interinamente uma diretoria no Bird. Inicialmente, um grupo de intelectuais, empresários e diplomatas, liderado pelo ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, elaborou documento condenando a ida do ex-titular do MEC para o Banco Mundial com base na sua baixa qualificação técnica para o cargo. Dias depois, uma carta aberta de funcionários do organismo internacional pedia que a Comissão de Ética do Bird rejeitasse a indicação de Weintraub por causa de manifestações consideradas racistas —referia-se ao tuíte no qual ele debochou da suposta maneira de os chineses falarem o português.
Logo após deixar o MEC, Weintraub saiu do Brasil num episódio no qual a exoneração estava datada depois da ida para os Estados Unidos, onde entrou com passaporte diplomático —pois ainda era representante do governo brasileiro. Porém, o Palácio do Planalto alegou que houve um engano e retificou a demissão para um dia antes da viagem. O ex-ministro é investigado no inquérito que apura ofensas ao Supremo Tribunal Federal, com base em vídeo da reunião ministerial de 22 de abril passado, quando disse que os ministros da Corte eram “vagabundos”.